Com sabonete e carona, brasileiros se ajudam na pandemia de coronavírus
Em meio à política de isolamento devido à pandemia de coronavírus que atinge também o Brasil, há pessoas decididas a não se trancar em casa.
A reportagem do UOL conversou com três delas, voluntários que, de alguma maneira, ajudam outras, mesmo sem conhecê-las, muitas vezes tirando dinheiro do próprio bolso.
Douglas Pinheiro tem um projeto familiar desde 2015 para 100 crianças em uma comunidade em São Gonçalo em Niterói/RJ.
O "Primeira Chance" já participou de um programa de televisão e vive de doações de outras pessoas. Douglas diz que apesar de o projeto ser voltado para crianças, costuma fazer ações sociais em momentos como o atual, quando há urgência para ajudar profissionais autônomos e idosos no Complexo da Coruja, comunidade onde vive.
"Tem uma parte no complexo, na parte mais alta da favela, em que a pobreza é assustadora. Cara, eles vão morrer, não tem nada lá. Eu corri para lá e fui ajudar. Eu tomei um susto de lá não ter nem sabonete na casa para tomar banho."
Vendo que as pessoas precisavam de ajuda imediata, Douglas gastou esta semana R$ 200 próprios de um bônus de um mercado que ganhou quando participou do programa de TV, e cerca de R$ 3 mil de doações para comprar insumos como sabonetes, feijão e arroz que já distribuiu para esses moradores.
"A ideia agora é globalizar isso na favela. O quanto a gente puder poupar de dinheiro dessas pessoas, a gente vai poupar, o quanto a gente puder cuidar dessas pessoas, a gente vai cuidar."
Carro forrado para levar desconhecida ao exame
Camila Magri trabalha em um laboratório de análises clínicas em São Paulo e conta que tem ficado preocupada com a procura ao laboratório. "Nas últimas semanas, a procura por testes de coronavírus só aumentou", conta.
Uma das pessoas que a procurou com orientação para fazer o exame de detecção do coronavírus chamou sua atenção. Era uma paciente mineira que mora sozinha com uma filha de 10 anos em São Paulo, onde trabalha como relações-públicas.
A atendente explica que, ao procurar o serviço do laboratório, a paciente começou a ficar preocupada porque não conseguia agendamento em nenhum lugar da capital para fazer o exame.
Camila resolveu ajudar. Ela conseguiu agendar a paciente para fazer um exame no Hospital Albert Einstein e foi com a irmã, técnica de enfermagem, ambas com luvas cirúrgicas e máscaras, além do carro forrado com tecido descartável de maca, buscar a moça (também com máscara).
A levaram até o hospital, onde esperaram todo o tempo para o atendimento. Depois deixaram a pessoa em casa. Desde então, Camila também permanece em isolamento, mesmo sem saber se a paciente de fato está com a doença.
Remédios para artistas idoso do Planalto Central
Moisez Vasconcellos é ator e iluminador, em Brasília. Ele conta que começou no sábado, dia 14, a entrar em contato com uma rede de artistas como diretores de teatro e outros atores conhecidos dele na cidade, a maioria idosos, para dar alguma assistência.
Já gastou cerca de R$ 100 do próprio salário com medicamentos para os colegas.
"Tenho comprado remédio e perguntado: 'Tem comida, tem produto de limpeza'? Os artistas, a meu ver são os mais vulneráveis, em muitos casos, são pessoas idosas. Eles estão sem trabalho porque fecharam as portas de eventos culturais e eles não têm apoio do governo ou da Previdência para se manterem."
Moisez diz que apesar do medo de se contaminar, acredita que é preciso ter consciência de que há pessoas em mais necessidade que outras.
Ele prefere não expor as pessoas que ajuda. O ator tem se protegido com luvas e máscara durante as entregas para os idosos porque teme que possa ser um transmissor do vírus mesmo sem nenhum sintoma.
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