PT e PSB resistem à reforma e querem empurrar mudanças para outras siglas

Alas do PT e do PSB, base do presidente Lula (PT) desde o início da campanha, estão tentando evitar a redução dos aliados na composição ministerial à medida que o governo precisa encaixar mais dois partidos do centrão.

O que acontece

Deputados e membros das alas ideologicamente mais próximas a Lula têm reclamado da possível diminuição de cargos para acoplar PP e Republicanos, siglas que faziam parte da ex-base bolsonarista. Eles têm indicado ministros e cargos menos próximos ao presidente sob o apelo de alinhamento ideológico e fidelidade.

Alguns dos cargos que PT e PSB veem margem para reavaliação são ministros "distantes", como André de Paula (PSD), da Pesca, ou Waldez Góes (PDT), do Desenvolvimento Regional, que foi indicado pelo União Brasil. Também podem entrar na conta cargos de "segundo escalão". O argumento é que, ao menor sinal de crise, esse apoio de ocasião se perde, enquanto seguir com uma esquerda "robusta" seria mais seguro.

Nas negociações, auxiliares palacianos reforçam que PSD, MDB e União Brasil, todos com três ministérios, seriam intocáveis. A articulação, incluindo o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), tem explicado que não vai mexer em bancadas que têm contribuído positivamente com o governo.

Mantenha os amigos próximos

Se, até a eleição, qualquer vaga para União Brasil, PP e Republicanos era impensável, agora são uma necessidade, mas nenhum aliado quer perder espaço. Membros do PT e do PSB têm reagido para evitar perderem espaço na reorganização ministerial.

A base "à esquerda" ocupa, hoje, 29 dos 37 ministérios: 22 da cota pessoal de Lula ou do PT , 3 do PSB, 1 da Rede, 1 do PSOL, 1 do PDT e 1 PCdoB.

Possível perda de espaço gera lamentação em reuniões da bancada. O assunto tem sido lembrado pelos parlamentares petistas nos encontros da sigla na Câmara desde a discussão da reforma ministerial.

Nos bastidores, articuladores do partido têm trabalhado para sugerir nomes que não "pesariam para Lula" ou vagas no segundo escalão, como secretarias e presidências de estatais. Com a resistência do governo, o assunto tem ficado cada vez mais escancarado.

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Não pode ser só o PT a ceder. Tem que ser a maioria, o conjunto, todos os partidos que já têm espaços estratégicos. E não estamos falando só de ministérios, pois a equação nos estados ainda não se completou.
Zeca Dirceu (PT-PR), líder do PT na Câmara, em entrevista

Em time que está ganhando, ninguém mexe

A articulação do governo tem sido clara: ninguém toca nos partidos que ajudam o governo. Com três das maiores bancadas da Câmara, PSD, MDB e União Brasil têm entregue os números de voto que o governo precisa e não faz sentido mexer em algo que está pacificado.

Embora De Paula realmente não tenha expressividade, o PSD tem 43 deputados e, no Senado, a relação com o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Omar Aziz (PSD-AM) é sólida.

Com o MDB, o governo tem um trato ainda mais íntimo. Com os mesmos 43 votos na Câmara, o partido tem sido vital para o governo na Casa, sob a liderança de Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Mas não só: os três ministros têm ligação direta com Lula, seja por acordos na eleição, como Simone Tebet (Planejamento), seja pela influência de aliados próximos, como Renan Filho (Transportes).

Já o União Brasil têm feito sua parte, depois que Lula atendeu ao pedido de trocar a chefia do Ministério do Turismo. O líder na Câmara, deputado Elmar Nascimento (União-BA), tem se aproximado do governo e, embora diga que o partido é independente, diz que os votos serão entregues. Além disso, Góes é indicado direto do senador Davi Alcolumbre (União-AP), influente no Senado.

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Deve sobrar para os aliados

Apesar do esforço, na Esplanada já se conta que o número de indicações à esquerda diminua. Com os três partidos intocados, também é descartado que Lula mexa em indicações próprias, como o ministro José Múcio (Defesa).

No PT, o principal alvo é o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social), responsável pelo Bolsa Família. A atuação de Dias é considerada discreta pelo Planalto e ele foi eleito senador pelo Piauí, ou seja, não ficaria sem mandato. Para isso, uma das possibilidades seria tirar o programa social da pasta e dá-la ao PP.

No PSB, a possibilidade é fazer um rearranjo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ele ficaria com o cargo de vice, liberando a vaga para o ministro Márcio França (PSB), que, por sua vez, entregaria Portos e Aeroportos ao Republicanos.

Na bancada do PSB na Câmara, o sentimento é que "não há possibilidade" de perder espaço no governo. Deputados avaliam que a eventual saída de Alckmin do ministério deixaria um clima ruim entre ele e Lula. A situação seria inversa se o vice-presidente quisesse entregar o cargo para acomodar o centrão, mas até o momento interlocutores dizem que Alckmin não demonstrou esse desejo.

Tudo ainda está sendo montado na cabeça de Lula. A decisão final fica para a volta da Cúpula da Amazônia, na semana que vem, enquanto aliados e futuros ingressantes pressionam por espaço.

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