Criticado por jantar com Tarcísio, Campos Neto já foi a churrasco de Lula
Criticado pelo presidente Lula (PT) por ir a um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou do churrasco de confraternização oferecido por Lula no final do ano passado.
O que aconteceu
Campos Neto foi um dos convidados do churrasco oferecido por Lula no dia 21 de dezembro. O convite ao presidente do BC para confraternização na residência oficial da Granja do Torto foi uma sugestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que na época trabalhava pela aproximação de Lula e Campos Neto.
O presidente do BC permaneceu cerca de três horas no churrasco. Ele teria ficado a maior parte do tempo ao lado de Haddad, mas manteve conversa agradável com Lula sobre o crescimento da economia.
Campos Neto teria até comemorado a aprovação de projetos de lei. Ele foi visto celebrando a regulamentação de apostas esportivas e crédito de carbono com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
O presidente do Banco Central estava ontem comendo churrasco com a gente. Foi ótimo. Ele foi convidado pelo presidente. Não é a primeira vez. Ele já foi lá no Palácio do Planalto. Foi convidado para ir no [Palácio da] Alvorada [residência oficial do presidente da República] quando ele quisesse.
Fernando Haddad, após o churrasco oferecido em 21 de dezembro
O jantar com Tarcísio
Na terça-feira (18), Lula acusou Campos Neto de ter "lado político" ao criticar um jantar oferecido por Tarcísio ao presidente do BC. "A quem esse rapaz está submetido?", questionou. "Como ele vai a uma festa em São Paulo, quase assumindo a candidatura de um cargo?"
Campos Neto teria se disposto a assumir o Ministério da Fazenda em hipotético mandato presidencial de Tarcísio. Segundo o Painel da Folha, a sinalização de Campos Neto dependeria de o governador se candidatar em 2026, o que ainda não foi decidido, já que Jair Bolsonaro (PL) espera reverter sua inelegibilidade de oito anos determinada pela Justiça Eleitoral.
Campos Neto tem lado político e prejudica o país (...) Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político.
Lula, presidente da República
[Foi] Um jantar para o meu amigo Roberto, com poucos amigos, gente do meu convívio, que trabalhou com a gente no governo [Bolsonaro].
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo
Encontros contrariam BC independente
A independência do BC foi aprovada para que as decisões de seu presidente fossem técnicas. Com mandatos de dois anos, eles ficariam livres da ameaça de demissão pelo presidente da República.
Para colunistas do UOL, encontros com políticos destoam dessa premissa. "Não combina com as atribuições de um presidente independente do BC essa confraternização", afirmou Josias de Souza ao comentar o jantar com Tarcísio.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberEsses encontros não são "condizentes com a posição que Campos Neto ocupa", diz José Paulo Kupfer. "Permitindo alimentar todo tipo de teoria sobre sua atuação à frente do BC, inclusive as conspiratórias", diz o colunista.
A autonomia do BC não é crível enquanto a indicação for política. "Só vou acreditar em alguma coisa parecida com autonomia quando a turma que forma a autoridade monetária for constituída só por profissionais de carreira", diz Reinaldo Azevedo. Hoje, o presidente da República indica um nome, mas quem escolhe é o Senado em votação.
Para evitar a proliferação dessas teorias, o comportamento do presidente do BC deve ser rigidamente discreto, atendo-se de preferência a manifestações institucionais e públicas.
José Paulo Kupfer
Era essa a autonomia que queriam? Ainda não! Campos Neto é um agente político que articula com o Congresso também a independência financeira do BC.
Reinaldo Azevedo
Procurado, o Banco Central não respondeu até a publicação desta reportagem.
Deixe seu comentário