Governo de SP anuncia gabinete de crise e agentes para fiscalizar a Enel

O governo de São Paulo anunciou que vai montar um gabinete de crise sobre o apagão em São Paulo, a partir de amanhã. Além disso, a Defesa Civil estadual terá agentes dentro do centro de operações da Enel a partir da tarde desta quinta-feira (17) para acompanhar o atendimento de eventuais ocorrências causadas pelas chuvas previstas para o final de semana.

O que aconteceu

Prefeitura, governo do estado, Aneel e Enel fizeram reunião nesta manhã para discutir o apagão em São Paulo. Participaram o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Sandoval Feitosa Neto, e o presidente da Enel, Guilherme Lencastre. Os prefeitos de Cotia, Rogério Cardoso (PSD), e de Taboão da Serra, Aprigio Gonzaga (Podemos), também foram convidados para o encontro no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista.

Ao final do encontro, o estado prometeu fiscalizar a Enel e manter equipes dentro das empresas de energia. A fiscalização será feita por um gabinete de crise montado pela Defesa Civil do Estado de São Paulo a partir das 8h desta sexta-feira (18). "Teremos representantes de cada área de segurança, para que a gente possa ter uma visão real de tudo o que está acontecendo", afirmou Pereira.

São Paulo tem previsão de chuva no fim de semana. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a cidade pode ter tempo nublado e pancadas de chuvas isoladas no sábado —além de ventos de intensidade moderada. Ontem, a prefeitura da capital anunciou um esquema especial para atender eventuais ocorrências.

O governo do estado afirmou que a Enel falhou na transparência. Questionado se há desconfiança de que a Enel não tenha cumprido o prometido para a operação na última semana, o responsável pela Defesa Civil respondeu que o "plano de contingência das empresas não era tão transparente". "Faltou alguma coisa, e isso é nítido. Temos cidadãos sem energia na ponta da linha", disse Pereira.

Para o governo, "uma nova chuva é uma nova preocupação". O coordenador da Defesa Civil também assumiu que o gabinete de crise pode não ser temporário. "Pode ser que seja o normal daqui pra frente, a chuva começou agora. Essa chuva agora vem num volume um pouquinho maior do que tivemos na semana passada", falou.

Enel prometeu ter de 700 a 1.200 equipes nas ruas. Além disso, assumiu o compromisso de ampliar a quantidade de geradores: cinco de grande porte serão instalados em locais pré-determinados e 500 serão direcionados para estações da Sabesp, hospitais e outros pontos críticos. Além deles, dois transformadores móveis serão instalados em áreas com maior número de usuários afetados.

Já estado e prefeitura somam quase 10 mil pessoas nas ruas de São Paulo. São 4.300 agentes municipais, da Defesa Civil e de zeladoria. Do governo do Estado, além da Defesa Civil, os esforços do Corpo de Bombeiros e de outros agentes somam 5.400 pessoas.

De agora até o começo de dezembro, chuvas de curta duração, forte intensidade e acompanhadas de rajadas de vento devem ser recorrentes. A chuva de sexta feira durou de 15 a 20 minutos e nós tivemos sete óbitos aqui no estado.
Coronel Henguel, coordenador da Defesa Civil do Estado de São Paulo

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Representantes da Defesa Civil do estado e do município participaram de uma coletiva de imprensa para falar sobre o gabinete de crise montado para monitorar a Enel
Representantes da Defesa Civil do estado e do município participaram de uma coletiva de imprensa para falar sobre o gabinete de crise montado para monitorar a Enel Imagem: Saulo Pereira Guimarães

Crise da energia em São Paulo chega ao sexto dia. Após a tempestade e os ventos da última sexta (11), milhares de pessoas ficaram sem luz em casa na capital e em outras cidades da região metropolitana. A Enel declarou o fim da crise nesta quinta, mas 36 mil imóveis seguem sem energia.

Instabilidades acontecem a uma semana do segundo turno. Na primeira fase das eleições, Nunes e Boulos foram os mais votados na disputa com, respectivamente, 29,48% e 29,07% dos votos — a menor diferença desde a redemocratização, em 1985.

Nunes faltou a debate para participar da reunião. Na madrugada desta quinta, o prefeito cancelou sua participação no debate organizado por UOL/Folha/RedeTV! com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). "Desde a tempestade de sexta-feira passada, foram desmarcados diversos compromissos da campanha à reeleição, dando prioridade às urgências da Prefeitura", afirmou o emedebista.

Boulos compareceu e, entrevistado, incluiu o governador Tarcísio de Freitas entre os culpados pelo apagão. Para ele, faltou fiscalização da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), que é controlada pelo governo estadual e tem a diretoria e todos os conselheiros indicados por Tarcísio.

Já o governador acusa a Enel e o governo federal. Em entrevista na última segunda (15), Tarcísio afirmou que o governo estadual teve de tomar providências para manter o fornecimento de água e o funcionamento de hospitais, já que a concessionária não se mobilizou. O governador acionou o TCU (Tribunal de Contas da União) em busca de ajuda. "A gente fica cobrando informações ao presidente da Enel e tem quase que pedir pelo amor de Deus para que elas sejam disponibilizadas", criticou.

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Ontem, Nunes disse que filmará porta de garagens da Enel para checar se empresa está colocando todos os caminhões na rua. Dois dias antes, ele chamou o ministro Alexandre Silveira (PSD), de Minas e Energia, de "vagabundo". A Aneel é vinculada ao ministério.

Quem é o culpado pelo apagão?

No sistema de concessão de serviços públicos a empresas privadas, como é o caso do fornecimento de energia elétrica, as responsabilidades são compartilhadas.

A concessionária Enel tem responsabilidade direta pela falta de luz. Porém, o contrato de concessão da empresa não prevê prazo para restabelecimento do serviço em caso de um evento climático que provoque a falta de luz, como a tempestade da última sexta-feira (11). A resolução regulatória que trata do tema fala somente em prazo para restabelecimento em caso de corte por falta de pagamento. Nesse caso, o prazo é de até 24 horas em regiões urbanas e 48 horas em áreas rurais.

Ações preventivas são de responsabilidade da Enel e da prefeitura. É a administração municipal quem cuida das árvores na cidade, mas as distribuidoras de energia devem realizar a poda nos casos em que houver risco para o sistema elétrico.

A Aneel tem o objetivo de fiscalizar as concessionárias. Cabe à agência reguladora a missão de controlar os contratos de concessão celebrados. Fica também a critério da Aneel eventuais punições. A diretoria colegiada da Aneel é composta por um diretor-geral e quatro diretores, nomeados pelo presidente da República, após aprovação do Senado Federal, para mandatos não coincidentes de quatro anos. No momento, está vaga uma posição na diretoria.

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O governo paulista também tem uma agência reguladora estadual. É a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), que fiscaliza todas as concessionárias do estado, sendo que a Enel tem 37% de todos os clientes paulistas.

Fiscalização das agências reguladoras resulta em diferentes cobranças quando falhas são identificadas. O artigo 37 da Constituição Federal diz que as empresas prestadoras de serviços públicos "responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa".

As reguladoras federal e estadual podem aplicar penalidades às concessionárias. Mas uma eventual rescisão do contrato só pode ser determinada pela Aneel, em um processo que não é simples nem rápido.

O governo federal não consegue mudar essas regras. A lei que instituiu a agência determina que é sua função cuidar da concessão. Caso a concessão seja encerrada, o contrato determina que o governo assuma os serviços. O objetivo é garantir a sua continuidade e regularidade.

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