Poluição do ar aumenta casos e mortes por câncer em São Paulo, diz estudo
![Pode acreditar, esta é São Paulo com o tempo seco e temperatura na casa dos 25ºC - Werther Santana/Estadão Conteúdo](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/82/2016/07/14/14jul2016---pode-acreditar-esta-e-sao-paulo-com-o-tempo-seco-e-temperatura-na-casa-dos-25-c-a-cidade-enfrenta-o-aumento-da-poluicao-de-acordo-com-a-cetesb-a-qualidade-do-ar-e-considerada-moderada-1468521846570_1170x540.jpg)
Estresse, má alimentação e sedentarismo são conhecidos causadores de câncer em todo o mundo. E em São Paulo, há mais uma razão para se preocupar: a poluição expelida pelos 8,6 milhões de veículos aumenta a incidência de câncer no aparelho respiratório, segundo dois estudos publicados no último ano nas revistas científicas Cancer Epidemiology e Environmental Research.
Desenvolvidas pelo pesquisador mineiro Adeylson Guimarães Ribeiro, 44, as pesquisas cruzaram a concentração de automóveis e casos de câncer. E chegaram a uma proporção.
O aumento na densidade de tráfego em relação ao valor médio esteve associado a um acréscimo de pelo menos 7% na incidência de câncer do aparelho respiratório"
Adeylson Guimarães Ribeiro, doutor em saúde pública pela USP
O levantamento faz parte da tese de doutorado defendida por Ribeiro em 2018 na Faculdade de Saúde Pública da USP. Ele é membro do Núcleo de Pesquisas em Avaliação de Riscos Ambientais.
Ribeiro se inspirou em estudos semelhantes na Europa, América do Norte e Ásia para encontrar um método que se adequasse à cidade com mais habitantes do Brasil.
"Transformamos o município em áreas de 500 metros quadrados para descobrir a influência dos poluentes em cada uma delas", afirmou o pesquisar ao UOL.
O estudioso, então, utilizou uma fórmula com base na densidade de carros. Ele chegou a um número para cada área ao considerar informações como volume de tráfego e quantidade de ruas. "Nosso estudo sugere que quanto maior a densidade de veículos em uma região, maior o risco para a incidência e mortalidade por câncer respiratório", diz.
Poluição que mata
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), 4,2 milhões de pessoas morreram em 2016 em todo o mundo por doenças atribuídas à poluição do ar. No Sudeste do Brasil, foram 12.533 mortes por câncer de traqueia, brônquio e pulmão, informa o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Para 2019, são estimados 31.270 novos casos em todo o país.
Oncologista no Centro Paulista de Oncologia, Denise Leite diz que alguns poluentes do meio urbano estão relacionados não só a câncer do pulmão, mas a outras doenças respiratórias, "mas isso não estava totalmente explicado".
Os efeitos nocivos do cigarro para o aparelho respiratório já era uma certeza. Outra coisa é descobrir que o meio que o próprio ser humano criou e vive nos coloca em risco"
Denise Leite, oncologista clínica do Centro Paulista de Oncologia
Pobres sofrem mais
No segundo estudo, o brasileiro contou com a ajuda de um pesquisador holandês. Eles consideraram a cidade em quatro regiões de acordo com seu desenvolvimento social, o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). "A gente tratou essas áreas como cidades independentes, com modelos para áreas de IDHM baixo (onde vivem os mais pobres), médio, médio-alto e alto."
A surpresa foi descobrir que, embora a população mais rica viva em regiões com movimentação maior de carros, quem mais adoece com a poluição são os moradores da periferia. "Eles sofrem mais o impacto da poluição porque ficam muito tempo no trânsito, no deslocamento do trabalho para a casa. Algumas pessoas chegam a ficar seis horas dentro de um ônibus todos os dias", diz o pesquisador.
Emprego na periferia e frota elétrica
Para o pesquisador, algumas políticas públicas poderiam reduzir não apenas os índices de poluição veicular na cidade, como salvar a vida de milhares de paulistas que vivem na periferia. "É necessário substituir os ônibus a diesel por veículos elétricos, como já vem ocorrendo na Europa, e ampliar a rede de metrô em São Paulo. Com uma rede de transporte melhor, muitos trabalhadores poderão deixar o veículo na garagem durante a semana."
Também é muito importante considerar a criação de postos de trabalho na periferia para reduzir o tempo dentro do ônibus. A qualidade de vida dessas pessoas vai aumentar ao mesmo tempo em que a exposição aos poluentes também vai diminuir"
Adeylson Guimarães Ribeiro, pesquisador da USP
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