Coronavírus: UTI aérea vira a única salvação para cidades isoladas no AM
Resumo da notícia
- Presidente de conselho de secretários de saúde diz que cenário em municípios afastados é preocupantes
- Cidades não tem respiradores para atender casos graves e enfrentam dificuldade para comprar produtos de atendimento básico
- Governo estadual dispõe de um jato, um avião para pista pequena e um hidroavião
- Número de infectados no Amazonas (532 até ontem) supera a soma dos demais 6 estados do Norte
O avanço do coronavírus no interior do Amazonas se tornou uma preocupação para autoridades de saúde dos municípios pobres e isolados pela floresta Amazônica. Sem estrutura para tratar pacientes com dificuldades respiratórias, as cidades precisam contar com UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) aéreas, que estão levando os suspeitos e doentes para a capital, Manaus.
Desde o início do surgimento dos casos de covid-19 no estado, seis pacientes já foram levados em uma UTI aérea para receber atendimento. Um dos que precisaram do serviço foi o comerciante e pescador esportivo Geraldo Sávio, 49. Ele foi levado de Parintins (cidade a 366 km de Manaus) em estado grave para a capital amazonense, onde ficou internado por quatro dias na UTI, mas acabou morrendo no dia 24.
O presidente do Cosems (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde) do Amazonas, Januário da Cunha Neto, admite que o cenário das cidades amazônicas é preocupante para enfrentamento da covid-19. "Nós não estamos preparados para lidar com os casos mais graves", diz.
Segundo ele, a maioria dos municípios não tem equipamentos para garantir suporte ventilatório a uma insuficiência respiratória grave. Além disso, há ainda hoje uma dificuldade para comprar produtos usados no atendimentos nas unidades de saúde.
"Temos problema sobretudo em relação à aquisição de equipamentos de proteção individual e os insumos necessários. Está muito difícil comprar. O mundo todo nesse momento está interessado na mesma coisa. A gente está fazendo racionamento do uso desses equipamentos. Não seria o cenário ideal; mas precisamos para poder garantir pelo menos por mais tempo", explica.
Para tentar conter a chegada do coronavírus, os municípios fortaleceram a atenção básica e montaram uma espécie "barreira sanitária nos portos, aeroportos e rodovias para que as pessoas que sejam oriundas de áreas comprovadamente de circulação do vírus não possam adentrar."
No caso de Parintins, a prefeitura decretou toque de recolher.
"Muitos municípios já decretaram estado de calamidade e outros optaram pelo lockdown [bloqueio de emergência que impede a saída das pessoas] e estão completamente fechados por 15 dias", afirma Januário.
Diante desse cenário, o presidente do Cosems afirma que é fundamental que a população tenha consciência de que o distanciamento social é a melhor forma de prevenir a doença. "Essa é barreira mais eficiente para evitar a transmissão", alerta.
Estado tem três aviões
O secretário-executivo adjunto de Atenção Especializada ao Interior da Secretaria de Saúde do Amazonas, Cássio Espírito Santo, afirma que o estado tem de três modelos de aeronaves que são utilizadas conforme a distância do município onde está o paciente.
Cada aeronave leva todo aparato para realizar os atendimentos — equipamentos, insumos e profissionais —, com capacidade para transportar até dois pacientes.
"Temos um jato, um avião para pista pequena e um hidroavião, para atender às diversas realidades dos nossos municípios. E, através de um sistema de regulação, esses pacientes são informados e removidos para a capital. A ambulância vem na própria pista, retira o paciente e leva para a unidade de saúde de destino", disse.
Até ontem, o Amazonas registrou 532 casos da covid-19, com 19 mortes. O número de registros chama a atenção em relação aos vizinhos, já que o número de infectados supera a soma de todos os demais seis estados da região Norte. O estado é o quarto do país em número total de pessoas com casos de covid-19.
Segundo relatório divulgado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave está em um nível "muito alto considerando o histórico do Estado".
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