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Cubanos do Mais Médicos avisam: não queremos voltar para Cuba

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Imagem: Getty Images

19/09/2016 17h30

A médica cubana Gretel Nuria Remon Perez, 29, veio para o Brasil com a primeira leva de profissionais do Mais Médicos, e tem uma boa razão para querer continuar no país. No dia 5 de agosto, ela se casou com o brasileiro Mauro Augusto Fernandes, 28, e já planeja ter filhos. Desde abril de 2014, Gretel compõe o quadro de profissionais do Programa Saúde da Família que atende a população de Pilar do Sul, interior de São Paulo.

Para ela, o município agrícola de 30 mil habitantes, na região de Sorocaba, tornou-se o lugar dos sonhos. "Meu futuro é ficar aqui", disse.

O governo brasileiro definiu a prorrogação do programa com Cuba por mais três anos, mas o governo cubano está exigindo que haja rotatividade entre os profissionais. O plano é substituir cerca de 4 mil médicos em atividade no Brasil até o fim deste ano - no total, há 11,4 mil profissionais cubanos no país. Casada com o brasileiro, Gretel acredita que vai poder ficar no Brasil.

O casal precisa viajar a Cuba para que a nova situação seja homologada pelo governo de lá, mas ainda não definiu a data. "Casamos por amor, nem levamos em conta essa nova situação. Mas agora deixar o Brasil está fora dos planos", disse a médica.

Formada em Cuba há seis anos, Gretel trabalhou um ano na Venezuela e veio para o Brasil na expectativa de atuar em um grande centro. Quando foi enviada para Pilar do Sul, estranhou de início, mas logo se acostumou. "As condições de saúde aqui são muito parecidas com as de Cuba." A médica atende na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Nova Pilar. Ela conta que conheceu Fernandes em uma atividade de saúde na praça da cidade. O marido é enfermeiro e logo se aproximou da "doutora". "No começo foi só amizade, não tinha nenhuma outra intenção, mas depois rolou", afirmou o jovem.

Eles se casaram no cartório e aguardam a chegada dos pais dela para fazer o casamento religioso, já que Mauro é evangélico. "Minha mãe e meu pai vêm de Cuba em outubro para uma visita, então a gente se casa no religioso." Gretel é filha única e acredita que, no futuro, os pais podem também vir morar no Brasil - o pai trabalha no serviço postal cubano. "Meu plano é seguir vivendo aqui. O povo é acolhedor, as pessoas são agradáveis."

Seu contrato com o Mais Médicos vence em 2017, mas ela já está se preparando para fazer o Revalida, o exame nacional de revalidação do diploma médico obtido no exterior. "Fazendo o Revalida, posso trabalhar aqui, independentemente do programa."

Os pacientes elogiam a doutora. "Na primeira consulta, não achei que ela era a médica, pois é muito jovem, e fiquei um pouco desconfiada, pois não entendia direito o que falava. Foi só a primeira impressão, logo ela me deixou à vontade e acertou tudo o que eu tinha. Hoje somos amigas e ela vai na minha casa", disse a aposentada Idalina Lopes, de 61 anos.

Gretel mora com o marido em um condomínio de bom padrão, próximo do centro. O casal divide as atenções com o cachorro Nino, da raça pug.

Passeata

Entre os médicos cubanos que atuam no interior de São Paulo, a maioria prefere continuar no Brasil. No caso de Eduardo Rogério Fraga Martin, 34, é a população do bairro do Turvo, na zona rural de Tapiraí, que não quer sua saída. Os moradores já fizeram uma passeata pela permanência do médico. "Ele é uma bênção do céu, desde que chegou, não só a saúde, tudo aqui só melhorou", disse Terezinha Leite, uma das líderes comunitárias.

Uma das conquistas foi uma UBS (Unidade Básica de Saúde) nova, construída depois que o cubano se instalou na comunidade. O secretário de Saúde, Francisco Vieira Filho, defende a permanência dos dois médicos que atuam em Tapiraí. "Com a ajuda deles, conseguimos criar um modelo de atenção à saúde básica que está sendo referência para outras cidades."

Reverenciado pelos moradores e cortejado pelos amigos, o médico quer continuar na cidade. "A população está familiarizada com nosso trabalho e já conhece os problemas de cada um. Seria muito triste ter de ir para outro lugar."

Já a médica Yamile Rodriguez Palacio, 29, teria todos os motivos para querer voltar para Cuba. Quando começou a trabalhar pelo Mais Médicos em Sorocaba, no início de 2014, havia deixado em seu país os pais, dois irmãos - um deles adolescente - e seu marido. Mesmo assim, ela torce para poder continuar trabalhando na UBS do bairro Ulysses Guimarães, periferia da cidade. "Já trabalhei em Belize, na América Central, mas aqui é diferente, o apoio é maior e a população reconhece nosso trabalho."

Yamile cumpre jornada diária de 8 horas, menos às quartas-feiras, dia de planejamento. Ela conta que se apegou à cidade. "Moro em um lugar bom, perto do trabalho. Fiz muitos amigos, vamos aos shoppings, aos bares, é uma cidade gostosa."

Em casa

Pilar do Sul recebeu cinco médicos do programa, mas já perdeu dois. Um deles, Juan Carlos Suarez Leon, precisou voltar para Cuba por problemas de saúde na família. A prefeita Janete Pedrina de Carvalho Paes (PSDB) pediu a reposição, mas ainda não foi atendida.

"O Mais Médicos foi nossa salvação na área de saúde, pois sofríamos até cobrança judicial. As pessoas não imaginam como é difícil conseguir uma equipe como essa. Os cubanos são muito acessíveis, educados, não tem quem não goste."

Além disso, o custo é baixo: o município banca aluguel e alimentação, o que dá cerca de R$ 1,8 mil mensais por médico. E a prefeita defende a permanência dos mesmos profissionais. "Eles já se encaixaram na nossa estrutura, estão adaptados, sentem-se em casa."