'Envenenamento, tiro ou artefato explosivo': os detalhes do plano golpista

A Polícia Federal encontrou, em um HD externo apreendido com o general Mario Fernandes, um detalhado plano que lista várias opções para assassinar o presidente Lula e seu vice, Geraldo Alckmin, e que traz até uma relação de armas incluindo lança granadas e lança-mísseis para alvejar o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O que aconteceu

Plano golpista foi descoberto pela PF após buscas nos endereços de general da reserva. Material foi apreendido nas etapas anteriores da investigação sobre tentativa de golpe de estado e ajudou a embasar a operação desta terça-feira (19) que prendeu Mario Fernandes, outros três militares e um agente da PF envolvidos na suposta trama golpista.

Documento de três páginas é dividido em tópicos que incluem equipamentos, análises de cenário e de riscos. O documento foi impresso no Palácio do Planalto em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais, e levado para o Palácio do Alvorada, onde Bolsonaro ficou recluso após a derrota.

General tinha plano detalhado para assassinar autoridades
General tinha plano detalhado para assassinar autoridades Imagem: Reprodução

Material surpreendeu investigadores pelo nível de detalhamento, armamentos cogitados e cenários traçados. Chamado de "Punhal Verde Amarelo", o planejamento encontrado com o militar da reserva que atuou na Secretaria-Geral da Presidência durante a gestão Bolsonaro lista cenários para alvejar, segundo a PF, o ministro Alexandre de Moraes, além de Lula e Alckmin.

Também há indicativo de ação contra um terceiro político. Ele é identificado no plano como "Juca" e a ação aconteceria após a eventual morte do presidente e do vice, mas a PF não conseguiu identificar quem seria este.

Algumas psb (sic) já foram levantadas para a Aç Pcp (Ação principal, segundo a PF), entretanto, ainda são necessárias avaliações quanto aos locais viáveis, condições para execução (tiro à curta, média ou longa distância, emprego de munição e/ou artefato explosivo) (...) outra possibilidade foi levantada para o cumprimento da missão, buscando um elemento químico e/ou biológico, o envenenamento do alvo, prefefencialmente, durante um evento oficial público. O nosso rec (sic) também está levantando as condições para tal L Aç (linha de ação, segundo a PF).Trecho do documento golpista encontrado pela PF com general Mário Fernandes

Rifles e lança granadas. Em um tópico específico, o planejamento lista o armamento que a PF aponta que seria utilizado para alvejar Moraes e sua equipe de segurança. Os itens incluem uma metralhadora M249, um lança-granadas e um lança-misseis AT4, utilizado para combater blindados e estruturas fortificadas.

Monitoramento e tentativa de matar Moraes. Feito no word, o documento era dividido em tópicos e mesmo sem citar o nome do ministro, o texto indicava o monitoramento de endereços e locais que coincidem com o monitoramento que era feito com Moraes, segundo a PF.

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O contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento
revelam que o grupo investigado trabalhava com a possibilidade de assassinato do ministro Alexandre de Moraes. Tal fato é reforçado pelo tópico denominado "Danos colaterais passiveis e aceitáveis", em que o documento descreve como passível "100%" e aceitável também o percentual de "100%". Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de "neutralizar" o denominado "centro de gravidade", que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado
.Trecho da representação da PF

Militares golpistas chegaram a se mobilizar para tentar alvejar Moraes, diz PF. Militares presos hoje chegaram a se deslocar até a casa dele em Brasília em 15 de dezembro, mas mensagens e registros de antenas de celular e deslocamento de carros indicam que eles desmobilizaram de última hora após a sessão do STF que estava ocorrendo no dia ser encerrada mais cedo.

Em outra página, planejamento golpista lista estratégias para alvejar presidente, vice e mais um político. Em um tópico específico sobre "condições de execução" documento usa os apelidos "Jeca" para se referir a Lula e "Joca" para se referir a Alckmin e aponta as opções para alvejá-los. Ao descrever possíveis ações contra presidente e vice, porém, plano não detalha quais armamentos seriam utilizados.

Pela análise, o codinome JECA seria uma alusão ao atual presidente LUIS INÁCIO "LULA" DA SILVA. O texto cita que "sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB". Considerando que o vice-presidente de LULA é GERALDO ALCKMIN, que é historicamente vinculado ao partido PSDB, em caso de uma "neutralização" de LULA, ALCKMIN assumiria a Presidência da República, o que faria a chapa vencedora ficar "sob a tutela principal do PSDB", como sugere o autor. Para execução do presidente LULA, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico.Trecho da representação da PF sobre o plano golpista encontrado com general da reserva

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