Lancha, obra em Angra: bens de Lessa cresceram após crime, aponta delação
25/07/2023 04h00
Em delação sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o ex-PM Élcio de Queiroz afirmou que viu, após o crime, crescer o patrimônio de Ronnie Lessa, acusado pela morte da vereadora e do motorista.
O que aconteceu
Segundo a delação, Lessa disse a Élcio que o motivo do assassinato era "pessoal", e não por dinheiro. O delator afirmou à polícia, no entanto, que não acreditou no colega. Segundo o ex-PM, Lessa teve um "acréscimo muito grande" de bens. As investigações ainda não indicaram quem foi o mandante do crime (e se há um mandante).
Suspeito pelo crime comprou caminhonete e lancha, fez uma viagem e estava construindo uma casa em Angra dos Reis, relatou o delator. Lessa teria dito a Élcio que tinha dinheiro para fazer obras em duas casas: uma em Angra e outra na Barra da Tijuca.
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Élcio apontou Lessa como autor dos tiros que mataram Marielle e Anderson. Ele disse que dirigiu o carro que emparelhou com o da vereadora no momento do crime. O atirador, segundo ele, estava no banco de trás, armado com a submetralhadora usada na execução.
No caminho [para o local do crime] fui perguntando qual é a situação. Aí ele [Lessa] falou que era a vereadora, falou o nome, mas eu não sabia quem era. Mas aí eu falei: o que é a situação? Ele falou que era pessoal. Mas tem dinheiro nisso aí, o que é? Aí ele falou não, é pessoal. Aí fomos seguindo, ele foi me orientando.
Ex-PM Élcio Franco, em delação à PF
O que diz o advogado de Ronnie Lessa
A defesa de Lessa mantém versão de que Ronnie Lessa não participou dos crimes. Segundo o advogado Bruno Castro, Lessa afirma que assistia a um jogo do Flamengo contra o Emelec, do Equador, no momento dos assassinatos, na noite de 14 de março de 2018. A versão foi mantida mesmo após os novos desdobramentos do caso.
Nunca conversei com o Ronnie sobre os pontos que vieram a público com a delação do Élcio. O Ronnie sempre disse que não participou do crime e que assistia a um jogo de futebol no bar Resenha, na Barra da Tijuca, no momento da execução da Marielle. Bruno Castro, advogado de Ronnie Lessa
Os bens de Lessa, segundo o delator
Élcio disse à polícia que Lessa comprou uma caminhonete Dodge Ram e uma lancha após a morte de Marielle. Esses bens, segundo ele, se somaram a uma caminhonete Evoque que o ex-PM já tinha.
Lessa também fez uma viagem para os Estados Unidos com o filho, segundo o delator. Os dois envolvidos foram amigos por mais de 30 anos, e Lessa é padrinho do filho de Élcio, conforme o ex-PM contou à Polícia Federal.
Élcio afirmou ter ouvido a esposa de Lessa reclamar que morava de aluguel enquanto o marido tinha vários gastos, inclusive a construção de uma casa em Angra. O amigo, então, disse a ele que tinha dinheiro para investir nos dois imóveis.
Aí falei com ele [Lessa]: "Pô, cara, ao invés de fazer sua casa, você tá gastando dinheiro com casa de praia, podendo fazer sua casa. O seu pessoal tá chateado". Aí ele falou: "Cara, eu tenho dinheiro pra fazer essa casa e fazer a da Barra. Dinheiro eu tenho para as duas.
Élcio de Queiroz, em delação, sobre Ronnie Lessa
Entenda os avanços do caso Marielle
Élcio Queiroz prestou os depoimentos em junho passado, mais de cinco anos após o crime. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que ele receberá os benefícios da delação, mas continuará preso. Os termos da colaboração estão sob sigilo.
A PF deflagrou ontem a operação Élpis, com um mandado de prisão preventiva e sete de busca e apreensão. O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso.
Na delação, Élcio afirma que foi Lessa quem atirou em Marielle e Anderson. O ex-PM diz que foi recrutado por Lessa no próprio dia do crime e que dirigiu o carro usado na ocorrência. O ex-PM narrou em detalhes a noite do assassinato.
O delator diz ter recebido R$ 1 mil após servir de motorista para Lessa. Ele afirma que os dois foram a um bar, após o assassinato, e só lá ele soube que o motorista Anderson também tinha morrido.
Élcio destacou que a arma usada no crime tem origem no Bope, o batalhão especial da PM do Rio. O armamento, uma submetralhadora MP5, teria sido extraviada após um incêndio em um paiol da PM.
Para autoridades que acompanham o caso, a delação não resolve dúvidas sobre o crime. O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse estar convencido de que o crime tem um mandante. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, disse acreditar que não existe apenas motivação política no episódio.