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Pela primeira vez no mundo, zika vírus é relacionado a microcefalia em bebê

Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Imagem: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/11/2015 17h02Atualizada em 17/11/2015 19h37

O Ministério da Saúde confirmou, na tarde desta terça-feira (17), a presença de zika vírus em duas gestantes da Paraíba que estão com bebês no útero já diagnosticados com microcefalia. Essa foi a primeira confirmação no mundo da relação entre o vírus e o problema que atinge o Nordeste --até ontem já foram registrados 399 casos.

Na última quarta-feira (11), o Ministério da Saúde decretou emergência em saúde pública de importância nacional devido ao aumento de casos na região. “Foi identificado o zika vírus em líquido amniótico colhido de duas gestantes da Paraíba que haviam apresentado, por ultrassom, de que havia desenvolvimento da criança com microcefalia, em particular dentro do útero. A Fundação Oswaldo Cruz, por três técnicas diferentes, confirmou o mesmo resultado”, disse o diretor do departamento de vigilância das doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch.

Apesar da confirmação, por se tratar de um caso novo no mundo, não pode ser tratado como certeza. “Isso fecha diagnóstico? Diria que quase. Além de estar presente do organismo ele passou para o feto. É altamente provável que as duas coisas estejam ligadas, que não seja apenas uma coincidência, mas que uma coisa é determinante a outra”, afirmou.

A preocupação é enorme. É uma situação nova, grave, cuja dinâmica não está completamente compreendida. Cláudio Maierovitch

Para ele, com o exame, a situação é "toda nova" e ainda há "muitas perguntas sem resposta." "Não temos relatos em lugar nenhum do mundo sobre relação de vírus zika com má relação congênita de qualquer espécie. Afirmar que é necessita de um conhecimento científica comprovado, que não está. Por isso digo que é provável. Nossos cientistas e os do mundo que podem nos ajudar a comprovar causa e efeito”, informou.

Segundo o ministério, o vírus zika está circulando em 14 Estados do país, entre eles todos do Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo. A doença é nova no país e teve uma primeira epidemia registrada, especialmente no Nordeste.

O diretor afirma que não há muito o que se fazer em caso de diagnóstico. “Não há nenhum tipo de tratamento para infecção aguda. No caso de consequências graves, como ocorre com dengue, existem as medidas adequadas, mas elas não encurtam a duração da doença. Não há hoje, conforme o conhecimento que temos, nenhuma orientação específica para dar, inclusive a gestante. Se a relação entre zika e microcefalia for real, temos que trabalhar mais intensamente ainda na prevenção. Acreditamos que esse fato novo ajude a sensibilizar a população e profissionais de saúde”, explicou o diretor.

O vírus zika tem algo particular: 80% dos casos não têm manifestações clínicas. É impossível estimar qual a magnitude da epidemia [no Brasil]. Sabemos que foi dezenas de milhares de casos, em 14 Estados. Cláudio Maierovitch

Segundo o ministério, outros dois fatores ajudaram a suspeita de relação entre o vírus e o problema. “Dois outros aspectos somam: não se encontrou até agora outra causa que explicasse esse aumento. Outra é que tivemos uma circulação importante no primeiro semestre, primeira vez da nossa história, o que favorece o entendimento”, disse Maierovitch.

O ministério informou que vai pedir ajuda para investigação do vírus.

Pedido de ajuda internacional

“Fizemos à OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) um pedido para que tivéssemos apoio internacional. Solicitamos que outros especialistas de fora nos apoiem, não por que não temos especialistas no Brasil. Em se tratando de uma situação absolutamente nova do ponto de vista científico, que pode representar tipo de risco para outros países, achamos importante essa cooperação”, pontuou.

O ministério informou que dois grupos vão se dedicar, a partir de agora, no estudo do problema. “Um será constituído por especialistas que entendem de medicina fetal, de má-formação e de epidemiologia; ele trabalhará numa definição mais precisa dos casos, de todos os segmentos que têm de ser feitos de confirmação. O segundo grupo vai se dedicar mais aos exames laboratoriais, buscando um refinamento de exame do vírus e possibilidade de cooperação da rede pública no aperfeiçoamento dessa metodologia”, afirmou.

Ainda não existe método de diagnostico do vírus zika amplo. O diagnóstico é feito por critério clínico e epidemiológico. Para se ter certeza que é zika é preciso isolar o vírus, mandar para laboratório. Não é a prática. Cláudio Maierovitch

Maierovitch disse que é importante também um acompanhamento mais próximos dos Estados a partir de agora. “[Precisamos] enquadrar e acompanhar rapidamente se há crescimento em outros Estados também. Além disso, pedimos aos Estados que transmitam aos profissionais de saúde as preocupações e recomendações”, afirmou.

Entre as orientações a gestantes, o diretor disse que siga a rotina de exames do pré-natal, com a rotina de exames. “Que não sejam ingeridos medicamentos sem recomendação médica, que as gestantes evitem contatos com qualquer tipo de infecção, como febre. Dada a suspeita do vírus zika no município, se evite ao mosquito. Sei que não é fácil --se fosse, não teríamos epidemia. Mas isso pode ser objeto de um esforço especial na gestação”, completou.

A média nacional de registros de casos de microcefalia no Brasil é de 100 a 120 ao ano. A maioria dos casos de 2015 ocorreu de agosto para cá. 

Exame de detecção não é de rotina

Os exames foram feitos nas duas mulheres da Paraíba porque as equipes que as acompanhavam diagnosticaram a microcefalia e solicitaram o exame do líquido amniótico à Fiocruz para saber se havia zika vírus. O exame de retirada do líquido é invasivo e não faz parte do rol de exames do pré-natal.

Questionado sobre o número de mulheres que teriam fetos com microcefalia, o diretor diz que não há esse dado e pediu para não haja uma corrida ao médico para buscar um exame específico. “Temos um grupo trabalhando nisso, justamente para que se possa ter uma definição muito clara do que deve ser notificado para não criar uma ansiedade, que pode ser, na maioria das vezes, injustificada. Começamos com a notificação das crianças que nascem com microcefalia. Não temos a dimensão de quantas mulheres têm bebês com microcefalia, tampouco temos projeção”, afirmou.

O recém-nascido com microcefalia tem o perímetro da cabeça menor do que a média, que é de 34 a 37 cm. Crianças com perímetro da cabeça menor ou igual a 33 cm já são consideradas microencefálicas. A doença pode acarretar problemas no desenvolvimento, com limitações para falar, andar, escutar, e ainda algum grau de deficiência mental. 

Veja os sete Estados com casos no boletim de hoje do MS:

  • PE - 268
  • SE- 44
  • RN - 39
  • PB - 21
  • PI - 10
  • CE - 9
  • BA - 8

Total: 399