Defesa de 'kid preto' diz que ele é 'bode expiatório' e descarta delação

Advogado do tenente-coronel do Exército e "kid preto" Rodrigo Bezerra Azevedo, Jeffrey Chiquini afirmou nesta sexta-feira (29) ao UOL que seu cliente foi preso pela Polícia Federal como "bode expiatório" para incluir as Forças Especiais (FE) do Exército no plano Punhal Verde e Amarelo, formulado para matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

O que aconteceu

Azevedo está preso desde a semana passada no Rio de Janeiro. Segundo a PF, ele participou de ações do plano Punhal Verde e Amarelo, junto com o policial federal Wladimir Matos Soares, o general da reserva Mario Fernandes e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira. O objetivo, diz a PF, era "impedir a posse do governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício da democracia e do Poder Judiciário brasileiro".

O advogado nega que o tenente-coronel e as Forças Especiais fizeram parte da trama. "Ele não participou e não tinha conhecimento", afirmou. "E se teve [o plano], não teve participação das Forças Especiais", unidades de elite especializadas em operações de alto risco. Formadas pelos "kids pretos", as FE foram utilizadas para executar o plano orquestrado por militares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diz a PF.

O celular do tenente-coronel seria a única ligação das Forças Especiais com a trama, diz Chiquini. "Acusam ele por causa de um celular que estão tentando incluir [na investigação]", afirma.

Seria a única ponta a incluir o Exército e Forças Especiais na trama. Por isso, ele é o bode expiatório
Jeffrey Chiquini, advogado de Rodrigo Bezerra Azevedo

Azevedo usava o codinome "Brasil"

O militar teria participado da operação "Copa 2022", braço do Punhal Verde e Amarelo para matar Moraes. O kid preto utilizava o codinome "Brasil" durante o planejamento de monitoramento do ministro, segundo a PF.

O celular de Azevedo foi usado em uma "Rede de Comunicação Sigilosa", diz a PF. Para se comunicar com outros membros do grupo, o kid preto utilizava o aplicativo Signal, conhecido por sua criptografia e segurança. Para dificultar sua identificação, Azevedo teria utilizado linhas telefônicas habilitadas em nome de terceiros.

A investigação diz que ele trocava frequentemente de chips e aparelhos telefônicos. O utilizado na operação "Copa 2022" teria o Imei (número de identificação do celular) 866876054007113. Após a operação, ele passou a usar outro aparelho, associado a uma linha telefônica em seu nome, diz a polícia.

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Kid preto não vai delatar

Azevedo prestou ontem (28) depoimento de quatro horas à Polícia Federal. Com ele preso em um batalhão do Exército no Rio, o interrogatório ocorreu por videoconferência entre as 15h e as 19h, ocasião em que negou participação no Punhal Verde e Amarelo.

O militar não pretende firmar acordo de delação premiada, de acordo com seu advogado. "Nada de delação, que é coisa de culpado", afirmou Chiquini.

O tenente-coronel foi preso preventivamente na operação Contragolpe, realizada em 19 de novembro. Mesmo preso, ele não está entre os 37 indiciados pela PF por abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

O advogado convocou para a manhã de hoje uma coletiva de imprensa. Ele pretende detalhar como a PF associou o celular de seu cliente às Forças Especiais do Exército.

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