Lira negocia maioria ruralista e blindagem a governo Lula em CPI do MST

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai negociar com as lideranças do centrão uma nova troca nos participantes da CPI do MST para garantir a maioria ligada ao agronegócio. Mas isso só se os parlamentares evitarem o confronto com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

O que aconteceu

Governistas e ruralistas travam uma batalha para impor sua narrativa na comissão.

Lira se reuniu hoje (16) com o presidente da CPI, o deputado federal Zucco (Republicanos-RS), na residência oficial da Câmara. Ele pediu ajuda ao presidente da Câmara para reverter o revés na comissão, que atualmente tem maioria governista.

Segundo relatos de deputados da comissão, Lira teria prometido a Zucco conversar com os líderes do PP, do Republicanos e do União Brasil — partidos que trocaram integrantes do agronegócio por nomes aliados ao Palácio do Planalto.

No entanto, como contrapartida, a comissão deveria tirar o ministro Rui Costa do foco da comissão. Na semana passada, o próprio Lira anulou o requerimento de convocação do titular da Casa Civil, que havia sido aprovado pela CPI.

O centrão e o governo Lula negociam, por meio de Rui Costa e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, mais espaço na Esplanada dos Ministérios. O PP, de Lira, e o Republicanos devem integrar o governo Lula.

Após receber a notícia de anulação da oitiva, a cúpula da CPI foi avisada de que o cenário da comissão havia mudado: antes tinha maioria de oposição, mas passou a ter maioria governista com as alterações de integrantes do centrão.

Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o pedido para a "dança das cadeiras" partiu dele mesmo. Já a oposição alega que o centrão só atendeu ao pedido de Guimarães por causa da reforma ministerial à vista.

Desde então, as bancadas do centrão têm sido procuradas pelos ruralistas e pelos governistas. Mas, segundo apurou o UOL, ainda não tem uma definição sobre qual caminho seguir.

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A ideia que mais ganhou força foi colocar integrantes "imparciais". Dessa maneira, não interfere no trabalho do relator, Ricardo Salles (PL-SP), e não atrapalhará o governo Lula, uma vez que o centrão tem feito "gestos" ao Planalto em meio à troca nos ministérios.

O plano B da cúpula

Caso a oposição não consiga recuperar o controle dos trabalhos, a comissão pode entrar em regime de desidratação. Nos bastidores, já trabalhavam com possibilidades de reação se a CPI permanecer de maioria governista.

Entre as hipóteses, está a de não apresentar o relatório de Salles, por exemplo. Ou não colocar em votação novas convocações para depoimentos.

Há, ainda, o risco de colocar em votação o parecer e ter que votar o relatório alternativo dos governistas, que já está sendo preparado. Caso esse cenário ocorra, seria uma derrota pública dos parlamentares do agronegócio na comissão.

Pressão da Frente da Agricultura

Houve uma cobrança dos integrantes da CPI com a FPA (Frente Parlamentar da Agricultura). Eles argumentaram que barraram a convocação do presidente da CNA (Confederação da Agricultura e da Pecuária) e do Instituto Pensar. O temor era ser abandonados quando precisavam da força do maior grupo temático do Congresso.

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A FPA se comprometeu a conversar com Lira, mas deputado falou que ainda assim pairava a desconfiança. Havia dúvida se a frente iria falar grosso com o presidente da Câmara ou apenas repassaria um descontentamento para marcar posição.

No campo da esquerda, a deputada Samia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que acredita que a manutenção de nomes favoráveis ao governo permitirá que seja refutado um relatório contra o MST e movimentos sociais.

"Pernas amputadas"

Na semana passada, quando a oposição se tornou minoria, o relator da comissão, deputado Ricardo Salles (PL-SP), afirmou que CPI teve as pernas amputadas.

Ruralistas atribuíram a Salles parte da derrocada da oposição. Afirmaram que ele trabalhou de forma explícita pelo agro, segmento que representa. Esta atuação pouco republicana gerou incômodo até em partidos favoráveis a investigar o MST.

Outro motivo para se ter reservas a Salles foi a leitura de que ele usava a relatoria para tentar viabilizar a candidatura a prefeito de São Paulo. Deputados da CPI afirmaram que ele puxava brigas com governistas para gerar material para redes sociais.

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A cúpula da CPI, formada por ruralistas, ficou muito irritada porque a manobra impediu o depoimento de Rui Costa.

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