Relator vota contra cassação de Moro e diz que PT tenta tirá-lo da política
O desembargador Luciano Falavinha Souza, relator dos processos que pedem a cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), votou contra a perda do mandato do parlamentar, em julgamento nesta segunda-feira (1º). Em seguida, a sessão foi suspensa.
O que aconteceu
Falavinha votou contra a cassação de Moro pelo TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná). Ele não acatou a alegação do PL e do PT, apoiada pelo Ministério Público Eleitoral, de que o senador teve vantagem indevida por ter concorrido ao Senado depois de ter feito pré-campanha à Presidência, até mudar de planos, em abril de 2022.
Segundo o desembargador, não houve prova de que Moro foi beneficiado. Os partidos argumentaram que ele cometeu abuso na disputa ao Senado por ter gastado, nos meses anteriores, mais de R$ 2 milhões na pré-campanha pelo Podemos, o que teria dado a ele mais visibilidade do que aos concorrentes.
Em seu voto, Falavinha disse que o PT busca impedir Moro de participar da vida política. Segundo o relator, o partido foi contraditório por ter buscado impedir Moro de concorrer ao Senado pelo estado de São Paulo, entrando com a ação judicial que barrou a mudança de domicílio eleitoral do ex-juiz. Mais tarde, diz o relator, o partido acusou o senador de ter feito gastos excessivos no Paraná.
Em outras palavras, o investigante [PT] buscou, e conseguiu, impedir eventual candidatura do investigado em outro estado da federação. Depois, afirma que há excesso de gastos no Paraná, porque teria extrapolado aqui o limite previsto em lei. É comportamento contraditório que, ao que parece, busca impedir o investigado [Moro] de participar da vida política
Desembargador Luciano Falavinha, relator do processo contra Moro no TRE-PR
O julgamento de Moro no TRE-PR começou hoje, e Falavinha foi o primeiro a votar. A sessão será retomada na quarta-feira (3), a partir das 14h, com o voto dos seis demais juízes. A Corte também reservou o dia 8 de abril para analisar o caso.
O Ministério Público Eleitoral foi a favor da cassação de Moro. O órgão defende que a chapa eleita com Moro seja cassada e que o senador fique inelegível.
A narrativa das iniciais de abuso de poder econômico não foi evidenciada pela prova produzida. Os gastos da pré-campanha, devidamente contabilizados, não propiciam prova robusta para cassação do diploma dos investigados. O histórico dos gastos, analisados um a um, não autoriza a conclusão de ilícito para a cassação
Desembargador Luciano Falavinha, sobre os processos movidos por PT e PL
Falavinha afirmou que o país está polarizado e que não pode julgar pelo "clamor popular". Em outro trecho do voto, o relator comentou a operação Lava Jato e disse que Moro teve "erros e acertos" na operação.
O juiz deve aplicar o Direito e se ater ao que tem nos autos, e seguir a lei, independentemente do juízo popular sobre este ou aquele caso ou pessoa, ainda mais quando evidente ampla polaridade na sociedade atual e os reflexos na Justiça midiática
Desembargador Luciano Falavinha
Não está em julgamento a Lava Jato; seus acertos, com a revelação de corrupção nunca antes vista, como os erros do investigado [Moro], que já foram reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal. Na espécie, o que se viu, não há condições para a procedência do pedido [de cassação]. Não houve abuso econômico, não houve prova de caixa 2, muito menos abuso dos meios de comunicação
Desembargador Luciano Falavinha
Palavra final será do TSE
A decisão do TRE-PR ainda não será definitiva, porque cabe recurso no TSE. O resultado poderá ser contestado no Tribunal Superior Eleitoral, que tomará a decisão final. O ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), por exemplo, venceu por 6 votos a 0 no TRE, mas acabou cassado por unanimidade no TSE.
Moro é alvo de duas ações. Uma delas foi movida pelo PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e outra, pela federação formada por PT, PC do B e PV.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberOs partidos acusam Moro de abuso de poder econômico nas eleições. Segundo as legendas, ele teve vantagem indevida na disputa pelo Senado por ter feito, nos meses anteriores, uma pré-campanha à Presidência com gastos de mais de R$ 2 milhões, que teria dado a ele mais visibilidade do que aos concorrentes.
A defesa de Moro criticou os argumentos do PT e o PL. O advogado Gustavo Guedes repudiou a alegação dos partidos de que Moro teve benefícios eleitorais com os gastos da pré-campanha.
Ninguém está julgando a Lava Jato aqui. Mas não dá para esquecer de onde ele [Moro] veio. Não dá para esquecer o nível de conhecimento dele [junto ao eleitor] (...). Como é que uma viagem para o Nordeste faz o Sergio Moro ficar mais conhecido no Paraná? Uma viagem para Tatuí, para Sorocaba. Como é que alguém pode dizer, de forma séria, que esse gasto faz ele ter voto aqui em Quitandinha? Ou ter voto em Cascavel e Londrina [cidades paranaenses]?
Gustavo Guedes, advogado de Moro, em julgamento no TRE-PR
Eventual cassação provocará eleições no Paraná
Se Moro for cassado, ficará inelegível até 2030. Por outro lado, ele não perderá os direitos políticos e poderá assumir cargos públicos não eletivos como o de ministro de Estado, que ocupou durante o governo Bolsonaro.
A cassação, se ocorrer, levará a uma eleição suplementar no Paraná. Desde o ano passado, políticos paranaenses têm manifestado abertamente interesse em concorrer ao cargo. No Congresso, parlamentares dão a cassação como quase certa e veem Moro como "ex-senador em atividade".
Já houve até pesquisas de opinião para sondar o eventual substituto de Moro. A vaga que pode ser aberta já é cobiçada por nomes como a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ex-governador Roberto Requião (PT-PR) e o deputado licenciado Ricardo Barros (PP-PR), ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara.
Deixe seu comentário