Cid registrou transferência de dinheiro de Bolsonaro aos EUA em e-mail
Do UOL, em São Paulo
11/08/2023 15h44Atualizada em 11/08/2023 19h18
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do Jair Bolsonaro (PL), arquivou em seu e-mail institucional um pedido de transferência de dinheiro para os EUA em nome do ex-presidente. O documento foi obtido pela newsletter A Grande Guerra, do jornalista Leandro Demori, em parceria com o site O Cafezinho.
O que aconteceu:
O pedido feito ao Banco do Brasil é datado de 22 de dezembro de 2022 e contém dados pessoais de Bolsonaro, além de sua própria assinatura. O documento tem o título de "Proposta de emissão de ordem de pagamento para o exterior - venda".
O e-mail encontrado na caixa de mensagens de Cid tem a mesma data do documento, às 18h42. Oito dias depois, ele embarcou para os EUA para não passar a faixa presidencial para Lula.
A quantia de dinheiro, que não consta na versão divulgada do documento, sairia de uma conta de Bolsonaro na agência 5977, localizada no Anexo 1 do Senado Federal, para uma unidade do Banco do Brasil em Miami.
Investigações sobre joias e viagens
A Polícia Federal cumpriu hoje mandados de busca e apreensão nos endereços do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid, e do advogado Frederick Wassef, que já defendeu o ex-presidente.
O objetivo é investigar desvios de joias e outros bens de valor obtidos pelo ex-ajudante de ordens em viagens oficiais no governo Bolsonaro e sua posterior venda ilegal no exterior, segundo apurou o UOL.
Os investigados são suspeitos de usar a estrutura do governo brasileiro "para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior", informou a PF.
Os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, afirmou a polícia.
A operação foi batizada de Lucas 12:2, em referência ao versículo bíblico que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".
Como funciona o suposto esquema
A PF colheu indícios de que o pai de Cid, o general Cid, teria participado da venda dessas joias e chegou a emprestar sua conta bancária no exterior para o recebimento de valores desses negócios.
A investigação também detectou que Wassef entrou no esquema com o objetivo de recomprar parte desses bens para devolvê-los ao TCU (Tribunal de Contas da União) quando as apurações começaram a mirar as joias dadas a Bolsonaro.
Mauro Cid, preso desde maio, e o tenente do Exército Osmar Crivellati também foram alvos da operação. O UOL tenta localizar os citados. Crivelatti era responsável por guardar o patrimônio privado de Bolsonaro em uma área emprestada para ele na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília.
Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal dentro do chamado inquérito das milícias digitais e são cumpridos em Brasília, São Paulo e Niterói (RJ). Os fatos investigados configuram os crimes de peculato e lavagem de dinheiro, conforme a PF.
Procurada, a defesa do tenente-coronel Mauro Cid e do seu pai, o general Cid, não se manifestou sobre o caso.