'Vai ser exterminado o nosso povo': yanomamis relatam fome e doenças à DPU
Os povos indígenas yanomami e ye'kwana vivem uma "violação generalizada e sistemática de direitos humanos", dizem relatos recolhidos pela DPU (Defensoria Pública da União) durante missão para apurar a situação dos indígenas.
A DPU visitou entre 25 e 27 de janeiro unidades de saúde e outros equipamentos públicos que atendem os indígenas em Roraima e encontrou uma série de problemas como falta de medicamentos e profissionais.
Diversos indígenas ouvidos relataram um grande número de mortes, inclusive de crianças, por conta da fome e de doenças como a malária —ambas são consequência da invasão de garimpeiros à Terra Indígena Yanomami. O órgão enviou ofícios aos ministérios da Defesa e Justiça pedindo providências.
Nós estamos vivendo um momento que iremos acabar. Vai ser exterminado o nosso povo. A comida acabou. Tem morrido tanto os velhos, como as crianças. As crianças que são o futuro e os velhos que são nossa orientação
Indígena Sanuma da Comunidade Samaria
Crianças abandonadas em unidade de saúde
Uma das constatações mais chocantes da vistoria da DPU foi o abandono de crianças indígenas na a Casa de Saúde do Indígena, localizada no campus da UFRR (Universidade Federal de Roraima).
Imagens feitas pelos defensores públicos da União mostram crianças em situação de desnutrição grave, com costelas e coluna aparentes.
Foram feitos relatos de crianças indígenas que, supostamente, teriam sido "abandonadas" na CASAI e que ali permanecem sem responsável legal, sem cuidados adequados e em situação de hipervulnerabilidade. Embora não tenha sido possível identificar quem ou quantas seriam essas crianças a estimativa é de aproximadamente quinze crianças indígenas em situação de abandono.
Relatório "Missão da DPU na Saúde Yanomami"
Indígenas denunciam fome, garimpo e doenças
Nesses últimos 6 meses, passamos o pior período, fome, malária, você olha para as moças elas estão só o couro e osso. O que vocês acham que aconteceu para que chegássemos até aqui? A causa é a presença do garimpo. Eles trazem a malária e a escassez de tudo. Com a presença do garimpo nas terras, os rios estão contaminados e não temos água potável para beber. Para sobreviver, bebemos água contaminada que traz diversas doenças.
Liderança indígena da Ypassali Associação Sanumã
O que vocês podem fazer por nós? A nossa situação é bem séria. A água era tão clara que conseguíamos ver o fundo. Morreram 19 pessoas nos últimos três meses só nessa região. Trinta pessoas morreram na área de um de nossos povos. As pessoas com fome e doentes não conseguem fazer a roça. Sem a roça não haverá comida no futuro.
Liderança da comunidade surucucu
Quando a gente fala, parece que o vento leva nossa voz e não traz de volta. Por isso fiz imagens para vocês. Morreu ontem um indígena de malária. Um jovem correu dois dias para pedir socorro por helicóptero. Nós sofremos muito. Algumas unidades de saúde estão com superlotação. São 80 pessoas por dia para dois enfermeiros. Alguns profissionais de saúde estão com problemas psicológicos. Só tem um helicóptero para a saúde.
Liderança da comunidade surucucu
É importante a DPU fazer uma investigação séria e responsabilizar as pessoas que fizeram isso. A falta de logística, medicamentos, profissionais e sucateamento do distrito Yanomami ocasionou a crise humanitária. Os yanomamis não viram os mais de R$ 250 milhões, viram a morte. Na região do Olomai, crianças estão morrendo. Eu fui levar um senhor que morreu de malária. Resgatamos crianças sanumãs. Para recuperar deve demorar muito. O povo yanomami terá muitas cicatrizes sociais, de saúde, ambientais, psicológicas, de luto. É preciso responsabilizar os financiadores dos garimpeiros.
Liderança do Controle Social de Saúde Indígena
Tememos que em alguns dias acontecerá um conflito entre nós em razão dos ataques das roças. É preciso levar a ajuda emergencial para lá para evitar o conflito. Nos wakais, o ambiente já está bem degradado. Os rios estão contaminados. Estamos comendo dos peixes. As comunidades estão migrando em busca de situações melhores. Os garimpeiros chegam armados e não conseguimos resistir. 5 garimpeiros encapuzados chegaram uma vez na comunidade. Nos Wakais, tem um garimpo que se chama facção
Liderança indígena da Associação Wanassedume Ye'kwana
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