Silvio Almeida 'pressionou minhas partes íntimas', diz professora

A professora universitária Isabel Rodrigues, candidata a vereadora em Santo André pelo PSB, afirma que foi vítima de assédio sexual por parte do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em um restaurante no centro de São Paulo, em 2019. É a primeira pessoa a denunciar publicamente o ministro.

O que aconteceu

O assédio sexual teria ocorrido em 3 de agosto de 2019, em um almoço com cerca de 15 pessoas, no centro de São Paulo, após um curso. "Foi muito estranho porque estávamos com muitas pessoas e eu estava de saia, lembro da mão dele nas minhas partes íntimas, pressionando, fiquei com muita vergonha", disse ao UOL a professora, de 45 anos.

Isabel afirma que conhecia Almeida desde 2015 e que eles mantinham uma relação de amizade. "Fiz parte da Escola de Governo de São Paulo entre 2003 e 2018. Eu era professora. Em 2016, Silvio começou a fazer parte do conselho pedagógico".

Antes do episódio, o ministro teria convidado a professora a ir ao escritório dele, também no centro de São Paulo — ela afirma que recusou. "Sempre respeitei muito a esposa dele e o fato de ele ser casado. Ele me convidou para ir ao escritório e eu não subi. A amizade prevaleceu."

Três meses depois do ocorrido, Isabel diz que trocou mensagens e ligações com o ministro para "compreender se ele sabia a gravidade do que tinha ocorrido". "Foi depois de alguns meses que eu me dei conta da necessidade de falar. Fui procurá-lo porque isso tem reverberado de uma forma muito ruim na minha vida", afirmou ao UOL.

No diálogo, Almeida teria tentado negar assédio, segundo Isabel. "Ele disse que eu estava ficando maluca, que isso nunca tinha acontecido", diz a professora. "Eu questionei se ele tinha me perguntado antes se poderia tocar meu corpo. Depois, ele disse que estava muito mal, porque tinha feito isso com uma amiga pela qual tinha muito apreço", afirma.

Em um segundo momento, Isabel afirma que Silvio Almeida recuou e disse que iria para uma sessão de terapia. "Ele viu que não tinha como negar".

A professora não fez um boletim de ocorrência para não ser revitimizada em uma delegacia, diz ela. "Fiquei imaginando como seria ser tratada numa delegacia e sofrer mais violência", disse ao UOL.

Também diz que ficou com medo de denunciar porque Almeida era advogado. "Minha vontade era de denunciar, mas eu fui desencorajada por ele ser advogado - e, depois, ministro. Tentei tratar isso sem fazer a denúncia", diz.

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Isabel diz que fez terapia para lidar com o abuso sexual e que relatou o caso a amigos na época. Ontem, após as denúncias contra o ministro virem a público, Isabel recebeu apoio da família e dos amigos que conheciam o caso.

Hoje, Isabel também publicou o relato em suas redes sociais. "O que me fez fazer a declaração pública agora foi ter ouvido dele que as mulheres que estão denunciando hoje são mentirosas e que fazem parte de um grupo [com objetivo de prejudicá-lo]."

O UOL procurou Silvio Almeida a respeito da denúncia de Isabel, mas não obteve retorno até a publicação. O texto será atualizado caso o ministro se pronuncie. A respeito das denúncias de assédio sexual divulgadas ontem, Almeida tem negado com veemência e se dito inocente e vítima de perseguição.

A sensação agora [com as denúncias vindo à tona] é de justiça. Tenho necessidade de dar as mãos a essas mulheres para que elas não tenham o corpo invadido.
Isabel Rodrigues, professora que relata ter sido assediada por Silvio Almeida

Ministro alvo de acusações de assédio

Almeida é alvo de acusações de assédio sexual. Em nota emitida na quinta-feira (5), a ONG Me Too Brasil confirmou que recebeu denúncias de assédio sexual por parte do ministro, feitas de forma anônima.

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Após o caso vir à tona, o governo Lula anunciou medidas para investigar o caso com celeridade. Ontem à noite, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto divulgou nota afirmando que as denúncias são graves e serão apuradas com rigor.

Na tarde desta sexta-feira, Anielle confirmou as denúncias a interlocutores, segundo apurou o UOL. A ministra disse aos colegas que foi vítima de importunação sexual e assédio por parte de Sílvio Almeida.

A demissão de Almeida do cargo de ministro deve acontecer em breve, segundo fontes do Planalto. Lula teria sido informado do teor da conversa com Anielle com os colegas e ficado irritado. Para quem conversou com o presidente, a demissão de Silvio Almeida é iminente.

Ao se dizer inocente, o ministro também diz que "qualquer denúncia deve ter materialidade". Ele chamou os relatos reunidos pelo MeToo de "ilações absurdas" e disse que os relatos teriam como intuito prejudicá-lo. Ele disse que as acusações partem de "um grupo querendo apagar e diminuir as nossas existências". "Com isso, perde o Brasil, perde a pauta de direitos humanos, perde a igualdade racial e perde o povo brasileiro."

Ministro disse que "toda e qualquer denúncia deve ser investigada com todo o rigor da lei". "É preciso que os fatos sejam expostos para serem apurados e processados. E não apenas baseados em mentiras, sem provas. Encaminharei ofícios para Controladoria-Geral da União, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República para que façam uma apuração cuidadosa do caso."

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do publicado na reportagem, o site Metrópoles não informou que existem 14 vítimas de assédio sexual por parte do ministro. O site apontou que conversou com 14 pessoas sobre como teriam ocorrido os episódios. A informação foi corrigida.

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