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Bolsonaro tentou ser kid preto, mas falhou 2 vezes: 'Fui deixado pra trás'

Bolsonaro e o general Mario Fernandes em quartel do Exército em Goiânia (GO) Imagem: Isac Nóbrega / Presidência da República

Colaboração para o UOL

26/11/2024 05h30

Em discurso na Câmara dos Deputados em 2019, Bolsonaro revelou sua frustração por não ser aprovado no curso que forma os 'kids pretos', elite do Exército Brasileiro, cujos membros estão sendo investigados por tentativa de golpe em 2022.

O que aconteceu

Bolsonaro desabafou sobre frustrações de sua carreira militar ao mencionar suas reprovações no curso de comandos. Durante uma sessão solene em homenagem ao Copesp (Comando de Operações Especiais), realizada em 15 de junho de 2019, na Câmara dos Deputados, o então presidente mencionou: "Gostaria de ter tentado o curso de comandos e, uma vez aprovado, sabendo da dificuldade do curso, tentar ser forças especiais lá atrás. Não tive sucesso".

Ele relatou que foi reprovado em duas tentativas nos exames preparatórios. "Tentei por duas vezes fazer o curso de comandos, mas nos exames preparatórios, que não foram os físicos, fui deixado para trás", declarou durante o discurso.

Os 'kids pretos', conhecidos fora da caserna como "caveiras" são considerados a elite militar do Brasil. Vinculados ao Copesp, o grupo é reconhecido pelo treinamento em infiltração, resistência à tortura e operações de guerra irregular. O apelido vem do gorro preto usado em missões. O lema do grupo é "qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira".

Bolsonaro exaltou o papel estratégico do Copesp durante o discurso. Ele afirmou que, além de realizar operações sigilosas, o grupo é fundamental para a dissuasão de ameaças. "Melhor do que uma boa operação é ter meios pela dissuasão de que o inimigo não ouse nos afrontar", declarou.

Investigações recentes

O general Mario Fernandes, que também discursou na sessão, foi preso na semana passada. À época comandante de Operações Especiais, Fernandes está sendo acusado de planejar os assassinatos do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Ele também é investigado por supostamente coordenar atos antidemocráticos no acampamento montado em frente ao QG do Exército, em Brasília, após as eleições de 2022.

Fernandes, ex-secretário-executivo do Palácio do Planalto, tornou-se figura-chave na investigação do golpe. Segundo a Polícia Federal, Fernandes desempenhava o papel de orientador estratégico para caminhoneiros, produtores do agronegócio e apoiadores bolsonaristas que mantinham acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília, após as eleições de 2022.

A Polícia Federal identificou mensagens que ligam Fernandes a manifestantes golpistas. Segundo os investigadores, ele era o ponto de contato entre militares e civis envolvidos nos atos antidemocráticos e teria fornecido suporte material e orientações. Documentos mostram que o general trocou mensagens diretas com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e com líderes de movimentos radicais, incluindo caminhoneiros e membros de comunidades religiosas.

Os investigadores destacaram a influência do general nos movimentos golpistas. Em mensagens interceptadas, Fernandes teria incentivado manifestantes a manterem a pressão contra o resultado das eleições e sugeriu estratégias para ações na Esplanada dos Ministérios e no QG do Exército. A PF aponta que ele chegou a comemorar o discurso de Bolsonaro aos manifestantes em frente ao Alvorada, considerando-o uma validação de suas ações.

Proximidade com o governo Bolsonaro. Durante o mandato presidencial, 26 integrantes das forças especiais ocuparam cargos estratégicos, incluindo Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Casa Civil, e Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Mensagens revelaram que o general Fernandes tinha contato direto com o presidente e teria buscado apoio para dar continuidade às mobilizações antidemocráticas.

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