Belford Roxo (RJ) tem segundo maior índice do país de internações por diarreia
Belford Roxo, na Baixada Fluminense, tem a segunda maior média do país de internação por diarreia, com 367,1 por 100 mil habitantes, atrás de Ananindeua, no Pará. É o que mostra a pesquisa Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População, feita pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Instituto Trata Brasil, com dados de 2008 a 2011.
O estudo, que avaliou os 100 municípios mais populosos do país, mostra que, em 2011, 66,1% das internações foram de crianças, o que colocou a cidade na 11ª posição dentre os piores resultados. No período, o Sistema Único de Saúde (SUS) desembolsou R$ 138.375/100 mil habitantes, o segundo maior gasto do país. Os dados de 2010 mostram que 39,3% do esgoto da cidade eram coletados e apenas 2,21%, tratados, a sexta pior colocação entre as cidades analisadas.
Pelas ruas de localidades como Jardim São Francisco e Jardim Xavantes, visitadas ontem (21), há muita lama, água suja, ruas sem asfalto e muito esburacadas, lixo por toda parte, valão sujo e falta de iluminação, além do mau cheiro. A cabeleireira Jaciara Batista, de 44 anos, diz que a falta de cuidado com a cidade afasta os clientes. “Já falamos com o prefeito e a desculpa dele é que é impossível resolver tudo de uma vez. É muita poeira, muita doença, muito bicho, o risco é grande”.
A comerciante Rosângela Moreira, de 35 anos, conta que também tem prejuízos com os fornecedores. “As empresas não querem entregar os produtos aqui por causa dos buracos. A falta de produto acaba afastando as pessoas. Quando chove empoça muita água, fora os bichos. Tem muitos ratos”.
Aos 70 anos, a dona de casa Maria do Nascimento mora há 42 anos perto do Rio Botas e diz que já foi até picada por cobra. “O mau cheiro que fica dentro de casa, a quantidade de ratos, de cobras. Nesses dias, que abriu um solzinho, você olhava ali para o canto e não via apenas uma cobra, via várias”, conta. Além disso, ela relata que, nas cheias, a água invade as casas.
“Todo ano a prefeitura diz que colocará manilha para resolver um pouco o problema das cheias, mas abre a vala e nunca resolve nada, apenas piora. Pedimos a um vereador na época de eleição, ele colocou três caçambas e compramos mais duas para poder elevar um pouco a nossa casa para entrar menos água, porque enche a vala, e ela entorna para trás, acaba entrando na casa”.
O secretário de Saúde de Belford Roxo, Oscarino Barreto, confirma que a situação da cidade é complicada. “É uma cidade bastante precária em saneamento, em asfaltamento, destino do esgoto e, por consequência, no tratamento da água, porque quando você tem uma rede de esgoto muito comprometida, é muito difícil que você não tenha uma rede de água comprometida também, porque no momento em que você tem canos quebrados em ambas as redes, as águas se misturam. Então está aí a explicação da contaminação”.
Ele lembra que 80% dos casos de doenças transmissíveis no mundo a contaminação é feita por meio da água. “É uma verdadeira epidemia. É necessário que se tenha no momento um cuidado muito delicado no consumo dessa água. Ela precisa ser fervida e filtrada, porque não se pode confiar na água que está chegando em casa. O fato de Belford Roxo ser a segunda cidade com maior incidência, mostra que essa água com certeza não está própria para uso, está sofrendo contaminação”.
Para melhorar a situação, Barreto afirma que a Secretaria de Saúde vai expandir a rede básica, além de reabrir as duas emergências que estavam fechadas e reformar uma terceira. O objetivo é chegar a 2016 com 60% do município cobertos por clínicas da família. Duas delas devem ser liberadas em maio. A prefeitura também vai reformar a vigilância sanitária, o controle da qualidade da água e a vacinação preventiva. Na parte de obra, haverá investimento “bastante sério” em calçamento e rede de esgoto.
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