De caçador de marajás à condenação: o auge e a queda de Collor em 5 pontos
O STF condenou hoje o ex-presidente Fernando Collor de Mello por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O episódio é mais um na lista de polêmicas acumuladas por Collor, que foi do auge — como "caçador de marajás" e eleito presidente da República — às quedas, com o impeachment e esta condenação.
A defesa de Collor argumentou que o MP não levou provas suficientes de culpa no caso. A pena ainda será discutida e o ex-presidente não deve ser preso imediatamente. Mesmo condenado, Collor ainda poderá apresentar recursos ao STF para questionar a sentença. A execução da pena é iniciada após estas análises.
1. 'Caçador de marajás'
Collor nasceu em uma família rica e influente na política e na mídia. Ele não demorou a decolar e a se tornar um nome importante no cenário político nacional durante a redemocratização.
Seu primeiro cargo de destaque foi como prefeito de Maceió, entre 1979 e 1982, à época com 30 anos. De 1982 a 1986, foi deputado federal por Alagoas. No ano seguinte, 1987, assumiu o governo do estado e lá ficou até 1989.
Ele ficou conhecido como o "caçador de marajás" pela promessa de caçar funcionários públicos que acumulavam altos salários.
Era apontado à época como um dos políticos mais admirados do país e teve na imagem da atriz Claudia Raia um de seus trunfos para alicerçar seu nome no cenário nacional. Segundo a própria atriz, Collor a via como seu "pé de coelho", ou seja, amuleto da sorte, após ela apoiar sua candidatura vitoriosa ao Congresso anos antes.
Claudia Raia foi uma das celebridades mais entusiastas da campanha de Collor à Presidência. A atriz participou de comerciais em que incentivava os brasileiros a votar como ela, "de verde e amarelo, cheia de fé", para votar "certo, votar em Collor". Posteriormente, ela disse ter se arrependido de seu envolvimento e não externou mais apoio a políticos.
Collor venceu as eleições presidenciais de 1989, com 55% dos votos válidos. A disputa era com Lula. Aquele pleito foi importante para a democracia brasileira, porque significou a retomada das eleições pelo voto popular, após 21 anos de ditadura militar. A campanha foi marcada pela força da televisão —e a edição da Globo sobre o último debate presidencial é o episódio mais conhecido.
2. Confisco, corrupção e impeachment
Os dias de glória de Collor seriam curtos. Ele tomou posse em 15 de março de 1990. Logo em seguida, seu governo anunciou um plano econômico para conter a inflação que incluía, entre outros, o confisco das cadernetas de poupança.
Collor confiscou os depósitos bancários superiores a 50 mil cruzados novos (R$ 8 mil na moeda atual) pelo período de 18 meses, em uma espécie de empréstimo forçado da população ao governo. A medida não deu certo e gerou desgaste.
De arauto da moral a acusado de corrupção. Em 1992, o irmão do então presidente, Pedro Collor, revelou a Veja um esquema criminoso de Collor com seu tesoureiro na campanha, Paulo César Farias.
O Congresso instaurou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias e foram encontrados documentos que comprovariam as transações ilícitas que ligavam PC Farias a Collor de Mello.
As ruas brasileiras foram tomadas pelos caras-pintadas, com milhares pedindo a deposição do presidente. Não demorou muito para a Câmara autorizar a abertura do processo de impeachment.
Collor renunciou ao cargo em 29 de dezembro de 1992, em uma tentativa de evitar a inelegibilidade por oito anos, caso o impeachment fosse consumado pelo Senado. A iniciativa não adiantou: o Congresso cassou seus direitos políticos pelo prazo estipulado em lei. 22 anos após as denúncias, o STF absolveu Collor das acusações de peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica.
3. Reclusão nos EUA
Collor recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para reverter a inelegibilidade, com a justificativa da renúncia. Suas tentativas, entretanto, não surtiram efeito.
O ex-presidente passou cerca de quatro anos recluso em Miami, nos EUA. Retornou ao Brasil em 1998. À época, impetrou novo recurso no STF para concorrer a cargo público, mas obteve mais uma negativa.
Ele trocou seu domicílio eleitoral de Alagoas para São Paulo. Filiou-se ao PRTB, tentou disputar a prefeitura da capital paulista, mas foi impedido pela condição de inelegível.
4. Retorno à política
Após recuperar os direitos políticos, Fernando Collor retomou o domicílio eleitoral em Alagoas. Ele foi derrotado em sua tentativa de se tornar governador em 2002, perdendo para Ronaldo Lessa.
Ele retornou ao Congresso em Brasília, em 2006, na condição de senador pelo PTB. No cenário nacional, demonstrou apoio à reeleição de Lula (PT).
Em 2010, disputou novamente o governo alagoano e causou constrangimento ao tentar surfar na popularidade de Lula e da candidata escolhida para sucedê-lo no Planalto, Dilma Rousseff. Naquela eleição, Collor foi novamente derrotado no pleito que sagrou vencedor o tucano Teotônio Vilela.
Collor foi reeleito senador em 2014. A despeito do embaraço causado quatro anos antes, endossou a reeleição de Dilma — mas votaria por seu impeachment em 2016.
Collor apoiou a candidatura vitoriosa de Jair Bolsonaro (PL) ao Planalto nas eleições de 2018. Em 2022, ele pleiteou mais uma vez o governo de Alagoas ao alinhar sua imagem ao do então presidente, que buscava a recondução ao cargo. Ao fim, os dois saíram perdedores.
5. Mais uma vez réu
A PGR (Procuradoria-Geral da República) defendeu a condenação de Collor pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Collor recebeu propina de R$ 29 milhões pela influência que exercia na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, segundo a denúncia aceita pelo STF, a partir de investigações da Operação Lava Jato. Os supostos crimes teriam ocorrido entre os anos de 2010 a 2014.
Foi comprovado o pagamento de propinas para o grupo da organização criminosa, chefiada então por Fernando Collor, nas negociações para troca de bandeiras de postos de gasolina e construção de bases de distribuição de combustíveis. Lindora Araújo, vice-procuradora-geral da República
Os advogados do ex-senador negam irregularidades e sustentam que não há ato de ofício que possa comprovar contrapartida por parte do réu para receber a suposta propina.
O STF definiu hoje a condenação de Collor por estes crimes. Ele ainda pode apresentar recurso ao Supremo.
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