Bolsonaro diz em áudio que Witzel pediu vaga no STF para blindar Flávio

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel prometeu "resolver" o caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado por suspeita de rachadinhas, se fosse indicado para ministro do STF.

O que aconteceu

A declaração de Bolsonaro consta na conversa gravada pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na ocasião, ele era diretor da Abin e participaria de uma espécie de força-tarefa para blindar Flávio Bolsonaro da investigação.

O próprio Bolsonaro descreve uma conversa com o ex-governador: "Ele [Witzel] falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo".

Uma advogada do senador pede a confirmação sobre quem teria feito a proposta de blindagem. Bolsonaro retoma a palavra e tira qualquer dúvida: "O Witzel".

Bolsonaro disse que Witzel ofereceu blindar Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas em troca de vaga no STF
Bolsonaro disse que Witzel ofereceu blindar Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas em troca de vaga no STF Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Outra advogada de Flávio não esconde a surpresa e fala: Olha isso! Bolsonaro e o general Augusto Heleno, então ministro do GSI, explicam a motivação da proposta do ex-governador do Rio com uma frase: "Sede de poder".

Witzel negou que tenha pedido vaga no STF em troca de blindar Flávio Bolsonaro. Ele ainda disse que o ex-presidente citou um diálogo que nunca existiu e ironizou o motivo de Bolsonaro supostamente estar se confundindo. O ex-governador ressaltou que, no entender dele, a Abin e a PF agiram para ajudar a família Bolsonaro.

O Presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria o que hoje se está verificando com a Abin e Policia Federal,

Ex-governador Wilson Witzel

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Gravação para flagrar crime

O deputado Alexandre Ramagem afirmou que a gravação da reunião ocorreu para produzir prova de um crime. Ele declarou que recebera a informação de que uma pessoa enviada pelo então governador do Rio faria "uma proposta nada republicana".

O parlamentar afirmou que Bolsonaro consentiu com a gravação para haver um flagrante. Acrescentou que o crime seria contra o então presidente e, como a suspeita não se comprovou, a gravação foi descartada.

Ramagem também afirmou que Bolsonaro pouco se manifestou na reunião. Ele disse que nas ocasiões em que falou o então presidente teria dito que não queria favorecimento. Por fim, o deputado contou que as defensoras de Flávio Bolsonaro queriam uma investigação via GSI e ele teria alertado que não era a via correta.

Flávio Bolsonaro afirmou que não houve nada de ilegal na reunião. Por meio de nota, o senador declarou que foi exposta a existência de um grupo dentro da Receita Federal que tentaria prejudicá-lo. Ele reiterou que o então presidente determinou que não deveria haver "jeitinho".

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Witzel sofreu impeachment

O ex-governador foi afastado do cargo em abril de 2020.O motivo foi uma operação da Polícia Federal sobre desvios na saúde. Edmar Santos, ex-secretário da saúde, virou delator e relatou um esquema de corrupção com Witzel como comandante.

As suspeitas eram de direcionamento de licitações mediante propina. Parte das ilegalidades envolvia hospitais de campanha durante a pandemia de covid-19.

Além do impeachment, Witzel responde processo judicial. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República e o caso foi remetido para o Superior Tributal de Justiça.

Na época, o ex-governador afirmou que houve perseguição. Em entrevista à CNN, ele admitiu que houve corrupção por parte de agentes durante a gestão dele, mas se isentou de responsabilidades e declarou que estava sendo perseguido por Bolsonaro.

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Fim do sigilo

Hoje, o ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo sobre a gravação de uma reunião para tratar do caso de Flávio Bolsonaro. De acordo com a investigação, houve participação de duas advogadas do senador, do ministro do GSI, do diretor da Abin e de Jair Bolsonaro, então presidente.

O encontro foi gravado por Alexandre Ramagem e o arquivo foi encontrado por agentes da Polícia Federal. O material faz parte da apuração da chamada "Abin paralela", um suposto esquema que serviria para blindar aliados de Bolsonaro e espionar adversários.

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