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Brasileiro em quarentena em navio do Japão revela apreensão por coronavírus

O navio Diamond Princess está atracado em Yokohama, no Japão - REUTERS/Kim Kyung-Hoon
O navio Diamond Princess está atracado em Yokohama, no Japão Imagem: REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Do UOL, em São Paulo

10/02/2020 12h30

A disseminação do novo coronavírus no navio de cruzeiro "Diamond Princess" gerou um clima de aflição e solidariedade entre passageiros e integrantes da tripulação. Em relato ao jornal "O Globo", o brasileiro Thiago Camos Soares, que faz parte da tripulação, revela detalhes da rotina de cerca de 3.700 pessoas que estão há duas semanas em quarentena em Yokohama, na costa do Japão.

Nesta segunda-feira (10), o Japão informou que 66 novos casos de infecção por coronavírus foram identificados no navio. Com isso, o total de pessoas infectadas subiu para 136. O navio transportava 2.666 passageiros e 1.045 tripulantes antes do surto de coronavírus, segundo a operadora do cruzeiro.

Vigilantes nos corredores

Thiago trabalhava no shopping da embarcação, fechado por causa da quarentena, e foi deslocado para vigilância dos corredores. Em uma medida para evitar contágio, os passageiros devem respeitar turnos para tomar ar fresco no convés. Os que tentam deixar o quarto fora do horário permitido precisam ser contidos.

Segundo o brasileiro, essa política gerou revolta em alguns passageiros nos primeiros dias de quarentena. Agora, o clima de compreensão é maior.

"É muito cansativo, dá medo, mas não adianta perder a cabeça. Temos que entender o tamanho do problema e que só sairemos daqui juntos."

Alguns passageiros colocaram nos corredores mensagens de incentivo à tripulação. "Deus abençoe. Mantenha a cabeça erguida", dizia o bilhete na porta de uma das cabines.

"Eles querem ir embora, e nós também queremos voltar logo a nossas rotinas normais", afirmou Thiago por mensagem de texto ao jornal "O Globo".

Apreensão e tédio entre passageiros

Impedidos de circular pelo navio, os passageiros confinados em suas cabines têm que encontrar coisas para passar o tempo. Mathieu Smith, um americano de 57 anos, não tem muitas opções de lazer na cabine de apenas 20 m². "Eu leio, vejo televisão, filmes, e passo muito tempo nas redes sociais, conversando com os amigos. Eles me apoiam e isso me faz bem", conta o turista.

Mathieu Smith faz parte dos passageiros sortudos, que têm uma varanda na cabine e pode tomar ar fresco e ver o movimento do lado de fora do navio. Foi num desses momentos, que ele assistiu na manhã deste domingo (9) uma cena surpreendente. Cerca de dez jet skis fizeram um espetáculo de "dança" para animar e apoiar os passageiros confinados a bordo.

"Eu ouvi uma música, como se estivesse acontecendo uma festa do lado de fora. Os jet skis rodopiavam na água. Foi surrealista. Me senti como um animal enjaulado. As pessoas vieram nos observar e também fazer uma espécie de show. Foi muito bizarro", disse o americano rindo, apesar da situação.

Assim que conseguir sair do navio, o advogado de Sacramento, na Califórnia, garante que vai aproveitar de sua liberdade e passear em lugares bem maiores do que a varanda de sua cabine.

Operadora vai reembolsar passageiros

A operadora do navio afirmou hoje (10) que vai reembolsar passageiros. O site da empresa Diamond Princess afirma que vai devolver as taxas do cruzeiro, bem como os custos de transporte, incluindo passagens aéreas e de trem, além de hotéis utilizados antes e depois da viagem.

*Com rfi, Estadão Conteúdo e Agência Brasil