Ex-ministro da Defesa chamou Bolsonaro de 'ingrato' em mensagem a Mauro Cid

Mensagens obtidas pela PF (Polícia Federal) apontam que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira demonstrou insatisfação com o isolamento do ex-presidente Jair Bolsonaro após deixar o Brasil em direção aos Estados Unidos, no fim de 2022.

O que aconteceu

"Chega a ser ingrato", disse Nogueira a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Na mensagem, o ex-ministro reclamou do fato de o ex-presidente não responder suas mensagens. "Mando mensagem pro PR (presidente da República), mas ele não fala nada, apenas encaminha o de sempre. Chega a ser ingrato, mas tudo bem... Vamos em frente!", afirmou.

Mensagem foi enviada em 19 de janeiro de 2023, após a intentona golpista do 8 de Janeiro. Na época, o ex-presidente estava isolado na Flórida (EUA), para onde foi em 30 de dezembro, às vésperas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Vamos em frente. Quais são os planos dele, volta quando? Estamos aqui, acompanhando tudo e defendendo sempre o PR. Abraço! Selva!", acrescentou Nogueira na mensagem.

Troca de mensagens obtida pela PF mostra insatisfação de ex-ministro da Defesa com postura de Bolsonaro
Troca de mensagens obtida pela PF mostra insatisfação de ex-ministro da Defesa com postura de Bolsonaro Imagem: Reprodução/Relatório PF

Em 2 de janeiro de 2023, Mauro Cid demonstrou preocupação de ser preso, em mensagens trocadas com o ex-ministro. Ele compartilhou com Nogueira uma notícia relatando que integrantes do governo Bolsonaro avaliavam que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes mandaria prender o ex-presidente e ele.

"Vai acreditar em tudo que mandam???", respondeu Nogueira. "Um dos maiores erros do PR foi acreditar muito nas mídias sociais!. Estamos juntos!", complementou.

"Eu tenho que me preparar para todas as LA que o inimigo possa tomar", retrucou Cid. Segundo a PF, o glossário de termos usados pelo Exército indica que "LA" é a abreviação para o termo linha de ação, que significaria "solução possível que pode ser adotada para o cumprimento de uma missão ou execução de um trabalho". Em resposta, Nogueira afirmou: "Concordo, amigo. Eu também". Para a PF, isso evidencia a participação dele nos atos relacionados à tentativa de golpe.

Paulo Sergio Nogueira foi um dos 37 indiciados pela PF por participação na tentativa de ruptura democrática. De acordo com as investigações, o ex-ministro da Defesa atuou para pressionar os comandantes das Forças Armadas a aderir ao plano golpista de manter Bolsonaro no poder e impedir a posse de Lula. A PF concluiu que a trama não vingou porque o chefe do Exército e da Aeronáutica recusaram aderir à proposta.

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