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Com sintomas iguais, APLV e intolerância à lactose podem ser confundidas

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Imagem: Getty Images

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

16/06/2015 06h00

Diarreia, gases, cólicas, distensão abdominal, lesões na pele, inchaço e distúrbios gastrointestinais são alguns dos sintomas da APLV (alergia à proteína do leite de vaca) e da intolerância à lactose, o que leva as duas patologias a serem frequentemente confundidas, principalmente porque as duas são causadas pelo leite.

“Enquanto a APLV é uma reação alérgica às proteínas presentes no leite e seus derivados, como queijos, iogurtes, etc, a intolerância à lactose ocorre quando o organismo não produz ou produz pouca quantidade da enzima que é responsável pela digestão da lactose, ou seja, do açúcar presente no leite”, explica a pediatra Dulce Maria Toledo Zanardi, do Hospital Estadual de Sumaré (SP).

A APLV acomete mais bebês e crianças menores de 3 anos, com raros casos em adultos, e a intolerância à lactose, apesar de mais comum entre os bebês, pode acontecer a qualquer momento e se agravar na vida adulta.

Segundo Dulce, uma das principais causas da APLV entre os bebês é a introdução precoce do leite de vaca. “As proteínas do leite materno são diferentes das do leite de vaca, o que pode desencadear a alergia”, afirma.

Já no caso da intolerância à lactose, a falta da enzima que a digere favorece o acúmulo da lactose no intestino e a fermentação desse material provoca os sintomas. “Nesse caso, o tratamento consiste na substituição de leites e derivados por versões sem ou até mesmo com baixo teor de lactose, conforme recomendação do médico”, ressaltou.

No caso da APLV, é preciso cortar definitivamente a proteína do leite da dieta e ficar atento aos rótulos dos alimentos. Substâncias como caseína e soro, por exemplo, significam que há leite no produto e essas expressões são frequentes em rótulos de produtos industrializados.

Entretanto, é importante ressaltar que a falta de leite pode resultar na carência de cálcio e algumas vitaminas, o que torna necessário um acompanhamento médico e nutricional.

Segundo Dulce, caso ocorram sintomas como os descritos é importante procurar ajuda médica para realizar exames e diagnosticar rapidamente o problema, dando início ao tratamento.

Campanha

Para tornar obrigatória a inclusão de informações claras sobre a presença de alimentos que causam alergia nos rótulos dos produtos, um grupo de mães se uniu e criou no ano passado a campanha "Põe no Rótulo” (#poenorotulo), no Facebook.

A ideia da campanha surgiu a partir da troca de informações online de mais de 700 famílias cujos filhos têm alergia alimentar. O grupo resolveu criar o movimento com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre os riscos que a falta de informação nos rótulos podem trazer para as pessoas que têm alergia. Dependendo do grau de sensibilidade, o alérgico pode ter choque anafilático, fechamento da glote, além de outras reações graves que podem levar à morte.

Como resultado dessa mobilização, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) iniciou a discussão de um projeto de normatização da rotulagem de alérgenos em alimentos.

No mês passado, mais de 80 empresas, o Ministério da Justiça, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o movimento “Põe no Rótulo” participaram da primeira audiência pública de 2015 realizada pela Anvisa para discutir, com representantes da sociedade civil e da indústria, as alterações no texto que trata da obrigatoriedade de se declarar, na rotulagem dos alimentos embalados, as fontes reconhecidas por causarem alergias ou intolerâncias alimentares em pessoas sensíveis. Segundo o relator da proposta da Anvisa, Renato Porto, a expectativa é de publicação da norma ainda neste semestre.