Lula diz que leilão de arroz foi anulado por 'falcatrua'
O presidente Lula (PT) admitiu nesta sexta-feira (21) que o leilão de compra internacional de arroz foi anulado por "falcatrua de uma empresa". O certame foi cancelado após denúncias de que as empresas vencedoras não eram do ramo e não tinham capacidade técnica para realizar a importação.
O que aconteceu
O leilão arrematou 263,7 mil toneladas de arroz importado, com objetivo de evitar alta dos preços. Depois de convocar as empresas vencedoras, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) constatou que elas não tinham capacidade para entrega e anulou o pleito.
"Tivemos anulação do leilão porque houve uma falcatrua numa empresa", disse Lula, em entrevista à rádio Meio Norte, do Piauí. Isso contrapõe a fala do ministro Carlos Fávaro (Agricultura), que evitou falar em irregularidades durante o anúncio da anulação, no início do mês.
Lula reafirmou que o objetivo era segurar o preço do produto, impactado após as enchentes do Rio Grande do Sul, maior produtor do alimento. "Não é possível, o povo não pode pagar R$ 36 num pacote de 5 kg. Aí tomei a decisão de importar 1 milhão de toneladas. A gente vai dar uma garantia de preço", disse.
O leilão foi realizado pelo governo sob o argumento de suprir as perdas do Rio Grande do Sul, mas foi contestado pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária). A entidade disse que não havia risco de desabastecimento e que a quantidade de arroz colhida antes das chuvas seria suficiente para atender a demanda nacional. A Federação Nacional dos Produtores de Arroz também negou risco de desabastecimento.
Um novo leilão será realizado, mas ainda não tem data. Segundo Fávaro, a AGU (Advocacia-Geral da União) ajudará na elaboração do novo edital para que haja "mais transparência".
Suspeitas após resultado
Entre as empresas vencedoras, havia sorveterias e locadoras de máquinas. Só uma das vencedoras, Zafira Trading, é do ramo, conforme revelou o Estadão.
Edegar Pretto, presidente da Conab, argumentou que, como o leilão foi feito com Bolsas de Mercadorias, só se descobriu o segmento das vencedoras depois do resultado. "A partir da revelação de quem são essas empresas, começaram os questionamentos se essas empresas teriam capacidades técnicas e financeiras para honrar os compromissos de um volume expressivo de dinheiro público."
"Não tem como a gente depositar o dinheiro público sem ter as garantias de que esses contratos serão honrados", admitiu. Segundo o presidente da Conab, o governo não realizou nenhum pagamento às vencedoras.
Saída de Geller
O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, foi demitido após as denúncias. Ele já havia sido cobrado por Lula para que explicasse a possível relação entre sua família e uma das corretoras do certame.
A principal corretora do leilão, FOCO Corretora de Grãos, pertence a um ex-assessor de Geller. Conforme revelou o portal especializado The AgriBiz, Robson Almeida de França trabalhou com Geller enquanto deputado e é sócio do filho dele, Marcello Geller.
Fávaro negou irregularidades. "[Não houve] nenhum fato que gere qualquer tipo de suspeita. Mas que, de fato, gerou um transtorno e por isso ele colocou hoje de manhã o cargo à disposição", afirmou o ministro. Geller, porém, disse que foi demitido.
A exoneração do diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, que organizou o leilão, não foi confirmada. Ele foi indicado diretamente por Geller e também deverá ser substituído.
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