Por que gesto de 'OK' levou ex-assessor de Bolsonaro à condenação?

Ex-assessor internacional do ex-presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins foi condenado por racismo ao fazer gesto de "OK" durante sessão no Senado. Antes simbolizando "tudo bem", o gesto foi ressignificado por extremistas a partir de 2017.

O que aconteceu

A decisão, proferida na segunda-feira, considerou o gesto de Martins intencional e com conotação supremacista. A Justiça Federal de Brasília determinou 850 horas de serviços comunitários e multas de R$ 52 mil.

O gesto de "OK", globalmente conhecido como um sinal de que está tudo bem, com conotação positiva, ganhou uma nova simbologia em 2017. Membros do fórum 4chan lançaram uma operação chamada "Operação O-KKK", envolvendo o gesto.

A iniciativa foi inicialmente criada como uma "trolagem" digital para enganar e provocar ativistas e jornalistas, associando o gesto comum ao movimento de supremacia branca. No entanto, essa provocação escapou dos limites da brincadeira online, sendo adotada por grupos de extrema-direita, que passaram a usá-lo como símbolo intencional.

No uso racista, os três dedos esticados formam a letra "W" de "white" (branco), enquanto o círculo criado pelo polegar e o indicador representa a letra "P" de "power" (poder), criando a expressão "white power" (poder branco). Essa simbologia passou a ser utilizada em fotos e eventos por membros do movimento alt-right e outros grupos supremacistas como uma forma de mensagem codificada, conhecida como "dog whistle". Esse termo descreve sinais que têm um significado claro para um grupo específico, mas podem passar despercebidos pelo público em geral.

Interpretação do uso depende do contexto da situação. Embora o gesto de "OK" ainda seja amplamente usado em contextos não racistas como sinal de aprovação, o seu uso por figuras públicas ou em situações de destaque tem gerado debates sobre intenções e interpretações, principalmente quando associado a contextos políticos ou ideológicos.

A acusação contra Martins

Segundo o Ministério Público Federal, Filipe Martins utilizou o gesto conscientemente, sabendo de sua conotação racista e da transmissão pública da sessão. Em sua defesa, o ex-assessor alegou estar apenas ajustando o terno, mas a perícia concluiu que os movimentos eram "antinaturais" e incompatíveis com a justificativa apresentada. A denúncia afirmou que o gesto foi reproduzido intencionalmente em referência à expressão "white power".

A decisão judicial, assinada pelo juiz federal David Wilson de Abreu Pardo, enfatizou o contexto e as provas documentais e periciais. Martins ainda pode recorrer, mas a sentença reforça a atenção sobre manifestações simbólicas que, intencionais ou não, podem ser associadas a discursos de ódio.

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Casos anteriores

O gesto já gerou controvérsias em outras ocasiões. Durante as Olimpíadas de Paris, em agosto de 2024, Noémi Gelle, técnica da ginasta húngara Fanni Pigniczki, foi flagrada fazendo o gesto de "OK" enquanto aguardava a nota de sua atleta após a apresentação nas maças do individual geral.

O gesto foi interpretado por alguns espectadores como uma referência ao "white power". Em resposta às acusações, o Comitê Olímpico da Hungria afirmou que o objetivo da técnica "era que o desempenho de sua atleta fosse uma marca de excelência" e que não havia conteúdo intencional em seu sinal. A Federação Internacional de Ginástica declarou estar ciente do caso, mas não emitiu um posicionamento oficial imediato.

Em um incidente anterior, durante as competições de skate street feminino nas mesmas Olimpíadas, um funcionário terceirizado da equipe de transmissões foi flagrado fazendo o gesto de "OK" em mais de uma ocasião. As imagens mostraram o homem realizando o sinal com a mão direita para baixo, o que foi interpretado como uma referência ao "white power". O COI (Comitê Olímpico Internacional) decidiu cancelar a credencial do funcionário após o ocorrido.

*Com matérias publicadas em 17 de dezembro e 08 de agosto.

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