'Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto', diz Padilha

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou nesta sexta-feira (14) que o governo não apoiará qualquer mudança na legislação do aborto no Brasil.

O que aconteceu

A Câmara aprovou, em votação relâmpago, a urgência de um projeto de lei que equipara o aborto a homicídio após 22 semanas de gestação mesmo em casos de gravidez derivada de estupro. Com a aprovação de urgência, a proposta pode ser analisada no plenário a qualquer momento, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas.

À imprensa, Padilha disse que o governo trabalhará para derrubar a pauta. "Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto no país, ainda mais um projeto que estabelece que uma mulher estuprada vai ter uma pena duas vezes maior do que o estuprador", disse.

Não contem com o governo para essa barbaridade. Vamos trabalhar para que um projeto como esse não seja votado.
Alexandre Padilha, sobre PL do Aborto

Segundo ele, o presidente Lula (PT) "nunca faria nenhum gesto para mudar". Isso indica que o governo deve vetar o projeto, caso aprovado pelo Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no entanto, já indicou que também não deve levar a pauta para frente se ela chegar na Casa.

Em viagem à Europa, Lula não comentou o movimento da Câmara. "Deixa eu voltar para o Brasil, tomar pé da situação", disse aos jornalistas ontem.

O projeto ainda não tem data para ser votado no plenário da Câmara. Lira disse à colunista Raquel Landim que vai indicar uma "mulher moderada" para relatar o PL do aborto e que será discutido com a bancada feminina. Caso seja aprovado, seguirá para análise do Senado.

A proposta é do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que é próximo ao pastor Silas Malafaia. Lira tinha prometido colocar o tema em discussão no plenário em troca de apoio da bancada evangélica à sua reeleição na presidência da Casa em 2023.

O que pode mudar?

A proposta em tramitação na Câmara mudará quatro artigos do Código Penal. Atos que hoje não são crime ou que têm pena de até quatro anos passam a receber tratamento de homicídio simples - punição de seis a 20 anos de cadeia.

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Até mesmo os médicos poderão ser presos. Hoje, eles são considerados isentos de responder por qualquer tipo de crime. Pela proposta, poderão ser punidos em caso de interromper a gravidez de feto que não seja anencéfalo.

Situações em que aborto é permitido por lei

  • Para salvar a vida da mulher;
  • Gestação resultante de estupro;
  • Feto anencefálico - defeito na formação do tubo neural que resulta em bebê natimorto ou capaz de sobreviver apenas algumas horas.

Mudanças por artigo

Abaixo, veja como é cada artigo atualmente e como fica se o projeto for aprovado no Congresso:

Artigo 124

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Como é hoje: Proíbe a mulher de fazer aborto ou consentir que alguém faça aborto nela, exceto em situações permitidas por lei.

Como ficaria: Quando houver viabilidade do feto em gestações acima de 22 semanas, as penas serão iguais ao crime de homicídio. A pena é cancelada quando as consequências do aborto forem tão graves que a punição torna-se desnecessária.

Artigo 125

Como é: Caracteriza como crime provocar aborto não-legal sem consentimento da gestante. Pena de três a 10 anos.

Como ficaria: Em casos de feto viável, a interrupção da gravidez feita após 22 semanas de gestação será crime com pena igual ao homicídio - seis a 20 anos -, mesmo em gravidez derivada de estupro.

Artigo 126

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Como é: Prevê pena de um a quatro anos de prisão para quem provocar aborto com consentimento da gestante depois de 22 semanas.

Como fica: Estipula punição igual ao crime de homicídio

Artigo 128

Como é: Não pune o médico que interromper uma gravidez consequência de estupro.

Como fica: Se a gravidez resultante de estupro tiver viabilidade e passar das 22 semanas, o médico não estará isento de punição.

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