'Nem pudemos nos despedir', diz sobrinho de paciente que morreu por coronavírus em SP
Advogado Nabil Kardous, de 65 anos, morreu três dias após ser internado sem poder receber visitas em hospital; ele foi cremado em 15 minutos em caixão fechado em cerimônia com presença de apenas um familiar.
O advogado Nabil Kardous tinha 65 anos. Afora uma pneumonia ocorrida há um mês e da qual imaginava estar recuperado, levava uma vida ativa e saudável na capital de São Paulo, para onde havia se mudado a trabalho. Sem filhos, vivia com sua mãe. Na sexta-feira, 13 de março, porém, começou a sentir febre e dores no corpo. No domingo, já com falta de ar, pediu a uma das sobrinhas que o levasse ao hospital. Ali, foi internado às pressas. Três dias depois, na quarta-feira, veio a falecer.
O resultado do teste para o novo coronavírus demorou e só veio junto com seu atestado de óbito: positivo para covid-19, a doença causada pelo novo vírus, que já matou mais de 16 mil pessoas em todo mundo, sendo pelo menos 34 no Brasil.
"Como os médicos já suspeitavam que ele tinha coronavírus, ele ficou isolado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Só era possível vê-lo à distância", diz Paul Kardous, sobrinho de Nabil, à BBC News Brasil.
Também por recomendação médica, o funeral de Nabil foi simples e rápido - durou 15 minutos. Cremado em caixão fechado, como determinado pelas autoridades sanitárias, a cerimônia, após recomendações médicas, teve apenas a presença de um familiar, a mesma sobrinha que o havia levado ao hospital.
A recomendação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) é reduzir ao máximo o contato com o corpo de vítimas da covid-19, e que este seja cremado, em vez de enterrado.
"Mais ninguém da família pôde se despedir dele, nem minha avó, a própria mãe dele, que está bem idosa e tem problemas de saúde. Meu pai também não, já que ele teve câncer. Foi muito triste", acrescenta Kardous.
Agora, a família aguarda com apreensão para saber se a matriarca também está infectada com coronavírus. Ela apresentou sintomas da doença, como febre alta e dores no corpo, mas os exames médicos apontaram inicialmente que não há comprometimento dos pulmões.
Kardous conta que está isolado em seu apartamento e vem cumprindo à risca as medidas de distanciamento social para tentar evitar a propagação do vírus.
Na semana passada, ele postou em seu Instagram um vídeo em que convocou as pessoas a "ficar em casa".
"Esse vírus não é brincadeira. Quando fiz o vídeo, ainda via muitas pessoas indo à academia e à feira - e postando fotos. Aconteceu tudo muito rápido com o meu tio. Não desejo isso a ninguém. As pessoas têm que se conscientizar. Não tivemos nem a chance de ir ao funeral dele", diz Kardous.
"Todos temos que fazer a nossa parte para tentar reduzir o contágio desse vírus. Quem puder, têm que ficar em casa", alerta.
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