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Aprendizes de marinheiro em contato com navio têm suspeita de coronavírus

Quase 200 estudantes tiveram contato com embarcação da Marinha, que tem dois doentes - divulgação
Quase 200 estudantes tiveram contato com embarcação da Marinha, que tem dois doentes Imagem: divulgação

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

26/03/2020 20h20

Resumo da notícia

  • Escolas militares mantêm aulas mesmo em meio à pandemia
  • Em SC, 200 alunos tiveram contato com navio da Marinha
  • Descobriu-se depois que dois tripulantes do navio tinham covid-19
  • Sindicato diz que seis alunos estão com suspeita de coronavírus

Um navio da Marinha em que se descobriu haver tripulação com covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, teve contato com quase 200 alunos da Escola de Aprendizes de Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC). A unidade é uma das instituições das Forças Armadas que mantém aulas apesar da pandemia de coronavírus e oferece curso técnico de um ano a jovens com idades entre 18 e 22 anos.

Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasef), dias depois do contato com o navio Almirante Saboia, estudantes podem ter sido contaminados. Seis alunos estão na enfermaria da instituição com suspeita de covid-19 nesta quinta-feira (26), relatou a diretora da entidade, Elenira Vilela, e um deles estaria em isolamento completo.

Ela recebeu relatos da comunidade escolar, confirmados posteriormente pelo UOL. Hoje, a reportagem telefonou para a enfermaria da EAMSC. O funcionário não negou os fatos. Procuradas, a assessoria do Comando da Marinha, da escola e do 5º Distrito Naval silenciaram sobre o tema.

O navio Almirante Saboia esteve em Itajaí (SC) entre 12 e 16 de março. Nos dias 13 e 14, ele foi visitado por quase 200 estudantes da EAMSC, que fica em Florianópolis (SC).

Ontem, a Marinha confirmou que dois oficiais da embarcação contraíram coronavírus.

Hoje, a Força informou que esses tripulantes "apresentam sintomas leves, com evolução clínica satisfatória, e permanecem em isolamento domiciliar, sem necessidade de internação". Outras três pessoas fizeram testes, e os resultados de dois deles foi negativo.

Os demais tripulantes seguem "monitorados" de acordo com o Comando da Marinha. "Medidas de descontaminação estão sendo realizadas com o apoio da Companhia de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica da MB, e programadas para todos os navios subordinados em operação, de modo a manter a sua plena capacidade de emprego", informou a assessoria em nota divulgada às 16h15.

De acordo com Elenira Vilela, desde o dia 17, após a visita ao navio Almirante Saboia, a enfermaria da escola recebeu 11 alunos com suspeita de covid-19. A reportagem confirmou a informação com uma pessoa da própria instituição.

No dia da visita, não havia suspeita

Na noite desta quinta-feira (26), o Comando do 5º Distrito Naval informou que, na data do encontro dos alunos com os marinheiros do navio Almirante Saboia, não havia suspeita de coronavírus entre os tripulantes: "Nos dias 13 e 14, os alunos da Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC) visitaram o navio, sendo que não havia nenhuma suspeita de covid-19 entre os tripulantes".

Só depois disso, no dia 19, informa a Marinha, a escola proibiu os alunos de deixarem o internato e voltar para casa nos finais de semana, o chamado "licenciamento".

"Posteriormente, em 19 de março, a EAMSC suspendeu o licenciamento, inicialmente por 15 dias, por cumprir regime de internato, com alunos advindos de diversas cidades do Brasil, visando à manutenção da integridade física e proteção dos próprios alunos", segue a nota.

Contudo, segundo o Ministério da Saúde, o período de incubação do coronavírus é de cerca de 14 dias. Se os marinheiros estivessem doentes no dia 13, poderiam não apresentar sintomas na data.

A Força silencia sobre os alunos na enfermaria. Cita que existem "grupos de risco" que são "preservados". A Marinha afirma que toma "medidas de prevenção estabelecidas pelo Ministério da Saúde, com assistência da unidade de saúde localizada na própria Organização".

"Os grupos de risco estão sendo preservados por meio de uma rotina de trabalho flexibilizada, bem como estão sendo adotadas medidas que garantam as adequadas condições de higienização individual e segurança de todos os militares, professores e servidores nesta Organização Militar de Ensino."

Escolas não liberam alunos apesar da covid-19

O EAMSC é uma das várias instituições militares em que os alunos ficam em regime de internato. Muitos deles não podem voltar para casa apesar dos decretos dos governadores e prefeitos ordenando o fechamento de escolas.

O Ministério da Defesa informou que os alunos estão mais seguros dentro das unidades do que com seus familiares. A pasta garantiu que não há risco de os cadetes contraírem coronavírus por não voltarem para suas casas.

Além disso, a Defesa entende que não desobedece a lei porque estaria livre de se submeter às regras das escolas regulares.