Bolsonaro chega à PF para depor sobre suposta trama golpista de Do Val
Do UOL, em Brasília
12/07/2023 04h00Atualizada em 12/07/2023 14h00
Jair Bolsonaro (PL) chegou por volta das 13h30 à Polícia Federal para prestar seu quarto depoimento desde que deixou a Presidência. O inquérito da vez é sobre o suposto envolvimento do ex-presidente em uma conspiração golpista com o senador licenciado Marcos do Val (Podemos-ES) e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).
O que a PF quer saber de Bolsonaro
Bolsonaro será questionado se participou da trama golpista revelada por do Val contra a eleição de Lula (PT). Na madrugada de 2 de fevereiro, o senador fez uma transmissão nas redes sociais relatando uma suposta coação do ex-presidente e de Silveira para que ajudasse na conspiração antidemocrática arquitetada em dezembro.
O ex-presidente terá de responder se realmente teve contato com o assunto por meio do senador. E se ambos conversavam sobre o tema, segundo apurou o UOL junto a integrantes da PF. Bolsonaro teria participado, ou ao menos sabia da intenção do plano, conforme os primeiros relatos do parlamentar do Podemos.
Bolsonaro também terá de explicar à PF qual é a sua relação com Do Val. Essa será a primeira oitiva do ex-presidente sobre a história. Marcos Do Val já é investigado por essa trama golpista com o ex-deputado preso Daniel Silveira. O depoimento estava marcado para as 14h.
A defesa não tem "qualquer preocupação" com as perguntas que serão feitas. A declaração foi dada ontem pelo advogado de Bolsonaro, Ricardo Bueno, no Congresso Nacional.
O presidente sempre esteve completamente à disposição a todas as convocações. E continuará à disposição, sempre que for convocado.
Ricardo Amador Bueno, advogado de Bolsonaro
Qual era o plano golpista
Gravar escondido o ministro do STF Alexandre de Moraes e usar o conteúdo para questionar as eleições. Esse era o plano golpista, segundo a primeira versão divulgada por Marcos do Val nas redes sociais. O senador seria a pessoa a se aproximar de Moraes.
O objetivo era captar algo comprometedor para prender o ministro do STF e impedir a posse de Lula, segundo troca de mensagens entre do Val e Silveira divulgadas pela revista Veja em fevereiro. Naquele mesmo dia, o ex-deputado foi preso por descumprir medida cautelar, em mandado expedido por Moraes.
Bolsonaro teria convocado do Val para uma conversa. Por telefone, o ex-presidente pediu para o senador "dar um pulinho" em sua residência oficial, e o encontro ficou acertado para 9 de dezembro. Coube a Silveira abordar Do Val no Congresso, e ele teria dito que Bolsonaro tinha um assunto importante e urgente para falar com o senador, segundo Veja.
O senador, no entanto, mudou a versão da história em outras ocasiões. Horas após a live nas redes sociais, ao ser questionado pela Folha de S.Paulo, o senador recuou da acusação direta e disse que Bolsonaro "só ouviu" o plano de Silveira e afirmou que iria pensar a respeito.
Encontro com Bolsonaro e Silveira aconteceu, disse Do Val. Ele contou ao jornal que se encontrou com os dois porque recebeu uma ligação do próprio então presidente da República. O político também disse que as versões diferentes foram táticas de "persuasão" e que a verdade foi dita à PF.
Marcos Do Val foi alvo de mandados de busca e apreensão no dia do seu aniversário. A operação da PF foi autorizada por Moraes, e os policiais fizeram, em 16 de junho, buscas em três endereços: no gabinete do senador e nas casas dele, em Brasília e em Vitória. Na ocasião, o parlamentar chamou Moraes de "imperador" e afirmou que o ministro fez "movimentos claros da invasão de poderes e quebra da Constituição", em entrevista à Band News.
Os depoimentos de Bolsonaro na PF
Este será o quarto depoimento do ex-presidente à PF neste ano. Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro já foi intimado a depor sobre os atentados de 8 de janeiro, o caso das joias da Arábia Saudita e as fraudes no cartão de vacinação dele e de familiares.
Caso das joias: em 5 de abril, o ex-presidente prestou o primeiro depoimento e precisou dar explicações a respeito das joias recebidas de presente do governo da Arábia Saudita e não-declaradas. Ele falou por três horas e disse que soube da existência das joias mais de um ano depois da entrada delas no Brasil.
Os atos golpistas de 8 de janeiro: no dia 26 de abril, Bolsonaro precisou responder perguntas sobre as invasões e ataques às sedes dos Três Poderes. Ele foi vinculado a parte do inquérito que apura os mentores intelectuais da invasão.
Fraude em cartão de vacina: o depoimento mais recente foi em 16 de maio, quando Bolsonaro respondeu questões a respeito da falsificação do cartão de vacinação.