Silvio Santos tentou ser presidente, prefeito de SP e teve genro ministro

Silvio Santos tentou ser presidente da república, prefeito de São Paulo e teve um genro à frente do Ministério das Comunicações. Com um histórico de mais de 40 anos de diferentes relações com o universo político, o empresário e apresentador de TV morreu neste sábado, aos 93 anos de idade.

O que aconteceu

Silvio era sogro de Fabio Faria, ministro de Jair Bolsonaro. Em 2020, o então presidente recriou a pasta das comunicações (extinta quatro anos antes) e entregou o comando a Faria, que era deputado federal e é casado com Patricia Abravanel, uma das filhas do apresentador. À época, o comentário na Câmara dos Deputados era de que a proximidade entre Silvio e Bolsonaro pesou na escolha.

Concessão para SBT foi negociada no fim da ditadura. Em 1981, o grupo Silvio Santos obteve autorização para operar canais de TV nas cidades de Rio, São Paulo, Porto Alegre e Belém — o que possibilitou ao conglomerado a formação do Sistema Brasileiro de Televisão, que segue no ar até hoje.

À época, a Folha noticiou que pessoas ligadas ao apresentador participaram de reuniões "na esfera da Presidência da República". O presidente era João Figueiredo, o último da ditadura. Uma reportagem publicada pelo UOL em 2013 apontou que Silvio e outras personalidades foram monitorados pelos militares.

Trajetória de Silvio mostra que transformar visibilidade em capital político é desafio. Para a cientista política Tathiana Chicarino, fatores como estrutura partidária e apoio de outros políticos são decisivos para converter reconhecimento público em viabilidade eleitoral.

Toda candidatura tem, especialmente quando a gente fala em cargos majoritários, ela tem que ter alguma capilaridade na sociedade, seja ela mais ligada a partidos, seja ela mais ligada a movimentos, corporações, enfim
Tathiana Chicarino, cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Pesquisadora lembra que, além de Silvio, outros nomes já tentaram fazer o mesmo movimento no Brasil. Um exemplo é o apresentador de TV Luciano Huck, que foi cotado como pré-candidato à presidência em 2022. Outro exemplo mais recente é o do jornalista José Luiz Datena, que deixou o comando de um programa policial na Band para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB em 2024.

Silvio para presidente

Candidatura em 1989 foi articulada por setores do PFL. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, a menos de um mês das eleições, políticos da legenda agiram nos bastidores para que Silvio substituísse Armando Correia como candidato do PMB (Partido Municipalista Brasileiro). Antes, eles haviam tentado, sem sucesso, que o apresentador concorresse pelo PFL.

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Silvio chegou a ter 14% das intenções de voto, empatanto com Lula, de acordo com o Datafolha. À época, as pesquisas apontavam que as camadas mais pobres da população concentravam os votos do apresentador e que o apresentador poderia chegar ao segundo turno — que acabou ficando entre Collor e Lula (PT) — o alagoano venceu a disputa.

Impugnação da candidatura veio por problema no partido. De acordo com a Justiça Eleitoral, o PMB solicitou seu registro definitivo sem ter realizado convenções em, pelo menos, 20% dos municípios de nove estados, como determinava a legislação. Além disso, o fato de Silvio não ter se desvinculado do comando do SBT seis meses antes do pleito também foi levado em conta.

Tentativa de disputar a Prefeitura de São Paulo terminou em pancadaria em 1992. À época filiado ao PFL, Silvio tentou ser o nome do partido na cidade nas eleições daquele ano. Mas a falta de apoio a ele dentro da legenda causou até briga em convenção e impediu que o projeto prosperasse. Arnaldo Faria de Sá foi o candidato do PFL naquela disputa, vencida por Paulo Maluf (PDS).

Nome do apresentador foi ventilado para cargos em outros momentos. Nas eleições de 1988, o PFL o considerou como uma alternativa para disputa da Prefeitura de São Paulo. A mesma situação se repetiu dentro do partido em 2002, quando Silvio era visto como uma opção para disputar a presidência. Nas duas ocasiões, a falta de apoio fez com que o empresário não fosse escolhido candidato.

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