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Médicos, cientistas e enfermeiros dizem que fala de Bolsonaro é "criminosa"

Aiuri Rebello e Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

25/03/2020 12h14

Ao menos 11 entidades médicas, científicas e de enfermagem reagiram negativamente hoje ao pronunciamento de ontem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defendeu ontem à noite retomar atividades escolares e comércios, apesar da pandemia do novo coronavírus e contrariando recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde.

Uma nota assinada por sete associações chama as falas do presidente de "incoerente e criminosa", cita um artigo do Código Penal Brasileiro que Bolsonaro teria violado e classifia de "discurso da morte" os pedidos presidenciais.

"O sr. Jair Bolsonaro nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia do covid-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde"
Nota conjunta assinada por sete entidades de saúde

O comunicado aponta também ainda possível crime cometido pelo presidente, a "infração de medida sanitária preventiva" que consta no Código Penal Brasileiro.

O artigo diz que é crime:

Art.268 - Infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa."

Na nota, as entidades de "saúde coletiva e da bioética consideram intolerável e irresponsável o 'discurso da morte' feito pelo Presidente da República".

Essa nota é assinada por:

  1. Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)
  2. Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes)
  3. Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES)
  4. Associação Brasileira da Rede Unida
  5. Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn)
  6. Associação Paulista de Medicina (APM)
  7. Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)

Segundo as entidades de saúde, o "pronunciamento perverso" de Bolsonaro "pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulneráveis da sociedade".

"Desserviço"

Em outras notas, de tom igualmente crítico, também se manifestaram:

  1. Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
  2. Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
  3. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
  4. Associação Paulista de Medicina (APM)
  5. Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
  6. Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)
  7. Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)
  8. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
  9. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)

"O fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir aglomerações humanas, se impõe. Por isso, a medida está sendo tomada em países europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América".
Sociedade Brasileira de Infectologia

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tratou o pronunciamento de Bolsonaro como "desserviço" e reforçou que "a pandemia é muito grave".

O presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, pede que a sociedade não perca de vista a gravidade da epidemia.

"O que devemos fazer é seguir as orientações do ministro [da Saúde] Luiz Henrique Mandetta. Eu espero que a flexibilização eventual do isolamento máximo tenha hora, sim, mas quando chegar a hora nós vamos discuti-la. Nós não podemos diminuir o impacto da recessão econômica na saúde, mas este é um assunto para ser discutido amanhã, não hoje", disse Gomes do Amaral ao canal GloboNews.

O que disse Bolsonaro?

As entidades reagem a um discurso de Bolsonaro exibido ontem à noite, em rede nacional, no qual o presidente da República relativiza a gravidade do covid-19, critica as medidas restritivas impostas por governadores e questiona a necessidade da quarentena.

"O grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas?", falou.

A assessoria do Palácio do Planalto será procurada e, caso se manifeste, suas considerações sobre essas críticas serão incorporadas ao texto.