Médicos, cientistas e enfermeiros dizem que fala de Bolsonaro é "criminosa"
Ao menos 11 entidades médicas, científicas e de enfermagem reagiram negativamente hoje ao pronunciamento de ontem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defendeu ontem à noite retomar atividades escolares e comércios, apesar da pandemia do novo coronavírus e contrariando recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde.
Uma nota assinada por sete associações chama as falas do presidente de "incoerente e criminosa", cita um artigo do Código Penal Brasileiro que Bolsonaro teria violado e classifia de "discurso da morte" os pedidos presidenciais.
"O sr. Jair Bolsonaro nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia do covid-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde"
Nota conjunta assinada por sete entidades de saúde
O comunicado aponta também ainda possível crime cometido pelo presidente, a "infração de medida sanitária preventiva" que consta no Código Penal Brasileiro.
O artigo diz que é crime:
Art.268 - Infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa."
Na nota, as entidades de "saúde coletiva e da bioética consideram intolerável e irresponsável o 'discurso da morte' feito pelo Presidente da República".
Essa nota é assinada por:
- Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)
- Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes)
- Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES)
- Associação Brasileira da Rede Unida
- Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn)
- Associação Paulista de Medicina (APM)
- Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
Segundo as entidades de saúde, o "pronunciamento perverso" de Bolsonaro "pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulneráveis da sociedade".
"Desserviço"
Em outras notas, de tom igualmente crítico, também se manifestaram:
- Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
- Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
- Associação Paulista de Medicina (APM)
- Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
- Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)
- Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)
- Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
- Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)
"O fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir aglomerações humanas, se impõe. Por isso, a medida está sendo tomada em países europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América".
Sociedade Brasileira de Infectologia
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tratou o pronunciamento de Bolsonaro como "desserviço" e reforçou que "a pandemia é muito grave".
O presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, pede que a sociedade não perca de vista a gravidade da epidemia.
"O que devemos fazer é seguir as orientações do ministro [da Saúde] Luiz Henrique Mandetta. Eu espero que a flexibilização eventual do isolamento máximo tenha hora, sim, mas quando chegar a hora nós vamos discuti-la. Nós não podemos diminuir o impacto da recessão econômica na saúde, mas este é um assunto para ser discutido amanhã, não hoje", disse Gomes do Amaral ao canal GloboNews.
O que disse Bolsonaro?
As entidades reagem a um discurso de Bolsonaro exibido ontem à noite, em rede nacional, no qual o presidente da República relativiza a gravidade do covid-19, critica as medidas restritivas impostas por governadores e questiona a necessidade da quarentena.
"O grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas?", falou.
A assessoria do Palácio do Planalto será procurada e, caso se manifeste, suas considerações sobre essas críticas serão incorporadas ao texto.
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