Cúpula da PRF discutiu operação no 2º turno em reunião sigilosa, diz jornal
A cúpula da PRF (Polícia Rodoviária Federal) discutiu os detalhes da operação que conduziu uma série de blitze no segundo turno das eleições em reunião presencial sigilosa e convocada às pressas na sede da corporação, em 19 de outubro. As informações foram reveladas pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
O que aconteceu?
A discussão sobre a Operação Eleições 2022 foi realizada na sessão extraordinária do Conselho Superior da PRF; diferentemente de outros encontros do tipo, os presentes se deslocaram presencialmente à Brasília e não puderam entrar com celulares e relógios na reunião, impedindo qualquer tipo de registro da conversa;
A reportagem mostra que até a ata do encontro teria sido manipulada para não constar registro ou menção à operação prevista para o segundo turno;
O então diretor da PRF, Silvinei Vasques, teria dito ainda que "havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa", segundo fontes relataram ao O Globo. Ele teria ainda pedido engajamento dos superintendentes no segundo turno, especialmente no Nordeste, reduto de votos de Lula (PT);
Vasques teria enfatizado ainda que um segundo mandato de Bolsonaro traria benefícios a todos; durante a campanha, o diretor fez campanha para o então presidente nas redes sociais.
As informações foram obtidas pelo jornal com fontes que participaram do encontro e também documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação. Procurada sobre inconsistências na ata da reunião, a PRF informou que elas só poderão ser esclarecidas pelos próprios policiais. Vasques não foi localizado.
O UOL procurou a PRF e aguarda resposta e tenta localizar Vasques para posicionamento. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.
Desvios de padrão
Na semana passada, o ministro da Justiça, Flávio Dino, apontou "desvios de padrão" da atuação da PRF, que teria direcionado mais fiscalização no Nordeste durante o segundo turno;
Segundo Dino, a região concentrou 47% do total de abordagens a ônibus no Brasil;
Ao todo, foram fiscalizados 2.185 ônibus no Nordeste, região onde o então candidato Lula (PT) venceu no primeiro turno e tinha favoritismo para o segundo;
Segundo Dino, em alguns casos, a operação "ultrapassou o total de operações realizadas naquele estado durante todo o ano" para o local;
Nas demais regiões, foram: 893 (Centro-Oeste), 310 (Norte), 571 (Sudeste), 632 (Sul); os dados mostram que houve uma desproporcionalidade nas abordagens entre as regiões, disse o ministro.
Temos a comprovação de que houve desvio de padrão em relação à atuação rotineira, ordinária, a atuação normal da Polícia Rodoviária Federal"
Ministro da Justiça, Flávio Dino
O que foi a "Operação Eleições"?
A operação fez uma série de blitze em todos os estados do país em 30 de outubro de 2022, dia do segundo turno eleitoral. Segundo a PRF, o foco era evitar possíveis crimes eleitorais.
O STF (Supremo Tribunal Federal) havia proibido operações que afetassem o transporte de eleitores, gratuito naquele dia em várias cidades.
Mesmo assim a PRF, sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e então comandada pelo diretor-geral Silvinei Vasques, seu apoiador, realizou centenas de bloqueios, com inspeção de vans e ônibus, principalmente no Nordeste.
Consequências da operação
Com os bloqueios, eleitores chegaram atrasados a seus locais de votação. O TSE chegou a ampliar o horário para as pessoas votarem, além de pedir explicações à PRF.
Vasques foi demitido em dezembro daquele ano. Atualmente, é réu por improbidade administrativa devido à operação.
Operação contestada
O custo total da operação, segundo revelou o UOL, foi de mais de R$ 1,3 milhão.
A sede da PRF que mais gastou com a ação foi a de Minas Gerais (R$ 107,1 mil) seguida pela da Bahia, que pagou R$ 93,6 mil.
Foi justamente para a Bahia que o ex-ministro da Justiça Anderson Torres viajou dias antes da eleição. Essa história voltou ao radar da Polícia Federal, que investiga o elo e a influência do ex-ministro, que está preso, com as blitze.
A PRF defendeu a operação citando os resultados de uma ação semelhante no primeiro turno. O saldo final teria sido: 50 prisões, mais de R$ 4 milhões apreendidos (R$ 2,5 milhões no Pará, segundo a PRF) e "40 ocorrências relacionadas aos crimes eleitorais, 65% destas ocorreram nos estados do Nordeste e Pará", diz o documento interno.
A corporação também justificou: "O reforço no efetivo ocorreu nas cinco regiões do país para tornar ainda mais eficientes as atividades de policiamento preventivo. Buscou garantir a segurança dos eleitores —fiscalização de veículos de passeio e de transporte de passageiros para prevenir acidentes de trânsito no período em que há aumento no volume de veículos — e coibir crimes eleitorais e demais infrações criminais".
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