É crime? Por que uso de dinheiro vivo por Michelle levanta suspeitas
Investigações da Polícia Federal apontam depósitos em dinheiro vivo feitos para as assessoras da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, com dinheiro sacado por um militar que participava da Ajudância de Ordens da Presidência da República. Além disso, mensagens do celular de Mauro Cid mostram pedidos para depósitos e saques, como informa o colunista do UOL Aguirre Talento.
Mas, apesar de levantar suspeitas, a transação, em si, não é criminosa, mas pode levantar suspeitas. O mestre em administração pública Fabiano Angélico explicou a situação no UOL News, em agosto de 2022, ao comentar a descoberta de que metade dos imóveis da família Bolsonaro foi adquirido com dinheiro em espécie.
"É uma situação que as autoridades devem olhar com lupa e investigar. Não é um crime por si só, mas é extremamente suspeito", afirmou ele na ocasião.
Angélico destacou que é necessário analisar com cuidado o contexto das transações bancárias para identificar possíveis sistemas corruptos, já que muitas vezes compras em dinheiro vivo estão associadas a lavagem de dinheiro, por dificultarem o rastreio de órgãos de fiscalização.
Qual é a origem desse dinheiro? Por que não usou o sistema bancário? É muito mais fácil, convenhamos. Até um cheque é mais fácil, mas dinheiro vivo tem todo o risco de ser assaltado na rua enquanto carrega o dinheiro para lá e para cá, desconforto de carregar, então existe uma suspeita."
O especialista ainda destacou que figuras políticas ficam naturalmente sob um olhar mais atento dos fiscalizadores.
"Existe um termo que é 'pessoas expostas politicamente', os órgãos já ficam mais de olho porque pode ser corrupção. Existem várias maneiras de lavar dinheiro e existem vários crimes precedentes, então é preciso que a gente entenda que a lavagem de dinheiro é um segundo momento. Primeiro é cometido um crime a partir do qual dinheiro ilícito é recolhido", explicou.
Entenda o caso
O sargento Luis Marcos dos Reis teria feito inúmeros saques de dinheiro recebido da empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, que tinha contratos públicos na gestão Bolsonaro.
Ele fazia parte da Ajudância de Ordens da Presidência da República, como auxiliar do tenente Mauro Cid.
Os dois foram presos pela PF no início do mês, suspeitos de ligação com a fraude da vacinação de Bolsonaro.
Parte do valor retirado por Reis foi usado para quitar a fatura de um cartão de crédito usado por Michelle em pelo menos três ocasiões.
Uma tia da ex-primeira dama também foi beneficiada, recebendo pelo menos 12 depósitos, também em dinheiro vivo.
Os pagamentos ocorreram em 2021.
A quebra de sigilo bancário que permtiu a descoberta foi autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Na ocasião, ele afirmou que o caso tinha indícios de "desvio de dinheiro público" por meio dos militares do Planalto e de assessoras da então primeira-dama.
A defesa de Jair Bolsonaro e Michelle negou enfaticamente que recursos públicos tenham bancado as despesas da ex-primeira-dama e negou irregularidades nas transações.
"A dona Michelle não conhece esse ajudante de ordens [sargento Dos Reis] e desconhece que ele tenha feito pagamentos para ela", disse Fábio Wajngarten, advogado que chefiou a Secretaria de Comunicação na gestão Bolsonaro.
O principal contrato da Cedro do Líbano é com a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba), estatal que já foi alvo de operações da PF mirando corrupção em contratos no Nordeste no ano passado.
Segundo a Polícia Federal, o dinheiro era depositado por Vanderlei Cardoso de Barros, familiar de uma sócia da Cedro do Líbano, nas contas do sargento Dos Reis.
Vanderlei disse ao UOL que é amigo do militar e que o dinheiro foi um "empréstimo", mas que não sabia qual seria seu destino.
A Polícia Federal afirma não ter encontrado justificativa para os pagamentos da Cedro do Líbano ao sargento Dos Reis.
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