Câmara de SP decide analisar CPI contra padre Júlio somente após o carnaval
A Câmara Municipal de São Paulo decidiu hoje que analisará somente após o carnaval a instalação ou não de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mira a atuação do padre Júlio Lancellotti e de ONGs que atuam na região conhecida como cracolândia.
O que aconteceu
A decisão foi tomada em reunião com a presença de líderes de diferentes partidos.
"Denúncias são gravíssimas", afirmou presidente da Câmara. O vereador Milton Leite (União Brasil) propôs ao colega Rubinho que a Casa aguarde o depoimento de uma suposta vítima à Arquidiocese de São Paulo.
Autor do pedido de CPI afirmou que denúncias de abuso estariam relacionadas à atuação das ONGs. Isso justificaria a investigação por parte dos vereadores dos supostos casos. "Tenho recebido no meu gabinete quase que diariamente pessoas que trazem denúncias relativas a essa pessoa, esse sujeito", afirmou Nunes.
Oposição se coloca contra abertura da CPI. Os vereadores Elaine do Quilombo Periférico (Psol) e Eliseu Gabriel (PSB) questionaram a forma como o pedido de comissão foi feito (sem citar o padre) e a pertinência de que a Câmara avaliasse a questão, que pode não ter ligação com os assuntos da cidade.
A arquidiocese afirma que investiga o padre. Em nota divulgada nesta segunda (5), a entidade católica informou que segue "em busca da verdade" a respeito de denúncia recente contra Lancellotti. Segundo a Folha, um suposto assédio sexual praticado contra um ex-coroinha em 1987 teria impulsionado a apuração.
Imputações são "completamente falsas", afirma o padre. Em nota divulgada ontem, o religioso disse que "as acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico" e disse ter "plena fé que as apurações conduzidas pela Arquidiocese esclarecerão a verdade dos fatos".
Câmara tem 45 pedidos de CPIs na fila. O avanço ou não de cada um deles depende do colégio de líderes, que define o que entra e o que não entra na pauta da casa. Atualmente, há três comissões em curso: uma relativa à Enel, outra à violência na cidade e uma terceira ligada aos roubos e furtos de fios e cabos.
Nota da Arquidiocese deixou cenário incerto
Vereadores não acreditavam em instalação da comissão. Até o começo da tarde desta segunda (5), membros da Câmara não acreditavam que a CPI fosse ser instalada. Entretanto, a divulgação da nota da Arquidiocese de São Paulo deixou o cenário incerto em relação a isso nas últimas horas.
"Acho que não deve ir para frente", disse o prefeito de São Paulo sobre comissão. Há cerca de um mês, Ricardo Nunes (MDB) afirmou que a falta de apoio na Câmara, dentre outros fatores, deve enterrar a comissão.
Nos bastidores, comenta-se que uma CPI liderada pela situação colocaria o prefeito na posição de "perseguidor" de quem acolhe os mais pobres. É um papel especialmente desconfortável para Nunes, em um ano no qual ele busca a reeleição.
Relembre o caso
ONGs que atuam na "cracolândia" são alvo do pedido de CPI. Protocolado em dezembro por Rubinho Nunes, o documento pede que se inicie uma investigação sobre a oferta de "alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento de dependentes químicos" por organizações nessa região.
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Quero receberApós protocolar o pedido, o vereador afirmou que vai mirar também no padre Júlio. Isso não está especificado no texto do requerimento. Após a informação vir à tona, alguns vereadores decidiram retirar o apoio à proposta.
"Todos sabiam do conteúdo", diz Rubinho, sobre o requerimento para abertura de CPI. O pedido foi protocolado com mais de 19 assinaturas, o mínimo previsto, segundo o regimento interno.
Conservadores usam vídeo para acusar padre de pedofilia. No começo do mês, vieram a público imagens nas quais um homem identificado como Lancellotti (o que não foi confirmado em nenhum momento) troca mensagens pelo celular com um suposto jovem (que não aparece na gravação) e se masturba em uma chamada de vídeo. O caso foi divulgado pela revista Oeste, publicação de viés conservador.
Autor do pedido de CPI vai pedir afastamento do padre à igreja. Nos próximos dias, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) deve enviar à Arquidiocese de São Paulo uma solicitação de que Lancellotti seja afastado de suas funções por conta das denúncias dos supostos abusos.
O que dizem os vereadores
Senhor Lancellotti é uma figura em torno da qual as ONGs gravitam e recentemente vieram a público denúncias de abuso sexual ligadas a ele. Tenho recebido no meu gabinete quase que diariamente pessoas que trazem denúncias relativas a essa pessoa. Por algumas denúncias vincularem as ONGs às situações de abuso, entendo que isso estaria dentro do escopo dessa CPI.
Rubinho Nunes (União Brasil), vereador e autor do pedido de CPI
Entendo que as denúncias são gravíssimas. Tanto que tomei as providências, como sempre faço. Estamos enviando à Roma, assim como enviei para arquidiocese. Mas acho que a gente tem que preservar qualquer um porque é uma acusação muito grave, que exige muita cautela e prudência.
Milton Leite (União Brasil), vereador e presidente da Câmara Municipal de SP
Investigar alguém que é uma pessoa pública sem absolutamente nenhum objeto é uma punição. Devemos tratar com muita responsabilidade acusações como essa. O Psol já se manifesta absolutamente contrário pela forma como isso foi apresentado.
Elaine do Quilombo Periférico (Psol), vereadora
Nós não somos conselho tutelar ou ministério público e acho que estamos entrando em terreno movediço. Não tem cabimento a Câmara fazer isso. É imoral, contra-producente e muito ruim para a Câmara Municipal ficar discutindo essas coisas. Nós somos vereadores e temos que tratar da vida da cidade.
Eliseu Gabriel (PSB), vereador
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