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Estados Unidos já testam exames alternativos à colonoscopia

Muitas pessoas têm pavor do exame, no qual um tubo é inserido no reto em busca de cânceres e anormalidades que podem prenunciar a doença. - Henrique Manreza/Folhapress
Muitas pessoas têm pavor do exame, no qual um tubo é inserido no reto em busca de cânceres e anormalidades que podem prenunciar a doença. Imagem: Henrique Manreza/Folhapress

Denise Grady

Do The New York Times

01/04/2014 07h00

Uma das alegrias de se completar 50 anos é que seu médico passará a recomendar uma colonoscopia. Muitas pessoas têm pavor do exame, no qual um tubo é inserido no reto em busca de cânceres e anormalidades que podem prenunciar a doença.
 
Mesmo assim, a aceitação cresceu tremendamente. Em 2010, 55% dos norte-americanos com idade entre 50 e 65 anos fizeram o exame, quase três vezes a mais do que o índice de 2000, e a cifra foi ainda mais elevada, 64%, entre as pessoas com mais de 65 anos.
 
Tantos exames parecem estar compensando. A incidência de câncer intestinal em pessoas com mais de 50 anos caiu 30% nos últimos dez anos, e as mortes declinaram, segundo relatório publicado na semana passada pela Sociedade Americana do Câncer.

Índices elevados

A notícia é boa, mas não o bastante, asseguram especialistas. Ainda existe gente demais morrendo: 50.310 devem morrer neste ano, em conjunto com 136.830 novos casos. A incidência e o índice de morte são significativamente mais elevados em negros do que em brancos, por motivos não completamente compreendidos. O menor poder aquisitivo entre os negros parece responder por parte da diferença, mas não por toda.
 
Essa é uma doença que pode com frequência ser curada quando encontrada nos primeiros estágios. É também um dos poucos tipos de câncer que pode ser prevenido, com o uso da colonoscopia para encontrar e remover crescimentos anormais, chamados pólipos adenomatosos, potencialmente cancerosos. É possível detectar aproximadamente 95% dos cânceres e pólipos grandes por meio da colonoscopia, mas pólipos menores podem ser facilmente ignorados.
 
Boa parte das mortes acontece em pacientes que não fizeram exames, segundo a Sociedade, a qual estima que perto de 23 milhões de norte-americanos com idades entre 50 e 75 anos não estão sendo examinadas.
 
Um problema: a colonoscopia é cara, custa centenas ou milhares de dólares, dependendo da remoção dos pólipos e da região dos Estados Unidos em que é realizada. O sistema de saúde pública e alguns planos de saúde pagam o exame por completo, mas não a remoção de pólipos. Às vezes, o paciente recebe uma conta inesperada de centenas de dólares.
 
A colonoscopia também exige que a pessoa perca um dia de trabalho e a tome fortes laxantes, e o procedimento apresenta riscos reais, ainda que pequenos, de hemorragia ou lesão no intestino.
 
Com todos esses pontos negativos, a colonoscopia pelo menos não precisa ser tão frequente – somente uma vez a cada dez anos na maioria dos casos, se não forem encontrados pólipos. Quem tiver pólipos ou outros fatores de riscos costuma ser aconselhado a fazer o exame com maior frequência.

Outros exames
 
Existem outros exames, como os que procuram sangue nas fezes ou examinam a parte baixa do intestino. Porém, não são muito populares, pois é preciso manejar amostras de fezes ou introduzir instrumentos no reto. E esses exames devem ser feitos anualmente, programação que muita gente não segue.
 
No entanto, os médicos acreditam que se mais métodos se tornarem disponíveis, mais pessoas encontrarão um exame que possam tolerar.
 
Na semana passada, um estudo sobre um novo tipo de exame de fezes foi publicado no "New England Journal of Medicine". O Cologuard, como é chamado, procura o DNA de células intestinais espalhadas nas fezes em busca de alterações que possam indicar câncer. Caso sejam encontradas anormalidades, recomenda-se que o paciente faça uma colonoscopia.

O objetivo do estudo era comparar o método do DNA com o exame do sangue existente nas fezes, chamado imunoquímico fecal. Aproximadamente 10 mil pessoas com risco médico de câncer intestinal fizeram os dois exames e, em seguida, passaram por uma colonoscopia. Então, os dois foram comparados à colonoscopia.
 
A colonoscopia encontrou 65 casos de câncer, o de DNA detectou 92% desse total. O exame de DNA também detectou 42% dos 757 pólipos com potencial canceroso encontrados pela colonoscopia. O antigo exame de fezes não se saiu tão bem, detectando 74% dos cânceres e 24% dos pólipos.
 
Contudo, o exame do DNA teve mais resultados de falso positivo do que o de fezes, somando 13% contra 5% do segundo. Ou seja, 13% dos pacientes saudáveis receberiam um alarme falso e seriam encaminhados à colonoscopia.
 
Ao contrário do atual exame de fezes, que utiliza uma escova para coletar um pouquinho de fezes do vaso sanitário, o de DNA exige que os pacientes enviem até 300 gramas de fezes ao laboratório. O kit do exame inclui um recipiente ajustável à abertura do assento do vaso.
 
"Não tem como errar", afirmou Kevin Conroy, presidente da Exact Sciences, fabricante do Cologuard.

Não disponível
 
O exame ainda não está disponível, mas um grupo de consultores da FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos, ficou de avaliá-lo e votar sua aprovação. Esse grupo também vai analisar um exame de sangue capaz de detectar 70% dos cânceres de cólon. A decisão final da FDA sairá num instante posterior.

O médico Robert A. Smith, diretor de controle do câncer da Sociedade Americana do Câncer, disse que o exame de DNA das fezes é uma boa ideia porque as pessoas precisam de todas as opções possíveis. A entidade e outros institutos de saúde anunciaram uma campanha para aumentar o índice de exame de 50% para 80% até 2018, e Smith afirmou que a ideia de um novo tipo de exame poderia ajudar.
 
Porém, o médico David A. Rothenberger, chefe de cirurgia da Universidade do Minnesota, mostrou-se preocupado com o fato de o teste de DNA só ter encontrado 42% dos pólipos. Segundo ele, a grande vantagem da colonoscopia é a capacidade de impedir o câncer por completo ao encontrar os pólipos que, então, podem ser removidos.
 
Às vezes, o índice de detecção geral de um exame pode ser aumentado se ele for realizado com certa frequência, por exemplo, uma vez por ano, o que é recomendado no exame de fezes normal. Porém, o intervalo ideal entre exames do Cologuard não é claro. O preço também não foi definido, mas pode ficar ao redor de US$ 500, disse Conroy. O exame de fezes comum custa US$ 25.
 
Mesmo que o novo exame seja aprovado, ele não substituirá a colonoscopia nem o presente exame de sangue, o qual as pessoas podem preferir por ser mais barato e por exigir uma amostra bem menor.
 
Todos os resultados positivos no teste de DNA serão encaminhados à colonoscopia. E esta será recomendada para pessoas com risco elevado por causa de histórico familiar, pólipos já encontrados ou outros problemas, disse Smith.