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Sakamoto: Cid atuou como 'assessor para assuntos golpistas' de Bolsonaro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/06/2023 18h48Atualizada em 16/06/2023 19h43

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto avaliou que o papel desempenhado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), foi atuar como um "assessor para assuntos golpistas" do ex-presidente, após a derrota nas urnas em outubro de 2022.

No UOL News, Sakamoto destacou que Bolsonaro "fomentou um golpe de estado abertamente" em seu governo, atacou instituições, criticou o STF (Supremo Tribunal Federal), "não na crítica democrática, mas com ataques sistemáticos às instituições brasileiras, com o intuito de enfraquecê-las para ele permanecer no poder".

Ainda, ressaltou que tudo que foi feito no sentido de impetrar um golpe de estado não foi à revelia do Bolsonaro, que teve Mauro Cid como seu principal porta-voz na articulação e comunicação com outros membros do bolsonarismo.

O fato é que o Cid não ia fazer nada do que fez por conta própria, ele se tornou uma espécie de redator do golpe, um assessor para assuntos golpistas de Jair Bolsonaro, porque ele recebia o contato de coronéis e de pessoas que tinham cargos importantes na estrutura do Exército, que falavam com Cid sobre golpe. Sempre tem alguém falando com Cid pedindo um golpe de estado, e agora se achou no celular do Cid um documento em que o Jair decretaria um estado de sítio, documento golpista. O Cid não era um fomentador do golpe, ele articulava, as pessoas se comunicavam com ele para fazer as informações chegarem a Jair, e Jair respondia também através de Cid.

Sakamoto também comentou o fato de Mauro Cid ter pedido ao STF o direito de não ir depor na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8/1, e, em caso de ter que ir, para que possa ficar em silêncio "para não se incriminar".

"O que ele está colocando é um atestado de culpa, é óbvio que se esse homem abrir a boca, ele e Bolsonaro vão para o xilindró", completou.

Sakamoto: Casos do Val, Anderson Torres e Mauro Cid estão interligados

Leonardo Sakamoto também ponderou que os casos envolvendo Mauro Cid, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres estão conectados entre si, pois todos confluem para uma tentativa de estado de sítio.

Marcos do Val, que foi alvo de uma ação da Polícia Federal ontem, admitiu recentemente que Jair Bolsonaro e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) o convidou para tratar de um golpe de estado, mas depois negou.

Já com Anderson Torres, que chegou a ser preso no começo do ano em decorrência dos atos golpistas, foi encontrada uma minuta golpista na residência do ex-ministro, que ele negou que tenha sido com o intuito de atacar a democracia brasileira. Agora, as autoridades encontraram outro documento golpista com Mauro Cid, braço direito do ex-presidente Bolsonaro.

A gente está percebendo o seguinte: tudo o que está sendo revelado não é um bando de informação aleatória, tudo se encaixa numa coisa com a outra. Esse documento encontrado no celular do Mauro Cid é como se fosse um sumário, que se encaixa. Ele, pra justificar o estado de sítio, ele baseia-se em várias ações tomadas por Bolsonaro para tentar desqualificar a Justiça Eleitoral e o STF.

"Eles foram criando elementos e cada um desses elementos está nessa minuta golpista que eles criaram para justificar o golpe por parte do Mauro Cid. E um dos personagens centrais para justificar esse golpe é Alexandre de Moraes, e aí entra o Marcos do Val, entra o Daniel Silveira para tentar colocar mais ações contra o ministro. E essa minuta do Mauro Cid se soma à minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres. Está tudo conectado. Esse golpe só não aconteceu porque houve pessoas democratas na República, um alto comando das Forças Armadas que não topou entrar nessa loucura e um quesito de sorte", concluiu.

CPMI ter parlamentares investigados por 8/1 é um constrangimento, diz Sakamoto

O colunista ainda analisou o fato de que pelo menos dois membros da CPMI do 8/1, Marcos do Val e o deputado federal André Fernandes (PL-CE), são investigados por suposta participação nas investidas golpistas.

Para Sakamoto, trata-se de um fato "extremamente constrangedor" para o Congresso Nacional, que precisa ser resolvido. "Isso inclusive cria um problema para a CPMI dos atos golpistas, porque o Alexandre de Moraes combinou com o presidente da Comissão, Arthur Maia (União-BA), de compartilhar informações, só que não faz sentido compartilhar informações sobre pessoas que são investigadas", destacou.

Sakamoto disse que "vai avançando dentro do campo bolsonarista pessoas que fazem parte da CPMI e que são alvo de investigações pela PF, pelo STF, em relação ao tema".

"É claro que não faz sentido passar para as próprias [os investigados] informações sensíveis. Isso cria um constrangimento muito grande para o Congresso Nacional. A própria CPMI vai ter que se debruçar sobre isso. O que vai acontecer se aumentar o número de pessoas dentro da CPMI que são investigadas pelos atos golpistas?", ponderou.

Veja a íntegra do programa: