PM de SP manda parte de policiais em 'grupo de risco' seguir trabalhando
Resumo da notícia
- PM orienta agentes com doenças como hipertensão e diabetes a trabalharem normalmente se condições estiverem sob controle
- Para corporação, só não deve ser afastado o policial que não tiver doença controlada
- Secretaria da Segurança Pública de SP diz que segue recomendações da OMS
A PM (Polícia Militar) de São Paulo determinou que sigam trabalhando normalmente os policiais com doenças que os coloquem no chamado "grupo de risco" da covid-19 caso essas condições estejam "controladas".
São considerados mais vulneráveis a complicações pela infecção pelo coronavírus as gestantes e os portadores de condições como hipertensão, diabetes e doenças pulmonares. A recomendação das autoridades sanitárias é de cuidado especial para essas pessoas.
Ofício da PM a que o UOL teve acesso, no entanto, determinou que só sejam afastados os policiais que se enquadrem nesses critérios se tiverem "doença ativa e descompensada".
Assinado pelo diretor de saúde da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Cezar Angelo Galletti Junior, e carimbado pelo também diretor tenente-coronel Ademir Euzébio Correa, o texto, de 19 de março, diz:
"Policiais militares que pertençam a grupo de risco e encontrem-se com a doença controlada, considerando o caráter preventivo, deverão permanecer em serviço, até nova determinação emitida pela Secretaria da Segurança Pública".
Em serviço
A PM determinou também que permaneçam em serviço:
- Policiais sem sintomas, mesmo que tenham tido contato com pessoas que tiveram confirmação de covid-19; nesse caso, devem procurar o sistema de saúde da corporação caso tenham sintomas de gripe.
- PMs assintomáticos que voltaram do exterior
Já para os PMs com sintomas leves, a determinação é de isolamento social. Com sintomas como febre e dispneia, os policiais devem ir ao hospital para avaliação. Se o exame confirmar infecção pelo novo coronavírus, é determinada a licença.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), "o ofício citado está de acordo com o decreto 64.864, que foi regulamentado pela corporação, estabelecendo os policiais que estão aptos ou não ao serviço, de acordo com instruções das autoridades de saúde".
Com diabetes e nas ruas
O cabo Jorge (nome fictício a pedido dele) sofre de diabetes, mas continua trabalhando nas ruas da zona leste de São Paulo. "É 1,5 litro de álcool gel para o batalhão e seja o que Deus quiser. A gente fica preocupado, porque tem visto muito as notícias, né? Um vizinho meu, por exemplo, morreu de coronavírus e também estava com a diabetes controlada", conta.
Ao todo, cerca de 450 PMs foram afastados do trabalho sob suspeita de estarem com covid-19. Além dos PMs, 150 policiais civis de São Paulo também foram afastados sob as mesmas condições. A sargento Magali Garcia, 46, foi a primeira policial de São Paulo em atividade a morrer vítima da infeção. Ela não tinha problemas de saúde.
Segundo a SSP, todo policial com suspeita ou diagnóstico de covid-19 "está devidamente afastado, conforme orientações da OMS, Ministério da Saúde e do Comitê de Contingência do Coronavírus. E a instituição acompanha seu quadro clínico, fornecendo todo o suporte necessário para sua recuperação".
Porta-voz da PM, o tenente-coronel Emerson Massera afirmou que a corporação está tomando cuidados cabíveis. Ele mesmo diz que é hipertenso há 15 anos, mas diz controlar bem com medicação. "Pode até acontecer algo comigo, mas não me vejo enquadrado no grupo de risco", afirmou.
"Tenho um colega de turma que é diabético desde o Barro Branco [escola de formação de oficiais da PM]. Ele aplica insulina todos os dias, mas nunca mais teve alteração. Não é necessário afastar um caso assim", complementou o tenente-coronel.
Se formos afastar todos os policiais que tiverem algum problema como esses que exemplifiquei, talvez não sobre ninguém.
Emerson Massera, porta-voz da PM de SP
Infectologista avalia os riscos
O infectologista Natanael Adiwardana, que está tratando diretamente infectados por covid-19 em um hospital em São Paulo, afirma que "quem possui essas comorbidades, como hipertensão arterial e diabetes, pode responder de forma diferente diante de uma eventual infecção".
Segundo o médico, estudos têm mostrado que pessoas com essas condições podem ter manifestações mais intensas da doença. "Mas estes são principalmente para aqueles que possuem formas mais avançadas dessas doenças de base, o que já os torna mais vulneráveis diante do frágil estado de equilíbrio de sua saúde", explica.
Adiwardana complementa que "ainda assim, pelo fato de terem comorbidades, ainda que controladas, eles podem, sim, ter a doença sintomática de forma mais frequente. Mas provavelmente possuem mais 'reserva fisiológica' —um corpo mais preservado e preparado para aguentar um eventual insulto da doença do que alguém que está com suas doenças cardiovasculares e metabólicas totalmente descontroladas".
Por meio de nota, a SSP afirmou que "independentemente da pandemia, todo policial militar pode procurar a unidade integrada de saúde mais próxima para uma avaliação médica, podendo ser colocado em licença compulsória, se necessário. O número de policiais afastados corresponde a 0,5% do efetivo das três polícias paulistas".
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