Brasil bate mil mortes por covid-19, e Bolsonaro contraria Mandetta de novo
Resumo da notícia
- Brasil acumula 1.056 mortes por covid-19 até sexta (10); foram 115 no intervalo de 24 horas
- SP segue como estado com mais mortes (540) e casos confirmados (8.216). RJ vem na sequência
- Presidente Bolsonaro sai de novo pelas ruas, causa aglomeração e cumprimenta pessoas após coçar nariz
- Adesão ao pedido de ficar em casa diminuiu no primeiro dia do feriadão
- No estado de SP, só 47% aderiram à quarentena. Foram registradas aglomerações de Manaus a Florianópolis
A aceleração descontrolada da covid-19 em alguns estados, anunciada pelo Ministério da Saúde, parece estar se confirmando e o Brasil atingiu 1.056 mortes nesta sexta-feira de feriadão. O número representa uma alta de 144% em relação à sexta-feira da semana passada, quando eram 432 vítimas fatais.
E no mesmo dia em que o país passou dos mil óbitos, o presidente Jair Bolsonaro voltou a desrespeitar as orientações de distanciamento social sugeridas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde. Ele chegou a coçar o nariz com o punho e cumprimentar três pessoas na sequência, incluindo uma idosa.
Adesão ao isolamento cai
Assim como o presidente, considerável parte da população brasileira está ignorando os apelos por ficar em casa. O monitoramento do governo de São Paulo apontou que somente 47% das pessoas respeitaram a quarentena no estado. Houve filas em peixarias por causa da Sexta-feira Santa, e em supermercados para comprar ovo de Páscoa. Muitas pessoas saíram às ruas para caminhadas, correr e andar de bicicleta.
"Colapso funerário" em Manaus
A conta deste comportamento começa a chegar em alguns pontos do Brasil. O caso mais visível é Manaus (AM), onde o hospital de referência para o combate à covid-19 na cidade está com todos os leitos de UTI disponíveis ocupados. O prefeito da cidade, Arthur Virgílio Neto (PSDB), declarou que já há um colapso funerário.
"Os enterros estão crescendo de maneira exponencial, as mortes. É uma situação que deixa as pessoas nervosas, estressadas", afirmou.
Pais ultrapassa marca das mil mortes
Somente em 24 horas foram confirmadas as mortes de 115 pessoas pelo Ministério da Saúde. Os casos confirmados subiram para 19.638, fora os exames que não tiveram resultado anunciado - somente em São Paulo a fila chega a 21 mil testes.
O crescimento no número de mortes era esperado para esta fase da pandemia, onde há locais na chamada aceleração descontrolada. Distrito Federal, São Paulo, Ceará, Amazonas, Amapá e Rio de Janeiro são considerados locais em emergência porque têm uma taxa de casos acima da média nacional.
São Paulo é o estado com mais pessoas contaminadas (8.216) e o que mais registrou mortes (540). O Rio de Janeiro aparece na sequência com 2.464 infectados e 147 vítimas fatais. O Tocantins é o único estado brasileiro que não registrou nenhuma morte.
Também foi verificado o óbito do primeiro indígena, Alvanei Xirixana. O garoto tinha 15 anos e ficou seis dias internado na UTI do hospital Geral de Roraima, em Boa vista. O primeiro teste deu negativo, mas a contraprova apontou coronavírus.
Presidente ignora isolamento outra vez
Durante pronunciamento em cadeia nacional na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro falou que iria respeitar as recomendações do Ministério da Saúde. Mas ele fez exatamente o contrário em dois dias seguidos. Na quinta-feira, esteve em uma padaria e comeu um sonho, o que desrespeita um decreto estadual que permite a venda para consumo fora do estabelecimento.
Na manhã de sexta-feira, Bolsonaro foi ao Hospital das Forças Armadas e, na volta, parou em uma farmácia, onde posou para fotos com apoiadores. Questionado sobre o comportamento contra o distanciamento social, respondeu: "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir".
A presença do presidente gerou aglomeração, justamente o que as autoridades de saúde não recomendam. As pessoas que estavam próximas se dividiram em relação à atitude. Parte gritou palavras de apoio, mas houve panelaços e protestos.
A farmácia fica no Sudoeste, bairro de classe média alta de Brasília. Em determinado momento do dia, Bolsonaro limpou o nariz no pulso antes de cumprimentar três pessoas, incluindo uma idosa. Mais tarde, o presidente postou um vídeo no Twitter e culpou a imprensa pela aglomeração.
População começa feriadão nas ruas
Secretários estaduais de Saúde apelam para as pessoas ficarem em casa e, em São Paulo, trabalha-se com com a meta de 70% da população em isolamento social. Especialistas dizem que a partir deste percentual os hospitais conseguem ter leitos e respiradores para todos os pacientes.
Mas a realidade está longe deste objetivo. O monitoramento de deslocamentos da população, feito com base nos dados de localização dos telefones celulares, mostrou que as pessoas foram às ruas na sexta. Em São Paulo, Santos (SP), Niterói (RJ), Florianópolis (SC), Manaus (AM) e outras cidades houve muita gente fora de casa.
No aeroporto de Guarulhos, uma fila virou aglomeração por causa do cancelamento de um voo da empresa Latam. Não houve cuidado por parte da companhia para fazer os passageiros respeitarem o distanciamento mínimo.
Na avenida Pedroso de Morais, na zona oeste de São Paulo, um carro da Polícia Militar vigiava quem corria, caminhava ou pedalava. Cada vez que avistava um grupo de pessoas muito próximas, a sirene era ligada para dispersão. Dava certo.
Mesmo assim, a cidade teve somente 45% de seus moradores respeitando o pedido de ficar em casa. No estado, a adesão à quarentena ficou em 47%. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que pode usar a força e até prender quem não respeite o decreto de distanciamento social caso o percentual não suba para os 70%.
A startup In Loco monitora quantos brasileiros estão ficando em casa e apurou que em nenhum estado o mínimo necessário para contenção da covid-19 é atingido.
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