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Política

RS: Desastre foi como 'bomba que explodiu de hora para outra', diz Leite

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), 39, disse ao UOL que a tragédia causada pelas chuvas foi como uma "bomba que explodiu de uma hora para outra". Por telefone, ele afirmou também que mudanças ambientais exigem incentivos "para o caminho correto".

O que aconteceu

Eduardo Leite disse que a diferença entre enfrentar a pandemia e as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul é a rapidez da catástrofe climática. "Ela [pandemia de covid-19] foi acontecendo aos poucos. Teve um caso, depois a rotina de paralisação das atividades, as pessoas estão entendendo o que está acontecendo, os problemas vão surgindo aqui e ali", afirmou.

Chuvas foram como "bomba" no estado. "Explodiu de uma hora para a outra, regiões inteiras ficaram debaixo d'água, hospitais com problemas, a Santa Casa recebendo a informação que a subestação das companhias de energia será desligada e vai afetar as atividades", relatou. "Você está numa alta rotação sem parar e tendo que se comunicar porque as pessoas estão apreensivas."

Além do atendimento às vítimas e o monitoramento da infraestrutura, a comunicação é um desafio. Ele foi alvo de críticas por ter afirmado que sentia receio de as doações terem impacto negativo no comércio local. "Nem sempre na hora de se manifestar você vai conseguir fazer isso com clareza, de forma que as pessoas entendam, e tem todo o componente político envolvido", disse ele. "Aquela minha manifestação dizia que quem quer doar poderia ajudar duplamente, poderiam ajudar pequenos comerciantes."

Comunicação é sempre um milagre em qualquer circunstância. Quando uma pessoa fala e a outra entende um milagre acontece. Queria pedir desculpas porque a culpa é minha de não conseguir fazer as pessoas entenderem.

Incentivos para mudanças ambientais

Leite defendeu incentivos para mudanças ambientais. "Você não aperta um botão e muda como a sociedade se organiza, como as pessoas trabalham. Precisa criar incentivos, não basta sair proibindo o que é ruim para o meio ambiente, tem que criar estímulos que direcionam para o caminho correto."

Criticado pelas quase 500 mudanças que fez em normas ambientais, o governador disse que não há relação direta entre as alterações legislativas e as chuvas. Em 2020, a Assembleia do Rio Grande do Sul aprovou um novo código ambiental que alterou 480 normas ambientais. "Eram necessários ajustes de processos e procedimentos nas normas ambientais. Aqueles que querem usar isso para uma crítica não basta", disse.

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Leite anunciou a criação de um comitê científico para analisar as ações voltadas ao meio ambiente e catástrofes climáticas. "Quero recorrer para que a gente possa tomar decisões mais acertadas, lembrando que dentro do próprio meio científico há divergências."

Ele também decidiu que a Secretaria de Parcerias e Concessões vai virar Secretaria de Reconstrução. A crise climática tem colocado o governador entre a necessidade de um Estado forte para assegurar a reconstrução gaúcha e os acenos à direita e aos liberais.

'Vamos ter que bater o bumbo para ter mais agilidade'

Primeiro governador a enfrentar uma tragédia climática com essa dimensão, Leite é alvo de críticas da oposição. Parlamentares dizem que o governador gaúcho promoveu um "desmonte" e um "sucateamento" nos serviços e equipamentos de proteção ao meio ambiente e prevenção de desastres.

Leite diz que após as inundações "ninguém sairá o mesmo do Rio Grande do Sul". Principalmente, segundo ele, em relação à prioridade do tema no governo. "Não é que isso não tenha sido observado, mas puxa o tema como prioridade absoluta. Vamos ter que trazer isso para um nível de prioridade muito maior, com ações muito mais ágeis."

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Projetos como diques para contenção em cidades da região metropolitana serão priorizados. "Precisamos viabilizar esses sistemas de proteção mais rapidamente. Temos iniciativas que vão ter que adquirir mais prioridade dentro do monitoramento estratégico do governo", afirmou Leite.

É preciso oferecer uma alternativa de renda e novas vocações econômicas. É um processo de transição para novas vocações econômicas para essas regiões. Vamos ter que bater o bumbo para isso tudo acontecer mais rápido, com mais agilidade.

Cidades provisórias e programas de auxílio

O governo anunciou durante a semana a construção de quatro "cidades provisórias" para desabrigados. Para a montagem, Leite diz que depende da manifestação de prefeitos. "O primeiro passo é aguardar o encaminhamento dos próprios prefeitos. Uma vez que eles digam que têm interesse e têm uma área, vamos fazer o encaminhamento dessas estruturas."

Empresas fornecedoras terão cinco dias para selecionar equipamentos e até 15 dias para implantar, segundo o governo. Leite afirmou que, após a manifestação das prefeituras, o prazo para os desabrigados começarem a se instalar deve ser entre 20 e 30 dias.

Há previsão de novos programas de auxílio, segundo o governador gaúcho. "Entendemos que terão de ser feitas outras medidas, especialmente de financiamento para pequenos empreendedores e da compra de eletrodomésticos. Vamos ter que organizar isso com o governo federal, entendemos que não é o caso de as iniciativas concorrerem."

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Leite anunciou na sexta (17) dois programas estaduais de auxílio a famílias atingidas. Um deles pagará R$ 2.500 a pessoas em situação de pobreza e pobreza extrema e outro pagará R$ 2.000 a pessoas que ganham até três salários mínimos.

Após aliados do governador terem criticado o enviado de Lula para o Rio Grande do Sul, ele avaliou positivamente a primeira reunião com o ministro Paulo Pimenta. "No estado, a população me incumbiu dessa função. Um ministro para apoiar a reconstrução é importante."

Na eleição, eu disse que aqui não é o quintal do governo federal para nenhum dos lados. Vamos trabalhar sobre isso levando em consideração a crise como oportunidade de reunir esforços de todos os campos políticos.

Meditação antes de dormir 'para estar com a cabeça em ordem'

Leite costumava dormir por volta das 23h para acordar às 6h. Antes das enchentes, às 8h30, o governador dava início às primeiras reuniões. Nos últimos dias, ele conta que chegou a dormir três horas por noite. "Acordava com prefeitos me ligando para falar da situação das cidades." Em um dia, chegou a contabilizar 170 pedidos de entrevistas.

Ainda em meio a alagamentos e deslizamentos, ele diz que começa a organizar melhor as reuniões. "Nos primeiros dias, não tinha rotina, era gerência de crise, falando com todos para disparar comandos. Ainda lidamos com emergências, mas conseguimos fazer reuniões organizadas", diz ele.

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Leite vive em uma ala residencial do Palácio do Piratini, no Centro Histórico de Porto Alegre. O prédio não inundou — por isso, uma sala de situação da Defesa Civil foi montada no local.

O gaúcho conta que recorre à meditação antes de dormir, mas que nunca fez terapia. "A cabeça está ocupada resolvendo problemas pontuais: mandar gente, viabilizar helicópteros, os abrigos, deslocar bombeiros. Quase que não dá tempo de ficar afetado enquanto se está cuidando dos problemas. Mas, na hora de parar e respirar, é a hora mais difícil, é quando você se desarma. Quando você se despe da função de governador, é mais difícil resistir."

Ele está no segundo mandato como governador. No primeiro (2019-2022), passou pela crise de saúde provocada pela pandemia de covid-19. Leite nasceu em Pelotas e é bacharel em direito.

É difícil falar de mim. Tenho 20 anos na vida pública, fui prefeito, governador na pandemia, coleciono experiências em crise e problemas. É duro, machuca. Tive crises de choro muitas vezes. Mas sempre tomava alguma distância para ver o tamanho da bronca.

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