Piores estruturas do SUS contra covid-19 incluem RJ e leste da Grande SP
Resumo da notícia
- Pesquisa mapeia regiões com poucos leitos de UTI e muitos casos de doença respiratória
- Locais com essas duas características são considerados áreas vulneráveis na pandemia
- Nestas regiões menos protegidas estão capitais de RJ, MS e o leste da Grande SP
Levando em consideração apenas a estrutura do SUS (Sistema Único de Saúde), as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Campo Grande, além da região do Alto Tietê, que representa o leste da Grande São Paulo, e inclui a cidade de Guarulhos (SP), entre outras cidades populosas, estão entre as áreas mais vulneráveis para o combate à pandemia de coronavírus. Isso é o que aponta uma pesquisa do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), órgão privado que reúne especialistas.
Para chegar a este diagnóstico, o estudo mapeia regiões do SUS com menos UTIs (unidades de terapia intensiva) disponíveis do que o recomendado e ainda considera áreas com mais mortes por doenças respiratórias. Locais com estas duas características são considerados "especialmente vulneráveis" ao coronavírus.
"Nota-se que a região do Rio de Janeiro, além de contar com leitos adultos de UTI abaixo do mínimo, registrou em 2018 uma taxa de mortalidade por doenças semelhantes de 69,3 por 100 mil residentes, acima da mediana, entrando assim para a classificação de especialmente vulneráveis", complementa o estudo.
O estudo do Iesp considera o Brasil divido em 436 regiões do SUS. Dessas, 133 regiões -30% do total— estão em situação desfavorável para atender sua população ante à pandemia.
A reportagem considerou as cidades mais populosas na categoria de regiões vulneráveis. Para ver o estudo completo, clique aqui.
Na análise da vulnerabilidade, os números destacam também o Sudeste como um todo. "40,4% da população dependente do SUS reside em regiões denominadas especialmente vulneráveis", diz a pesquisa, sobre a região. Porém a cidade de São Paulo, até agora epicentro da pandemia no Brasil, não está na lista de vulneráveis do estudo.
O UOL procurou governos do estado e do município do Rio de Janeiro, já que a capital fluminense foi citada como especialmente vulnerável. O governo estadual não respondeu.
A Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que "tem um planejamento com abertura progressiva de leitos, que chegarão, somente sob gestão do município, a 881 leitos dedicados exclusivamente ao tratamento da covid-19, incluindo leitos de UTI".
Juntos, governo e prefeitura do Rio já anunciaram a criação de quatro hospitais de campanha por conta do coronavírus na região metropolitana. No total, 1,1 mil leitos serão agregados ao sistema público de saúde no Grande Rio.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo afirma que o SUS possui 57 mil leitos gerais e 3,5 mil de UTI no estado. A pasta prevê, em um primeiro momento, a ampliação de 1,4 mil leitos de UTI para os atendimentos a casos de covid-19.
Falta de leitos chega a 72% das regiões dos SUS
Sobre a falta de UTI, o Ieps aponta que 316 de 436 das regiões de saúde do país —72% do total— têm menos leitos para adultos disponíveis no SUS do que o recomendado pelo Ministério da Saúde.
"Não há UTIs suficientes, principalmente em algumas localidades do país", afirmou a médica Ana Maria Malik, professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) e uma das autoras da pesquisa.
A pesquisa do Ieps aponta também que 142 regiões de saúde não têm nenhum leito de UTI adulto disponível no SUS. "Isto significa que 14,9% da população exclusivamente dependente do SUS não contam com leitos de UTI na região em que residem", informa a pesquisa.
A falta de leitos da UTI atinge, principalmente, o Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) divulgou uma nota na quarta-feira (25) ratificando a falta de leitos de UTI no Brasil, especialmente em algumas localidades. Para a associação, isso é um problema para o enfrentamento do coronavírus
"Os leitos de UTI são insuficientes para a demanda de uma pandemia e, ainda mais preocupante, apresentam-se distribuídos de forma irregular, deixando grande parte da população nacional sem a menor chance de ter acesso à assistência devida", declarou a entidade.
Governo quer ampliar leitos de UTI
O Ministério da Saúde não se pronunciou sobre o estudo do Ieps, mas informou que, no balanço nacional, levando em conta os leitos disponíveis em hospitais da rede privada, o país tem mais UTIs do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
"O Brasil conta hoje com 55.101 leitos de UTI. Destes, 27.453 estão no SUS", informou o órgão. "O sistema de informação do ministério aponta para a existência de 2,6 leitos intensivos para cada 10 mil habitantes no Brasil, acima da recomendada pela OMS. Essa oferta pode ser ampliada de acordo com a avaliação do cenário epidemiológico".
O ministério informou ainda que está ampliando a disponibilidade de UTIs por conta do coronavírus. "A pasta anunciou a contratação de leitos de UTI volantes de instalação rápida que já começaram a ser entregues nos estados", declarou. "Serão locados 3 mil leitos desse tipo."
A estrutura do estudo
As regiões de saúde são grupos de municípios integrados por atividades econômicas e sistema de transporte. Elas ajudam governos a planejar políticas de saúde, fazendo com que cidades pequenas utilizem estrutura de atendimento de cidades maiores.
Para o Ieps, é importante para o enfrentamento ao coronavírus que cada região de saúde tenha um leito de UTI adulto disponível no SUS para cada 10 mil pessoas sem plano de saúde vivendo em sua área. Na pesquisa do instituto, esse número não leva em consideração UTIs em hospitais privados nem leitos infantis já que a covid-19 acomete mais adultos.
O instituto também levantou a metade dos municípios brasileiros com maior número de morte por doenças respiratórias, como pneumonia e tuberculose, em 2018. Esse fator foi levado em consideração na pesquisa porque a covid-19 também afeta os pulmões.
Cruzando os dois dados, o Ieps chegou às 133 regiões de saúde com déficit de leitos de UTI adulto combinado com mortalidade por doenças respiratória acima da mediana. Para o instituto, essas são as áreas "especialmente vulneráveis" do país.
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