Vereadores de SP adiam de novo decisão sobre CPI que mira padre Julio
Os vereadores de São Paulo decidiram adiar em mais 15 dias a decisão de pautar ou não a votação sobre o pedido de abertura de uma CPI que mira a atuação do padre Julio Lancellotti e de ONGs que atuam na região conhecida como "cracolândia".
O que aconteceu
Depoimentos de supostas vítimas à Arquidiocese de São Paulo levaram ao adiamento, dizem os vereadores. De acordo com Rubinho Nunes (União Brasil), autor do pedido de CPI, uma pessoa já prestou depoimento a autoridades religiosas sobre denúncia de suposto abuso e outra deve fazer o mesmo até o fim desta semana.
Diante do cenário, presidente da Casa propôs que decisão fosse adiada. "Assim que tivermos cópias dos depoimentos prestados à diocese, vamos apreciar aqui se vamos abrir a CPI", afirmou Milton Leite (União Brasil). Rubinho concordou.
Oposição manifestou desconforto. "Uma denúncia séria como essa precisa ser encaminhada ao órgão competente", afirmou Luana Alves (Psol). "Se não há fatos novos que corroborem a abertura de uma CPI, isso não devia ser assunto do colégio de líderes", disse Elaine do Quilombo Periférico (Psol).
Reunião foi acompanhada presencialmente por mais de 50 pessoas. Realizada no oitavo andar da sede da Câmara, o encontro iniciado por volta de 14h10 durou 40 minutos e contou com a presença de 16 vereadores da situação e da oposição.
O colégio de líderes toma decisões por consenso. Ou seja, os vereadores devem conversar sobre instalar ou não a CPI e chegar a uma decisão conjunta, sem votações. Caso o colegiado decida implantar comissão, ainda serão necessários os votos a favor de 28 dos 55 vereadores em uma votação a ser feita em plenário.
Padre afirma que acusações são "inverídicas". "As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua", disse em nota ao UOL no dia 6.
A arquidiocese informou que segue "em busca da verdade" a respeito de denúncia recente contra Lancellotti. Segundo a Folha de S. Paulo, um suposto assédio sexual praticado contra um ex-coroinha em 1987 teria impulsionado a investigação.
Decisão sobre o tema foi adiada pela 2ª vez
A instalação da CPI chegou a ser discutida no último dia 6. Na ocasião, o presidente da Câmara Milton Leite (União Brasil) propôs que a Casa aguardasse um depoimento à arquidiocese. "É uma acusação muito grave, que exige muita cautela e prudência", disse ele à época.
"A CPI deve ser instalada", afirmou autor do pedido. Rubinho disse ter recebido denúncias sobre supostos abusos sexuais cometidos pelo padre. Alguns casos envolveriam ONGs apoiadas pela prefeitura — o que justificaria a investigação pelos vereadores.
Vereadores não acreditavam em instalação da comissão. Até o começo da tarde do dia 5, membros da Câmara não acreditavam que a CPI fosse ser instalada. Entretanto, a divulgação de uma nota pela Arquidiocese de São Paulo sobre investigações ligadas ao padre deixou o cenário incerto.
Em janeiro, Ricardo Nunes (MDB) disse que falta de apoio na Câmara e outros fatores enterrariam a comissão. Nos bastidores, comenta-se que uma CPI liderada pela situação colocaria o prefeito na posição de "perseguidor" de quem acolhe os mais pobres. É um papel desconfortável para Nunes em ano eleitoral.
Câmara tem 45 pedidos de CPIs na fila. Atualmente, há três comissões em curso: uma relativa à Enel, outra à violência na cidade e uma terceira ligada aos roubos e furtos de fios e cabos.
Relembre o caso
ONGs que atuam na "cracolândia" são alvo do pedido de CPI. Protocolado em dezembro por Rubinho Nunes, o documento pede que se inicie uma investigação sobre a oferta de "alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento de dependentes químicos" por organizações nessa região.
Após protocolar o pedido, o vereador afirmou que vai mirar também no padre Julio. Isso não está especificado no texto do requerimento. Após a informação vir à tona, alguns vereadores decidiram retirar o apoio à proposta.
Conservadores usam vídeo para acusar padre de pedofilia. No começo de fevereiro, vieram a público imagens nas quais um homem identificado como Lancellotti (o que não foi confirmado em nenhum momento) troca mensagens pelo celular com um suposto jovem (que não aparece na gravação) e se masturba em uma chamada de vídeo. O caso foi divulgado pela revista Oeste, publicação de viés conservador.