Filiação de Marta ao PT mira bolsonarismo e vira ato de campanha de Boulos

Com críticas ao bolsonarismo, a filiação de Marta Suplicy ao PT foi marcado pelo tom de campanha para chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.

O que aconteceu

Marta voltou ao PT após nove anos nesta sexta-feira (2) para ser vice de Boulos na disputa eleitoral. "Vamos derrotar o bolsonarismo e seus representantes aqui na capital", discursou Marta na presença do presidente Lula e da primeira-dama Janja. "Vai ser a aliança dos CEUs com a moradia popular", disse o deputado federal Boulos.

Ex-secretária na gestão de Ricardo Nunes (MDB), Marta não citou nominalmente o prefeito. Antes de aceitar ser vice de Boulos, ela chefiava a pasta de Relações Internacionais. A proximidade de Nunes com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos motivos de sua saída da prefeitura.

Já Boulos não poupou críticas a gestão Nunes e disse que nunca viu a cidade na "crise de segurança" em que se encontra hoje. "A CPI que São Paulo precisa é para investigar porque a cidade mais rica da América Latina tem 53 mil pessoas vivendo na rua", afirmou.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, também adotaram o tom eleitoral e falaram sobre recuperar a cidade. "Nossa chapa é a união da luta, da combatividade, com a experiência", disse Gleisi. Eles também citaram os feitos de Marta à frente da prefeitura da capital no seu mandato (2001-2004).

São Paulo foi governada por representantes do PT em três mandatos diferentes — com Luiza Erundina, Marta e Haddad. "Nós sabemos o que foi o 8/1 e o aparelhamento da Abin. Essa gente não pode voltar", disse Gleisi.

O evento foi marcado por filas de militantes para entrar no salão da Casa de Portugal, na região central, além de música ao vivo. Do lado de dentro do salão, também havia cartazes de vereadores e grupos do PT. "Nossa sempre prefeita" e "bem-vinda companheira" são algumas das frases escritas.

A ficha de filiação de Marta foi assinada por Lula como um ato político simbólico. Ao final do evento, um vídeo com a música "De Volta pro Aconchego" foi transmitido com fotos dela ao lado de figuras do PT.

Lula articulou o retorno de Marta ao PT. Integrante do partido entre 1982 e 2015, ela acertou os últimos detalhes da refiliação após uma reunião com Lula em Brasília no último dia 8, onde aceitou ser pré-candidata a vice de Boulos.

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Nunca na história de São Paulo ninguém fez para o povo pobre o que fez a Marta Suplicy na prefeitura. O Boulos precisava de você para ganhar as eleições.
Lula

Bruno Covas [PSDB] não foi com Bolsonaro e foi atacado pelo bolsonarismo [nas eleições de 2020]. Nunes abraçou o bolsonarismo, traindo o legado de quem ele foi vice. Nosso desafio em São Paulo é construir uma frente ampla pela democracia.
Guilherme Boulos

Hoje, esse partido recebe a sua ex-prefeita de novo, de volta, recebe Marta Suplicy. Seja bem-vinda ao seu partido, você pode ter saído do PT por um tempo, mas o PT não saiu da sua imagem, as pessoas te veem e falam "dona Marta do PT".
Gleisi Hoffmann

Temos que ter a consciência da oportunidade que São Paulo resgata a ter uma pessoa da qualidade do Boulos representando a todos nós. É um luxo poder enfrentar com uma chapa dessa qualidade, nós não podemos descansar até outubro.
Fernando Haddad

Retorno ao PT mais madura, mais experiente e entendo que unir e somar vai ser o nosso grande desafio. Porque é a hora de promovermos a união dos mais amplos e diferentes setores em prol da nossa cidade e do nosso Brasil.
Marta Suplicy

Militantes do PT chegam para evento de filiação de Marta ao partido
Militantes do PT chegam para evento de filiação de Marta ao partido Imagem: Saulo Pereira Guimarães/UOL
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Petistas e aliados negam constrangimento

Membros do PT negaram no evento que o retorno de Marta ao partido gere qualquer tipo de constrangimento. No início, a refiliação dela foi questionada dentro da legenda — já que, além das críticas que fez à legenda, ela defendeu o impeachment de Dilma Rousseff.

"A conjuntura pede aliança de quem quer disputar a prefeitura para ganhar", afirmou o deputado federal Nilton Tatto (PT-SP). O parlamentar classificou a refiliação como um "reencontro" e disse que a disputa de 2024 será como a de 2022, na qual o PT articulou uma frente para derrotar o bolsonarismo.

Os deputados José Guimarães (PT) e Ivan Valente (PSOL) também afirmam que é importante a esquerda se unir para "derrotar o bolsonarismo" na cidade. "Lula entendeu que essa eleição é decisiva para o país", disse o parlamentar petista.

O que Marta soma a Boulos

A experiência executiva de Marta é um ativo para chapa. A avaliação dentro da pré-campanha é que Boulos tem adesão baixa na periferia — apesar de seu reconhecimento em pautas sociais. Já a ex-prefeita tem uma avaliação positiva nos chamados "extremos" da cidade, ao sul e a leste, em especial por sua política de transporte.

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Marta circula também entre empresários e a classe alta. Descendente de uma das famílias mais tradicionais da cidade, ela circula entre a chamada classe A, onde Boulos tem pouca entrada.

A petista foi considerada a melhor prefeita de São Paulo desde a redemocratização por uma pesquisa Quaest de dezembro do ano passado. Ela foi escolhida por 24% dos moradores, com Luiza Erundina e Paulo Maluf (9%) na sequência. Nunes ficou em último, com 1%.

Marta se candidatou em eleições passadas para ser novamente prefeita da cidade, mas não teve êxito e não chegou nem ao segundo lugar em suas tentativas. Em 2016, ela conseguiu 10,1% dos votos na capital paulista.

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