Este artigo é dedicado aos médicos e a todos os profissionais de saúde. Meu olho enche de lágrima só de pensar neste exército de homens e mulheres que se expõem para nos salvar, para nos cuidar, para nos acalmar, para nos consolar.
Imagine os médicos e enfermeiros da Itália, da China, do Brasil. Graças a um deles você veio ao mundo, um filho seu foi salvo, um curou a Donata, outro me salvou de quase virar alcoólatra.
No mundo em que se fala tanto de propósito (tantas vezes da boca pra fora), esses caras são o propósito vivo.
A grande maioria ganha pouco, ou deveria ganhar muito mais.
Milhares e milhares vão enfrentar o vírus do momento, mas ele já foi a peste bubônica, a peste negra, a tuberculose, a aids...
Médico para mim não devia pagar imposto de renda, não devia pagar transporte público, não devia pegar fila.
Conheço bem. Meu pai foi um deles. Lembro dele arrasado toda vez que perdia um paciente. Exultante quando salvava alguém.
Ler a vida de Hipócrates é um espetáculo. Ver como ele estabeleceu em priscas eras os processos, como registrou meticulosamente os sintomas das doenças. E se expôs a elas num mundo de tão pouca assepsia.
Eu adoro médico. Eu sou hipocondríaco. Um dia eu fui dar uma palestra na Escola Paulista de Medicina e falei para 300 médicos. Nossa! Por mim, eu trancava a sala e morava ali, só aprendendo e trocando receitas.
Então hoje, aproveitando que tem tantos políticos nos hospitais e de quarentena, reflitamos sobre o que podemos fazer por eles. O que podemos aprender com eles.
É para você, jovem médico da Lombardia ou de Paraopeba, que eu rezo nessa quaresma.
E agradeço a Deus por uma parte da humanidade ter se dedicado a cuidar de nós.
Meu psiquiatra, por exemplo, tem um sobrenome lindo: Guerra. Arthur Guerra luta todo dia contra a depressão, a bipolaridade, as neuroses e as compulsões das pessoas. Ele me devolveu o sono, o norte. É quase cura. Porque ele é muito bom, mas não é Deus (kkk).
O dia dos médicos é em outubro.
E eu proponho que este seja um acontecimento especial. Que as TVs abracem a data. Que a imprensa mobilize o país para agradecer pelo que fizeram, pelo que estão fazendo e pelo que farão.
Esse meu texto está meio cafona. Todas as cartas de amor são ridículas, dizia Fernando Pessoa.
Este artigo é para a gente refletir nesta quaresma. Qual é o nosso propósito na Terra? Somos fiéis a ele? Ou estamos seguindo o triste caminho do propósito nenhum?
Os médicos sabem melhor o sentido da vida porque vivem todo dia com a morte. Eles veem o que os homens pensam quando estão terminais, quando perdem os que amam. Eles veem crianças que nunca viveram, mas também têm a satisfação máxima de salvar, de curar, de trazer ao mundo ou consolar o inconsolável. Eles estão salvando a gente desse inimigo letal e invisível, enquanto você lê seu jornal e eu me resguardo em minha quarentena.
Mas são eles que colocam esta raça no mundo e que apertam nossa mão quando nos despedimos do mundo.
Penso nos médicos nas guerras, nos que trabalham em Alepo, na Síria, nas Torres Gêmeas, em Hiroshima. Muitos morreram no dia de hoje por causa dessa ou de outra doença.
Meu irmão é médico. Nesses dias eu tenho pensado muito nele, que dirige hospital de doenças contagiosas.
Por que um ser humano escolhe viver assim? Porque esta raça é humana. E é por você, jovem médico, que vai assustado mas orgulhoso para o seu trabalho, que esta raça pode ser chamada de humana.
*Nizan Guanaes é publicitário e sócio-fundador do Grupo ABC
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