Bolsonaro diz em áudio que Witzel pediu vaga no STF para blindar Flávio
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel prometeu "resolver" o caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado por suspeita de rachadinhas, se fosse indicado para ministro do STF.
O que aconteceu
A declaração de Bolsonaro consta na conversa gravada pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na ocasião, ele era diretor da Abin e participaria de uma espécie de força-tarefa para blindar Flávio Bolsonaro da investigação.
O próprio Bolsonaro descreve uma conversa com o ex-governador: "Ele [Witzel] falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo".
Uma advogada do senador pede a confirmação sobre quem teria feito a proposta de blindagem. Bolsonaro retoma a palavra e tira qualquer dúvida: "O Witzel".
Outra advogada de Flávio não esconde a surpresa e fala: Olha isso! Bolsonaro e o general Augusto Heleno, então ministro do GSI, explicam a motivação da proposta do ex-governador do Rio com uma frase: "Sede de poder".
Witzel negou que tenha pedido vaga no STF em troca de blindar Flávio Bolsonaro. Ele ainda disse que o ex-presidente citou um diálogo que nunca existiu e ironizou o motivo de Bolsonaro supostamente estar se confundindo. O ex-governador ressaltou que, no entender dele, a Abin e a PF agiram para ajudar a família Bolsonaro.
O Presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria o que hoje se está verificando com a Abin e Policia Federal,
Ex-governador Wilson Witzel
Nunca mantive qualquer relação pessoal ou profissional com o juiz Flavio Itabaiana e jamais ofereci qualquer tipo de "auxílio" a qualquer um durante meu governo.
-- Wilson Witzel (@wilsonwitzel) July 15, 2024
Gravação para flagrar crime
O deputado Alexandre Ramagem afirmou que a gravação da reunião ocorreu para produzir prova de um crime. Ele declarou que recebera a informação de que uma pessoa enviada pelo então governador do Rio faria "uma proposta nada republicana".
O parlamentar afirmou que Bolsonaro consentiu com a gravação para haver um flagrante. Acrescentou que o crime seria contra o então presidente e, como a suspeita não se comprovou, a gravação foi descartada.
Ramagem também afirmou que Bolsonaro pouco se manifestou na reunião. Ele disse que nas ocasiões em que falou o então presidente teria dito que não queria favorecimento. Por fim, o deputado contou que as defensoras de Flávio Bolsonaro queriam uma investigação via GSI e ele teria alertado que não era a via correta.
Flávio Bolsonaro afirmou que não houve nada de ilegal na reunião. Por meio de nota, o senador declarou que foi exposta a existência de um grupo dentro da Receita Federal que tentaria prejudicá-lo. Ele reiterou que o então presidente determinou que não deveria haver "jeitinho".
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Quero receberRelato sobre a reunião de agosto de 2020.
-- Delegado Ramagem (@delegadoramagem) July 15, 2024
O Presidente Bolsonaro sempre se manifestou na reunião por não querer favorecimentos ou jeitinhos.
Eu me manifestei contrariamente à atuação do GSI no tema, indicando o caminho por procedimento administrativo pela Receita Federal,? pic.twitter.com/74JYjH7jkq
Witzel sofreu impeachment
O ex-governador foi afastado do cargo em abril de 2020.O motivo foi uma operação da Polícia Federal sobre desvios na saúde. Edmar Santos, ex-secretário da saúde, virou delator e relatou um esquema de corrupção com Witzel como comandante.
As suspeitas eram de direcionamento de licitações mediante propina. Parte das ilegalidades envolvia hospitais de campanha durante a pandemia de covid-19.
Além do impeachment, Witzel responde processo judicial. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República e o caso foi remetido para o Superior Tributal de Justiça.
Na época, o ex-governador afirmou que houve perseguição. Em entrevista à CNN, ele admitiu que houve corrupção por parte de agentes durante a gestão dele, mas se isentou de responsabilidades e declarou que estava sendo perseguido por Bolsonaro.
Fim do sigilo
Hoje, o ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo sobre a gravação de uma reunião para tratar do caso de Flávio Bolsonaro. De acordo com a investigação, houve participação de duas advogadas do senador, do ministro do GSI, do diretor da Abin e de Jair Bolsonaro, então presidente.
O encontro foi gravado por Alexandre Ramagem e o arquivo foi encontrado por agentes da Polícia Federal. O material faz parte da apuração da chamada "Abin paralela", um suposto esquema que serviria para blindar aliados de Bolsonaro e espionar adversários.
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