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Sudeste teve 34% mais internações por síndrome de Guillain-Barré

Ricardo Mazalan/ AP
Imagem: Ricardo Mazalan/ AP

Paula Moura

Colaboração para o UOL

28/03/2016 06h00

Sudeste teve 34% mais internações por síndrome de Guillain-Barré em 2015 que no ano anterior. O aumento dos casos chama a atenção por ser um possível indício da progressão da epidemia de zika, um dos vírus capaz de desencadear a complicação neurológica que paralisa músculos

Apesar de o aumento do número de internações foi maior no Nordeste no mesmo período: 76%, o avanço no Rio de Janeiro (74%), Espírito Santo (93%) e Minas Gerais (37%) supera o crescimento médio no país, que foi de 29%.

Em 2015, o Brasil registrou 1.868 casos de internação por síndrome de Guillain-Barré, uma média de mais de cinco internações por dia, segundo dados do Ministério da Saúde. Desse total, 318 foram em São Paulo, 223 em Minas Gerais e 156 na Bahia. 

Quando acontece uma epidemia, os quadros neurológicos são os primeiros a serem percebidos. São dois a três meses de epidemia e só depois de quatro a cinco meses começam a nascer crianças com microcefalia

Carlos Brito, pesquisador da UFPE

“Mas não basta entrar o vírus, é preciso ter uma epidemia, exposição grande da população e das mulheres grávidas”.

Seria o que está acontecendo no Sudeste neste momento? Segundo os especialistas ouvidos pelo UOL, ainda não é possível fazer essa afirmação. Os números mostram avanço dos casos nos quatro Estados, mas não foram comprovados em laboratório se os pacientes foram infectados pelo vírus da zika.

Rodrigo Gomez, neurologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que a dengue também pode desencadear a doença e pode ser uma das causas do aumento de casos.

Problemas de notificação

Outro problema encontrado na análise dos números de SGB é que ainda não há uma base confiável de dados, pois a síndrome não era de notificação obrigatória anteriormente. Eram contabilizadas apenas as internações e não os casos, o que pode gerar duplicidade.

Gabriel de Freitas, neurologista do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, alerta que passou-se a dar mais atenção para as doenças no ano passado. “Precisamos tomar cuidado porque tanto os números de microcefalia quanto de Guillain Barré eram subnotificados em 2014. Quando uma doença passa a ser conhecida, as pessoas prestam mais atenção e aumenta o número de notificações”.

Os números mostram que há uma explosão de casos muito maior no Nordeste, na Bahia triplicou o número e em estados como Ceará e Piauí o número dobrou. “No Sudeste, o aumento não foi tão grande, mas, pelo que temos conversado com colegas, é provável que nos próximos meses vejamos um aumento no Sudeste e Centro-Oeste e, depois, talvez na região Sul”.

Alguns casos estão sendo estudados a partir de agora no Sudeste e já há associações com a infecção por zika.

“Já tem certamente dois casos que a gente estabelece alguma possibilidade de associação”, diz Alexandre Chieppe, subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado do Rio de Janeiro.