Vacinas contra covid: a advertência da OMS sobre 'fracasso moral catastrófico' por distribuição desigual entre ricos e pobres
As vacinas contra covid-19, a grande esperança de acabar com a pandemia, não estão chegando a todos.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou nesta segunda-feira (18/1) para a enorme desigualdade na distribuição da vacina contra a covid-19 e alertou para as graves consequências disso.
"Devo ser franco: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico, e o preço desse fracasso será pago com as vidas e meios de subsistência dos países mais pobres", advertiu Tedros no discurso de abertura do Comitê Executivo da OMS, que se reúne nos próximos nove dias.
O chefe da OMS considerou que não é justo que pessoas saudáveis e jovens de nações ricas tenham acesso à vacina antes de grupos vulneráveis de países mais pobres.
Como exemplo, ele explicou que cerca de 39 milhões de doses da vacina foram distribuídas em 49 dos países mais ricos, em comparação com apenas 25 doses em um país pobre.
A partir de janeiro deste ano, China, Índia, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos desenvolveram vacinas contra o coronavírus, e outras foram desenvolvidas por equipes multinacionais, como a Pfizer, uma colaboração germano-americana.
Quase todas essas nações priorizaram a distribuição para sua própria população.
O chefe da OMS considera que a estratégia do "eu, primeiro" será contraproducente, pois fará com que os preços subam e levará ao acúmulo de vacinas.
"Em última análise, essas ações apenas prolongarão a pandemia, as restrições necessárias para contê-la e o sofrimento humano e econômico", acrescentou.
O chefe da OMS apelou a um compromisso total com a plataforma Covax, coordenada pela OMS para garantir o acesso equilibrado às vacinas nos países em desenvolvimento com ajuda financeira dos países desenvolvidos, que está prevista para começar a funcionar no próximo mês.
"Eu desafio todos os Estados-membros a garantir que, até o Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril, as vacinas contra covid-19 sejam administradas em todos os países, como um símbolo de esperança de superar a pandemia e a desigualdades que estão na raiz de tantos desafios globais de saúde."
Até janeiro deste ano, mais de 180 países aderiram à iniciativa Covax. Seu objetivo é unir os países em um bloco para que tenham maior poder nas negociações com as empresas farmacêuticas.
Um total de 92 países - todos eles de baixa e média renda - comprarão as vacinas por meio de um fundo patrocinado por doadores.
"Obtivemos 2 bilhões de doses de cinco produtores, com opção para mais mil, e esperamos iniciar a distribuição em fevereiro", disse Tedros.
Apesar das desigualdades, ele considerou que não era tarde para reverter a situação.
"Apelo a todos os países para que trabalhem juntos para garantir que nos primeiros cem dias deste ano, a vacinação dos profissionais de saúde e dos idosos esteja em curso em todos os países".
No mês passado, a People's Vaccine Alliance, uma rede de organizações que inclui Anistia Internacional, Oxfam e Global Justice Now, denunciou que os países ricos estavam acumulando doses de vacinas contra covid-19 e alertou que as pessoas nos países pobres seriam deixadas para trás.
A coalizão observou que cerca de 70 países de baixa renda só podiam vacinar 1 em cada 10 pessoas.
O Canadá, em particular, foi fortemente criticado; a coalizão denunciou que o país havia solicitado doses suficientes de vacinas para proteger cada canadense cerca de cinco vezes.
Em dezembro, a ministra canadense do Desenvolvimento Internacional, Karina Gould, rejeitou as alegações de que o país estava estocando vacinas, dizendo que qualquer discussão sobre um excedente era "hipotética", pois as doses não haviam sido entregues.
Gould garantiu que o Canadá estava alocando US$ 380 milhões para ajudar os países em desenvolvimento em sua luta contra a covid-19.
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