Para afastar bolsonaristas, Lula demitiu mais de 150 militares do governo
Uma marca dos primeiros 30 dias do terceiro mandato do presidente Lula (PT) foi a de exonerações. São mais de 1.200 servidores demitidos do governo federal desde 1º de janeiro de 2023. A maioria ocupava cargos comissionados na gestão de Jair Bolsonaro (PL), sendo ao menos 155 militares, e foi dispensada pelo Ministério da Casa Civil como parte da estratégia de tirar "bolsonaristas raiz" do governo.
Os militares exonerados ocupavam postos da inteligência na Presidência da República, na vice-presidência e no GSI. Os dados foram coletados pelo UOL nas edições de janeiro do Diário Oficial da União.
Em 3 de janeiro, o ministro Rui Costa assinou a exoneração de 1.204 servidores do "miolo da pirâmide de cargos no Brasil", segundo ele mesmo disse. Esses cargos em ministérios e na administração pública já foram preenchidos.
Atos golpistas de 8 de janeiro impulsionaram 'faxina' em militares. Já no meio militar, as exonerações foram intensificadas, principalmente, depois dos atos terroristas, em Brasília, que deixaram as sedes dos Três Poderes vandalizadas. Após o episódio, ao menos 155 militares receberam dispensas de cargos no governo —além da demissão do então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, em 21 de janeiro.
A maioria dos demitidos era do Gabinete de Segurança Institucional e da Secretaria de Administração da Presidência, órgão ligado à Segov. Esses militares haviam chegado aos postos durante a gestão Jair Bolsonaro (2019-2022) e foram alvo de desconfiança pela falha na segurança do Palácio do Planalto durante a manifestação bolsonarista.
Havia a expectativa de "desmilitarização" das duas áreas, mas Lula já nomeou 133 homens das Forças Armadas para os cargos vagos no GSI, na Presidência e na Vice-Presidência. Entre eles, o general Ricardo José Nigri para o posto de secretário-executivo do GSI, o número 2 da pasta.
Lula também pediu a demissão de coronel filmado em ato golpista. Mais mudanças devem alcançar também o BGP (Batalhão de Guarda Presidencial). Lula pediu a exoneração do coronel Paulo Fernandes da Hora, filmado tentando impedir a prisão de golpistas em 8 de janeiro. O pedido só foi atendido na quarta-feira (25), já que cabe ao comando do Exército nomear os integrantes do BGP. O novo comandante é o general Tomás Ribeiro Paiva.
Outras demissões
Diante da crise humanitária no território yanomami, Lula também exonerou outros nomeados em cargos de gestão por Bolsonaro:
- 20 das 26 superintendências do Ibama.
- 33 coordenadores da Funai e 11 coordenadores distritais de saúde indígena do Ministério da Saúde.
Além disso, Lula trocou pessoas em cargos de gestão na PRF e PF e barrou indicados para embaixadas:
- 26 diretores regionais da Polícia Rodoviária Federal.
- 18 diretores regionais da Polícia Federal nos Estados.
- Anulação de 18 indicações feitas por Bolsonaro para cargos em órgãos e embaixadas brasileiras no exterior. Os nomes aguardavam a sanção do Senado.
Houve trocas também nos comandos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), da Biblioteca Nacional, do Ibram (Instituto Brasília Ambiental) e da Funarte (Fundação Nacional de Artes).
Triagem de militares é tratada abertamente por Lula
O governo Lula (PT) tem usado de várias estratégias para mapear os funcionários comissionados por Bolsonaro e dispensar os que são os "bolsonaristas raiz".
Segundo pessoas ligadas ao governo, não há um modus operandi específico para a "desbolsonarização", mas dois pontos são levados em conta:
- Declarações feitas publicamente;
- Posicionamentos em relação aos atos golpistas de 8 de janeiro.
Oficialmente, porém, os petistas negam que haja perseguição e justificam ser natural a mudança de comissionados entre um governo e outro.
A necessidade de uma "triagem" tem sido tratada abertamente por Lula. O presidente tem dito que não quer criar "um palácio de petistas", mas já deixou claro a ministros e secretários que "não pode ficar ninguém [comissionado] que seja suspeito de ser bolsonarista" no Planalto ou na Esplanada.
*Com informações de Lucas Borges Teixeira, do UOL, em Brasília.
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