Diretor da PF diz que R$ 17 mi de Pix de Bolsonaro podem ser bloqueados
Do UOL, em Brasília e em São Paulo
25/08/2023 16h14Atualizada em 25/08/2023 18h29
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, afirmou hoje que os R$ 17 milhões que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu de apoiadores via Pix podem ser bloqueados se "levantarem margem de desconfiança".
O que ele disse?
Ao UOL Entrevista, Andrei Rodrigues contou que a PF já recebeu os dados bancários do ex-presidente. Como são milhões de transações feitas por apoiadores, a análise ainda está em curso.
Nós estamos recebendo agora os dados bancários e fazendo análise desses R$ 17 milhões -- e aí são milhões de transações. Ou seja, há possibilidade legal do bloqueio, sim, se houver qualquer suspeição de que não sejam transações normais, que levantem alguma margem de desconfiança.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. A informação foi registrada em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que apontou que o valor foi movimentado em 769 mil transações.
Apoiadores do ex-presidente promoveram uma vaquinha para pagar multas processuais. A justificativa é que ele seria vítima de "assédio judicial" e que precisa de ajuda para quitar "diversas multas em processos absurdos".
PF previu risco de 8 de Janeiro
Andrei disse ainda que foi informado pelo setor de inteligência da corporação, no dia anterior ao 8 /1, sobre o risco de que golpistas depredassem os prédios dos Três Poderes.
O 8 de janeiro começou bem antes. [...] Eu sou diretor de uma polícia judiciária. Nosso papel foi fielmente cumprido porque eu recebi informações da minha área de inteligência, de nenhuma outra agência, mas da minha área de inteligência. E estive lá na Secretaria de Segurança [do Distrito Federal] no dia 7 de janeiro, reunido com o secretário de Segurança, com a cúpula das instituições, e oficiei, dentro do sistema, no dia 7 de janeiro, dizendo: 'Olha, essas pessoas não podem sair do acampamento porque eles vão depredar o Supremo [Tribunal Federal], Congresso [Nacional] e o [Palácio do] Planalto'. Isso está no dia 7, escrito. Véspera, portanto, do quebra-quebra. O ministro Flávio Dino recebeu o meu ofício --ele é o meu chefe a quem eu direcionei-- e encaminhou imediatamente e comunicou o governador.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
O diretor-geral da PF relatou ter feito o alerta ao órgão competente do Distrito Federal, mas que, "infelizmente", a PM escoltou manifestantes golpistas até as sedes dos Três Poderes.
Fiz esse alerta, fui na secretaria, fiz essa solicitação e, infelizmente, o que se viu foi a Polícia Militar [do Distrito Federal] escoltando criminosos --essas pessoas são criminosas, foram presas-- para fazerem o que fizeram. [...] A segurança de ordem pública, isso também é importante que se diga, é responsabilidade da Polícia Militar [do DF], que é uma das melhores polícias do Brasil. [É] bem remunerada, bem equipada, bem treinada, [tem] boa formação. [...] Hoje, a cúpula da instituição, infelizmente, está presa, enfim, em razão das responsabilidades que tiveram.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
'Instabilidade' sob gestão Bolsonaro
Andrei afirmou também que a PF passou por um período "conturbado" durante os quatro anos do governo Bolsonaro, devido às recorrentes mudanças em vários níveis da instituição por mando do então presidente.
A PF viveu um período de muita instabilidade. De fato, houve quatro ou 5 diretores, se considerar que um sequer tomou posse, em quatro anos. Mudanças de superintendências, mudanças de chefias de investigação, mudança de investigadores de setor. Mostrando que nós vivemos de fato um período muito conturbado, eu diria assim. O que, agora, é uma realidade absolutamente distinta. Todos os 27 superintendentes foram escolhidos pela minha direção, todos os 13 diretores foram escolhidos por mim, como autonomia que recebi do Ministro da Justiça [Flávio Dino], que é meu chefe imediato, e do presidente da República, que é nosso chefe. Inclusive, quem nomeia o diretor-geral é o presidente da República.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
O diretor-geral defendeu ser preciso diferenciar a "autonomia investigativa da questão administrativa", já que a PF depende da administração pública, assim como outras agências públicas.
Portanto, é saudável e recomendável que o diretor-geral fale com o presidente, com o ministro. [...] Ou seja, [temos] uma relação saudável, transparente. Os resultados do nosso trabalhos tem apontando essa independência da polícia.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
Confira a entrevista com Andrei Passos Rodrigues na íntegra: