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Homem que agrediu médico ao ser internado por precaução não tinha covid-19

Igor Kazuo Onaka: apesar da agressão, o médico não teve fraturas e passa bem - Simepar/Divulgação
Igor Kazuo Onaka: apesar da agressão, o médico não teve fraturas e passa bem Imagem: Simepar/Divulgação

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa

11/04/2020 15h32

O paciente de 40 anos que agrediu quarta-feira (8) um médico em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Curitiba após ouvir que seria internado por suspeita de covid-19 não foi infectado pelo novo coronavírus, segundo resultado de exames de sangue divulgado pela prefeitura da cidade ontem.

Ele havia desferido um soco no rosto do médico Igor Kazuo Onaka, chefe do plantão matutino da UPA. O profissional tentava acalmar o paciente, que se revoltou ao saber que os seus sintomas (falta de ar e quadro gripal) se enquadravam como possível infecção por coronavírus e que seria internado e transferido para uma unidade de referência para a doença.

"A sensação é de alívio. Deu negativo para covid-19 e influenza, assim como para HIV e hepatite que são doenças transmitidas pelo sangue", disse Kazuo ao UOL.

A equipe estava tensa porque, após saber que não poderia voltar para casa, o paciente se levantou da maca, arrancou os acessos venosos no braço e, sangrando, tentou cuspir e morder os médicos, segundo relatos da equipe. Ele só foi contido por guardas municipais. Entre os funcionários, havia a apreensão de que o homem poderia ter transmitido alguma outra doença.

"Pode ser um outro vírus respiratório, porém de menor gravidade, pois teve uma boa evolução", disse o médico hoje.

Apesar da resistência, o paciente foi transferido ao Hospital Evangélico, uma das unidades de referência ao tratamento de covid-19 em Curitiba, sendo liberado na tarde de quinta-feira (9).

Um boletim de ocorrências foi registrado na Polícia Civil contra o paciente, que não teve a identidade revelada.

Paciente disse que tinha outro compromisso

À Polícia Civil, o homem afirmou que não queria ser transferido porque tinha outro compromisso agendado: uma mudança de casa.

O homem será enquadrado por lesão corporal dolosa, ato que caracteriza a intenção de machucar a vítima.

Em depoimento, ele ainda negou que tenha cuspido e arremessado sangue nos médicos. O paciente responderá em liberdade um termo circunstanciado, que é um registro policial de menor potencial ofensivo. A pena é de dois meses a um ano de detenção.

Estamos sob pressão, diz médico

Kazuo, que supervisiona o plantão matutino da UPA do bairro Sítio Cercado, em Curitiba, afirmou que os profissionais estão atuando sob pressão em razão do aumento de número de casos de covid-19.

A sensação de ansiedade acaba sendo agravada por comportamentos de pacientes que revoltam dentro da unidade, comentou o médico.

"Todos estão trabalhando sob pressão porque está começando a aumentar o número de pacientes suspeitos. Todos estão com receio, ansiedade e sem saber se vai aumentar como em outros países. Em uma situação dessa, com um paciente tentando agredir a equipe, então, é algo repugnante", declarou.

Agressão é alerta na pandemia, diz sindicato

Segundo a secretária geral do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar), Cláudia Paola Aguilar, as equipes nas unidades de saúde adotaram o protocolo para pacientes suspeitos de infecção pelo novo coronavírus.

A representante da categoria aponta que uma eventual sobrecarga do sistema de saúde faça surgir novos casos de agressão.
"É primeira vez que um paciente com suspeita de covid-19 agride um profissional de saúde, mas isso acende um alerta porque o sistema pode sobrecarregar. Por enquanto não chegamos a esse ponto, como em outras cidades, que tem muitos pacientes para poucos recursos. Agora, isso pode se intensificar", comentou.

O sindicato relata que os profissionais envolvidos estariam sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, causando temor de contágio nesses tipos de situações em ocorrências futuras.

Secretaria repudia agressão e nega falta de EPIs

Em nota, a Secretaria Municipal de Curitiba e a Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas) "repudiam a agressão ao médico, se solidarizam com a vítima e lamentam a tentativa da entidade que representa os médicos de relacionar a violência à suposta falta de EPIs"

Os órgãos informaram que "demonstraram ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que seguem todas as normas do Ministério da Saúde para uso de EPIs, fato comprovado por laudos de inspeção dos Conselhos Regionais de Medicina (CRM-PR) e de Enfermagem (Coren-PR)".