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Cidade de alto IDH do Paraná espera cubanos para resolver falta de médicos

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

04/09/2013 14h48

A cidade histórica da Lapa (PR) não se encaixa exatamente no perfil que, imagina-se, têm as cidades inscritas no programa Mais Médicos. Localizada a 70 km ao sul de Curitiba, o município de 44.936 habitantes tem IDH alto (0,706), PIB per capita de R$ 17.332 e um bem cuidado centro histórico com monumentos e museus que lembram o Cerco da Lapa (episódio da Revolução Federalista, em 1894), além de um teatro inaugurado por D. Pedro II em 1880.

Apesar disso, nenhum profissional brasileiro escolheu trabalhar na cidade, na primeira fase do programa, lamentou a prefeita Leila Aubrift Klenk (PT). “Somos um dos municípios mais extensos do Paraná. Por isso, precisamos de médicos para atender no programa de saúde da família nas localidades do interior”, explicou.

  • Arte UOL

    Saiba qual a proporção de médicos em cada Estado e o panorama em outros países


É aí que está o problema. Encarar uma viagem diária a algumas das mais de 70 comunidades rurais da Lapa (algumas distantes até 60 km da cidade) não seduziu os brasileiros inscritos no Mais Médicos. “As estradas são de terra, mas transitáveis. E toda manhã a prefeitura coloca um carro à disposição para levar a equipe de saúde aos postos e trazê-la de volta no mesmo dia”, diz a prefeita.

Assim, seguem vazias as duas vagas para médicos que a prefeitura contava preencher com ajuda do programa federal. “Estamos tão perto de Curitiba, e não conseguimos médicos”, lamentou a petista – a cidade fica a pouco mais de uma hora de carro da capital, a qual se liga pela BR-476, rodovia de pista simples.

Insuficientes

E nem mesmo os dois médicos solicitados seriam suficientes para zerar a demanda por atendimento dos lapeanos. “Temos demanda imediata para até sete profissionais. São cinco grupos de saúde da família carentes. O resto dos profissionais conseguimos bancar. Mas, como não temos os médicos, ficamos com equipes incompletas. E aí o governo federal não faz os repasses de recursos do programa”, explicou Klenk.

Assim, todo início de ano a prefeitura abre vagas para médicos para o SUS (Sistema Único de Saúde). “Atualmente, oferecemos um salário de R$ 14.800 mensais para uma jornada de 40 horas semanais. E temos vagas abertas”, disse a prefeita. “Daí acabam vindo recém-formados, que saem no ano seguinte para fazer residência médica.”

Dos médicos que se recusam trabalhar na zona rural da Lapa, Klenk  já ouviu justificativas diversas. “Falam na falta de bons lugares para os filhos estudarem, que a capital atrai mais, pois é possível trabalhar em grandes hospitais e atuar em outros lugares além do SUS ou fazer cursos de atualização”, contou.

A falta crônica de médicos traz ainda um efeito colateral – prefeituras com a mesma dificuldade acabam por competir entre si pelos poucos profissionais que se dispõem a encarar a jornada no interior. “No começo do ano, perdemos médicos dessa forma. Na época, pagávamos cerca de R$ 11 mil, mas fomos obrigados a reajustar o valor”, disse a petista.

Cubanos

Sem médicos brasileiros interessados em atuar na saúde pública da cidade, a prefeita da Lapa animou-se com a chegada dos médicos cubanos ao Brasil. “Precisamos de médicos que saibam atender trabalhador rural. [Os cubanos] serão muito bem vindos aqui”, afirmou.

Na terça-feira (3), porém, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que os 400 primeiros médicos cubanos irão para 219 localidades – 91% das quais nas regiões norte e nordeste. Apenas seis deles virão para o sul do país – e nenhum para o Paraná.

Com isso, os cinco municípios considerados prioritários pelo Mais Médicos no Estado – Itambé, Jataizinho, Mandirituba e Tunas do Paraná, além da Lapa – terão de esperar ainda mais um tempo. “OSegunda-feira (2), abrimos diálogo com o Ministério da Saúde, e fomos informados de que até o fim do ano deve vir mais um grupo de estrangeiros”, disse Klenk. Dessa vez, ela espera, algum pode acabar na cidade.

A reportagem procurou a assessoria do Ministério da Saúde, que informou que a segunda etapa do Mais Médicos está em andamento, e que cidades como Lapa serão novamente oferecidas a profissionais brasileiros e aprovados no Revalida no próximo dia 6. A lista das escolhidas deve ser divulgada em 10 de setembro. Além disso, médicos estrangeiros seguirão chegando ao Brasil nas próximas semanas.

Onde falta médico, faltam dentistas e enfermeiros, mostra pesquisa

A concentração de médicos nos grandes centros acompanha a de outros profissionais de saúde, como dentistas e enfermeiros, e a de unidades de saúde. Onde falta um, faltam os outros.

É o que o mostra um recorte da pesquisa Demografia Médica no Brasil, que se baseou em dados da AMS (Assistência Médico-Sanitária) do IBGE, que conta os postos de trabalho ocupados por profissionais de saúde