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Autor de fake news: 'Não sei por que Bolsonaro publicou. Não tenho contato'

O procurador Felipe Gimenez defende o voto impresso na Assembleia Legislativa de MS - Reprodução/TV Alems
O procurador Felipe Gimenez defende o voto impresso na Assembleia Legislativa de MS Imagem: Reprodução/TV Alems

Do UOL, em São Paulo

11/01/2023 16h07Atualizada em 13/01/2023 08h06

Casado, evangélico e defensor do voto impresso, o procurador Felipe Marcelo Gimenez virou notícia depois que Bolsonaro retuitou —e apagou— um vídeo em que ele mente ao dizer que Lula não foi eleito pelo voto popular. Lula foi eleito legitimamente com 50.9% dos votos válidos.

Ao UOL, Gimenez explicou como o vídeo surgiu e negou relação com o ex-presidente. "Eu não publiquei o vídeo. Fui entrevistado por uma rádio da minha cidade e, de fato, eu fiz aquela afirmação. Mas tem um contexto."

Não sei por que ele [Bolsonaro] publicou na rede dele, não tenho contato com ele.
Felipe Marcelo Gimenez, procurador

Jair Bolsonaro compartilha e apaga vídeo com fake news questionando eleição de Lula - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Jair Bolsonaro compartilha e apaga vídeo com fake news questionando eleição de Lula
Imagem: Reprodução/Facebook

Questionado se sustenta a frase, o procurador não quis comentar. Disse que o assunto era muito complexo e que a reportagem precisava ter "domínio do assunto, do que é democracia e sufrágio universal". Após insistência, disse que a contextualização estava na frase seguinte à que veio a público.

O UOL ouviu a entrevista. Após dizer que Lula não foi eleito pelo povo, Gimenez afirma que, com o voto eletrônico, o cidadão "não vê a apuração dos votos, não vê nem o seu voto".

"Como você pode ter a certeza de que uma imagem que um software mostra numa tela pra você é igual ao que saiu da sua consciência, um software que não foi criado por você. O Estado é laico, ninguém é obrigado a confiar em servidor público", disse.

O UOL já demonstrou nesta reportagem como a urna eletrônica funciona e por que ela é confiável.

Quem é Felipe Gimenez?

Servidor de carreira, Gimenez completa em agosto 29 anos de atuação na Procuradoria Geral do Estado. Com salário bruto de R$ 53,7 mil, o procurador é considerado "excêntrico" e "desgarrado" de seus colegas. "Ele mais milita do que atua", segundo um interlocutor.

Felipe Gimenez - Reprodução - Reprodução
Felipe Gimenez durante entrevista polêmica à Rádio Hora
Imagem: Reprodução

Nascido em Porto Murtinho (439 km de Campo Grande), Gimenez é de fato antigo defensor do voto impresso, causa que defende antes mesmo de Bolsonaro.

O procurador já sustentou o argumento em órgãos públicos, como em uma comissão do Senado. A cinco dias do segundo turno das eleições, ele ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa de seu estado para defender a "contagem pública de votos", após convite do deputado bolsonarista João Henrique Catan (PL).

Seguidor do escritor Olavo de Carvalho (1947-2022), Gimenez é aliado da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já o convidou para uma live em maio de 2021, quando o apresentou como "especialista em transparência eleitoral".

Gimenez também defendeu a manutenção do acampamento bolsonarista em frente ao Comando Militar do Oeste, em Campo Grande, montado no dia 31 de outubro, um dia após a eleição de Lula.

Gimenez omite sua ocupação nas redes sociais, com cada vez mais fãs. Com 10,2 mil seguidores, ele se define como "escritor" no Instagram. No Twitter —onde afirma atuar em "ciência e tecnologia"—, saltou de 13,8 mil para 17,8 mil seguidores em apenas dois meses.

Ao se identificar, usa uma frase bíblica: "Bendito seja o Senhor, meu rochedo, que adestra minhas mãos para a guerra. Salmos 144:1".

Honestamente, não tenho interesse em publicidade, nem tenho pretensão política. Sou um cidadão com visão.
Felipe Gimenez, procurador